Oclima de tensão não escapa a ninguém nos corredores da TVI, em Queluz de Baixo. E embora a grande maioria dos funcionários da televisão do empresário Mário Ferreira procure passar “entre os pingos da chuva”, num terreno de neutralidade, a verdade é que é impossível ficar afastado do tema que tem trazido algum mal-estar, a propalada guerra entre os dois gigantes da estação, José Eduardo Moniz e Cristina Ferreira. A administradora e diretora de Entretenimento e Ficção entrou em rota de colisão com o diretor-geral, tudo por causa do rumo que a TVI deve tomar. Esta é a principal discordância entre os dois responsáveis: a forma de olhar para a televisão.

PATRÃO METE ÁGUA NA FERVURA

O posicionamento extremado de ambos, que tem vários episódios e onde não faltam indiretas, fez com que Mário Ferreira se visse na obrigação de intervir na tentativa de pôr “água na fervura” e acima de tudo perceber os pontos de vista de Moniz e Cristina. Assim, o patrão da TVI marcou uma reunião com a apresentadora no restaurante Solar dos Presuntos, em Lisboa, e de seguida realizou um encontro com Moniz no bar do Hotel Tivoli, na Av. da Liberdade.

Mário Ferreira discutiu olhos nos olhos com cada um, ao contrário do que havia feito em fevereiro de 2022, quando mostrava com orgulho uma foto a jantar com os dois, celebrando a chegada de Moniz no que dizia ser um “brinde ao futuro”. E é para salvaguardar esse futuro que tem

nuvens cinzentas no horizonte quando se aproxima o 30º aniversário do canal que terá sido encontrado um entendimento. A TV Guia sabe que Mário Ferreira quer celebrar “pacificamente e com o brilho que a ocasião merece” as três décadas de histórias e sucessos da TVI. Por isso, não são admitidas batalhas “fratricidas”, ainda para mais entre duas das mais importantes pessoas da estação, apostas pessoais do empresário.

A GALA DA CONCÓRDIA

Assim, nos próximos tempos, pelo menos até 20 de fevereiro, dia do aniversário e da gala que a TV Guia pode avançar em primeira mão que se vai realizar na Aula Magna em Lisboa (os preparativos começam a ser discutidos numa reunião esta quinta-feira, dia 2), haverá um clima de paz e acalmia para o exterior. O ambiente é de festa e para tal é importante criar a narrativa de que – mesmo não sendo líderes de audiência – tudo está tranquilo dentro da TVI.

A grande questão é: será que Moniz e Cristina conseguem resistir à tentação, pousar as espingardas e cumprir com pedido do patrão? Isto enquanto, em surdina, podem reunir tropas para o seu lado? A estrutura da TVI entende que o momento é de passar a ideia de unidade

em torno de uma data importante que servirá como ponto de partida para o derradeiro assalto à SIC, com novos conteúdos a ir para o ar, a começar com a novela Queridos Papás.

OS “LOBOS” COM VISÃO ANTIQUADA

Mas é precisamente nestes novos programas que residem as principais divergências entre Cristina e Moniz, assumidas pelo próprio. A administradora considera que o diretor-geral tem uma “visão antiquada” da televisão e que é por isso que tem “procurado ressuscitar”

programas do passado, como A Máquina da Verdade (que já saiu do ar) e a novela Anjo Selvagem, um dos maiores êxitos da estação, entre 2001 e 2003. E Moniz também quer o regresso de Cristina às manhãs da TVI. Um caminho que ela não quer voltar a percorrer.

“Estou preparada para ir à guerra com os lobos da televisão. Se não chego a lado nenhum, há duas coisas que tenho de fazer: ou os assusto, os lobos também têm medo, e vão embora, ou vamos à guerra a sério. E depois é deixar ver quem é que sai mordido e quem é que fica”,

disse a Manuel Luís Goucha antes de embarcar para o Brasil, virando as costas à apresentação de Vai ou Racha, de Pedro Teixeira. ●