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“AS PESSOAS NÃO SÃO DESCARTÁVEIS”

TEXTO HUGO ALVES | FOTOS BRUNO COLAÇO

Separado há quase um ano o ator de 33 anos garante que viveu “coisas fantásticas” com todas as namoradas e mantém-se decidido a ser bem sucedido na arte onde entrou há 15 anos. Católico praticante, está a estudar para ser apresentador e sonha em ir para o estrangeiro

Anovela Para Sempre foi um projeto giro como ator? Foi muito interessante, ocupou pouco mais de um ano da minha vida, trabalhei com um realizador de que gosto muito, o Francisco Antunez, voltei a uma casa da qual faço parte, a TVI e a Plural, e tive uma personagem importante que aborda temas importantes, bíblicos e não só.

Preparou-se de alguma forma para fazer o Ruca?

Claro que sim. Eu sou católico praticante e até já fui a pé até Fátima. Já estive em Roma, tendo feito uma oração na capela Sistina. Porém, o Ruca é Testemunha de Jeová, uma vertente diferente da religião. E para saber o que estava a fazer tive que estudar e perceber quais as diferenças que há com o catolicismo que pratico. Debrucei-me mais sobre a Bíblia, porque eles prendem-se muito a ela e acho que aprendi com isso. E depois vi um filme do caso de uma criança que está perante a vida e a morte e que não aceita uma transfusão de sangue pelos seus ideais religiosos. Quis perceber o que leva uma pessoa a tal decisão.

Não tinha medo que a sua personagem fosse mal entendida?

Tenho tido um feedback muito positivo. Sei disso porque desde que a novela estreou falei com muita gente que pertence à congregação e percebi que a mensagem estava a ser bem passada. Embora saiba que podem vir a mudar de ideias à medida que a novela começar a aproximar-se do fim, pois ele vai viver um momento traumático que o vai fazer mudar. Mas isso é um risco como ator, não tive medo que me criticassem. É bom abordar temas diferentes.

Teve pena que o impacto da novela foi reduzido?

Nada tem a ver com o produto mas com as escolhas do público. O horário é difícil, mas acredito que a direção da estação sabe o que fez até porque os temas da trama são mais à antiga. A TVI foi líder de mercado uns 14 anos seguidos mas desde há uns anos para cá a SIC tem estado mais competitiva. Acontece. O que eu reparei e acho que todos reparámos foi que cada vez menos gente vê televisão da forma tradicional.

O quem tem feito desde a novela? Nunca mais o vimos no ecrã…

Acabei a novela e fui viajar. Andei por Bordéus, Milão, Florença, Roma, depois adotei uma cadela que se chama Liz e que me ocupou muito tempo. Também comecei a estudar Ciências da Comunicação.

Fazer o curso surgiu porque estava mais livre ou havia essa intenção? Este é o terceiro curso que estou: já estive em Gestão e Administração Pública, antes de ser profissional da representação, depois fui para a escola Superior de Teatro e Cinema mas nunca cheguei a acabar nenhum. Comecei a ter cada vez mais trabalho e era impossível conciliar. Congelei as matriculas mas foi graças a isso que consegui transferência para Comunicação Social no pós-laboral. Este curso estou a fazer por gosto e porque queria deixar a minha mãe feliz. Fiz-lhe a promessa de um dia tirar um curso superior e como bom filho que sou, achei que era importante. E cá estou eu. Só não fiz antes porque tive quase 15 anos de muito trabalho.

A pandemia ajudou ?

Sim, o primeiro ano foi via Zoom. Estava agravar a novela mas os horários conjugaram-se. Só tinha aulas a partir das 18h. Este ano estou presencialmente.

O que é que as pessoas dizem quando o veem?

O que sinto é que sou bem recebido pelos meus colegas. Lá por ser ser ator e estar na televisão, não quer dizer que não possa estudar e fazer outras coisas. E posso dizer que nem sou o mais conhecido. Um dos meus colegas, o Vasco Morgado é o presidente de uma junta em Lisboa [Santo António].

Para quem fez TV durante anos a fio, quase sem paragens, é estranho subitamente não ter o que fazer no pequeno ecrã?

Na pandemia sim, senti que houve um vazio porque poucas produtoras puderam trabalhar e o cinema e o teatro pararam. Aí abrandei. Esta pausa só dura desde outubro e não é grave. Já estava preparado. Estou ocupado: viajo, escrevo, estudo e brevemente vou ter novidades, uma série na RTP, baseada nas Histórias da Montanha de Miguel Torga. E aborda o tema dos judeus em Portugal. Mas entretanto já decidi também que quando acabar a licenciatura vou tirar um mestrado. Trabalha em Portugal há 15 anos. Nunca pensou em tentar a sorte lá fora?

Este ano candidatei-me ao Passaporte Lisboa 22 [evento da Academia Portuguesa de Cinema que coloca atores frente a frente com diretores de castings internacionais e que se realiza de 25 a 29 deste mês]…

Não tem receio de deixar cá o seu porto de abrigo, que é a sua mãe?

“Não quisemos esconder a separação. Só quisemos manter a vida privada. Uma coisa era se partilhássemos tudo nas nossas redes sociais. Não ia apregoar aos sete ventos que estava solteiro”

Sei que ela ficava bem. E se me for embora não será para sempre. Se não acreditar em mim ninguém vai acreditar.

Esteve muito tempo na TVI. Nunca pensou mudar de canal?

(risos) Sou grato a quem me dá trabalho, oportunidades e enquanto for assim está tudo bem. Mas o dia de amanhã não sei.

SOLTEIRO MAS FELIZ

Mantinha uma relação estável com Índia Branquinho há vários anos, que subitamente terminou. Foi duro?

Não. Foi tranquilo. E sim, somos amigos e por acaso a imprensa só descobriu 11 meses depois do final do namoro. Esconderam o facto?

Não quisemos esconder, só quisemos manter a vida privada. Uma coisa era se partilhássemos tudo nas redes sociais. Não era o caso. E não ia apregoar aos sete ventos que estava solteiro. Não faço carreira com quem deixo ou não deixo de namorar. Tento preservar ao máximo a minha vida pessoal.

Ela têm-se saído bem, até já representa…

Sim, e ainda bem. Porque ela tem jeito. Acima de tudo, para mim, as pessoas não são descartáveis.

O coração está aberto para novo amor? (risos) Para já está ocupado pela minha cadela Liz.

Não há espaço para mais nada? Há sempre, temos que esperar tudo de bom que a vida nos traga.

Quando se passa os 30 as exigências são maiores?

Sempre fui muito exigente comigo mesmo e com quem me rodeia. Faz parte de mim. Mas tive a sorte de ter tido ao longo da minha vida namoradas fantásticas e ter vivido coisas inacreditáveis... aprendi muito. E isso é o que uma pessoa pode levar da vida. E só tenho 33. O futuro só a Deus pertence, o resto não sei…

Não sonha em assentar?

Quando estou com alguém penso sempre em assentar. Mas acontece a toda a gente, as coisas acabarem. O importante é ficar tudo bem resolvido.

Os 30 mudaram a sua forma de pensar?

A maturidade trouxe-me coisas impor

tantes. Sinto que já vivi muito, fiz muita coisa, a maturidade dos 30 é boa. Não o assustou?

Não porque quando faço a barba não pareço ter mais de 25 (risos). E geneticamente não tenho propensão a ter queda do cabelo, nem cabelos brancos, por isso continuo sempre a ver-me ao espelho com o mesmo ar que tinha quando sonhava em ser ator e andava a correr atrás de castings, nomeadamente os cinco que fiz para os Morangos.

Já que fala dos Morangos, apesar de terem passado 15 anos, o Ricardo mantém uma amizade especial com o Lourenço Ortigão e com o Nuno Martins. Tenho mais amigos daquela altura. Mas nós somos genuinamente amigos e ajudamo-nos uns aos outros. Vamo-nos encontrando. Vivemos muita coisa quando éramos jovens e cometíamos erros. Conhecemo-nos no início de tudo.

E já voltaram a tocar juntos, como Os Tribo, mesmo com a ausência da Sara Matos?

Fizemos, sim senhor, foi giro. Mas foi só uma brincadeira.

A MÚSICA PODE ESPERAR

Recentemente fez um casting para apresentador. O que é que o levou a isso? Afinal é ator...

Estando no segundo ano de Ciências de Comunicação é óbvio. Quando entrei para este curso a minha intenção era ganhar mais ferramentas para ter mais opções de mercado na comunicação: ator, músico, produtor… e por que não apresentador? Eu que até gosto de estar à frente das câmaras. O sonho apenas surgiu mais tarde que o de ator. Gosto de novos desafios e ser empreendedor. Aliás, já tive uma experiência no Somos Portugal que correu bem. Houve uma altura que regularmente lançava músicas novas. Parou subitamente. O que aconteceu? Ficou sem ideias, sem tempo?

Uma vez tive um professor de arte que disse que todos os caminho vão dar à música. E está certo porque foi a primeira arte que me apareceu também. O que aconteceu desta vez foi que precisava amadurecer as minhas ideias. Antes dos 30, queria fazer muita coisa e tinha pressa em provar a mim mesmo que conseguia gravar a música, produzi-la, filmar o videoclipe. Mas com a pandemia e depois de colocar as ideias no sítio, de crescer e amadurecer, cheguei à conclusão que a pressa não ajuda à perfeição. Nunca deixei de fazer música e tenho o meu computador cheio de coisas novas, estou só à espera da altura certa. Até porque o mercado da música em Portugal não é fácil. E agora quero aprender a distribuir a minha música pelas plataformas, esse novo negócio, porque já percebi que exige muito estudo.

Mas pensa voltar à estrada?

Sim, sim. Estreei-me no Olga Cadaval [Sintra], já atuei em vários festivais de música., mas agora o meu foco não é ainda esse. Para já estou em estúdio à procura das minhas ideias, mas quero fazer algo com qualidade que não seja apenas comercial. A música pode esperar.

Muitos músicos inspiram-se nos desaires do passado, nos amores não realizados para escrever. É o seu caso? (Risos) Eu inspiro-me sempre em alguma coisa. Mas as minhas músicas não são autobiográficas. 

“Sempre fui muito exigente comigo mesmo e com quem me rodeia. Faz parte de mim. Mas tive a sorte de ter tido ao longo da minha vida namoradas fantásticas e viver coisas inacreditáveis”

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2022-05-12T07:00:00.0000000Z

2022-05-12T07:00:00.0000000Z

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