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Entre a pandemia E A EUFORIA

Agora que a vida vai regressando à normalidade, à normalidade possível, é forçoso lembrar que nem tudo está bem. A pandemia acentuou as desigualdades. Entre velhos e novos, entre ricos e pobres, entre o norte e o sul, entre as regiões desenvolvidas e os países do chamado Terceiro Mundo. Muitos dos ganhos sociais conseguidos nos últimos 20 anos perderam-se em apenas dois. A recuperação será igualmente desigual. Enquanto muitos países ocidentais têm taxas elevadas de vacinação, acima dos 80 por cento da população, como é o caso de Portugal, continentes há em que a vacinação está muito atrasada. Para conseguir a verdadeira normalidade, o mundo tem ainda um longo caminho a percorrer, no qual os valores da solidariedade serão testados no seu limite. O mesmo ocorreu na atividade económica. Alguns setores foram devastados, como é o caso da restauração e da hotelaria. Outros aguentaram melhor e até prosperaram. É o caso da indústria de conteúdos. Embora de forma diferente, e com diferentes implicações, estes dois anos de crise sanitária mostraram a força, a importância e o impacto dos criadores, produtores e distribuidores de conteúdos, qualquer que seja o suporte. Por efeito do confinamento, o consumo das televisões generalistas em Portugal (SIC, TVI e RTP) aumentou cerca de 600 mil espectadores por dia, mais de um quarto da média de 2 milhões até à pandemia. Pode dizer-se, sem qualquer exagero, que a televisão foi a grande companhia dos portugueses nestes tempos difíceis, cumprindo um papel social inestimável. Apesar de todas as dificuldades que os operadores passaram, e ainda estão a passar, é muito importante acentuar este facto. Um sentido agradecimento é também devido a todos os profissionais do setor, sem esquecer aqueles que infelizmente ficaram pelo caminho. Entre a pandemia e a euforia, o mundo assistiu à explosão do streaming, ou seja, ao consumo de conteúdos em plataformas digitais. A procura disparou, originando uma revolução ainda em curso. Dois exemplos, dos muitos possíveis. A Netflix ultrapassou os 200 milhões de subscritores e registou lucros pela primeira vez na sua história. A Disney lançou uma plataforma concorrente, a Disney +, e já angariou 60 milhões de subscritores, muito acima das previsões iniciais. A vaga de investimento neste setor é um dos maiores fenómenos de sempre, só tendo paralelo com os caminhos de ferro, no final do século XIX, com a indústria automóvel, a seguir à XX Guerra Mundial, e com a indústria petrolífera, mais recentemente. A criatividade e o talento, associados à tecnologia, estão a mudar o mundo, iluminando o caminho de uma sociedade global mais justa, mais solidária e mais partilhada. Apesar de todas as dificuldades, desta varanda, a varanda dos conteúdos, é possível olhar o futuro com algum otimismo.

VARANDA DA ESPERANÇA

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2021-10-21T07:00:00.0000000Z

2021-10-21T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281964610918519

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