Swarm, de Donald Glover

O TERROR, enquanto género, oferece transformações para comunicar o presente. Volta e meia há fenómenos como Foge ou agora este Swarm, que logo no início alerta que é baseado na realidade e que qualquer semelhança não é pura coincidência.

Donald Glover e Janine Nabers, os criadores, querem que o espectador saiba, logo no primeiro momento, que a estrela pop Ni’Jah, que sobrevoa a cabeça da protagonista Dre (Dominique Fishback), tem semelhanças com Beyoncé. Como se chega daí a uma história de terror? Só vendo Swarm e guiando nessa estrada sinuosa.

A protagonista da nova série de Donald Glover deu nas vistas em Show Me A Hero, brilhou depois em The Deuce e ainda participou no filme Judas e o Messias Negro

DOMINIQUE FISHBACK: UMA PROTAGONISTA EM ASCENSÃO

Na década passada, Dominique Fishback teve papéis ocasionais em séries que parecem ter sido escolhidas a dedo: The Knick, The Affair e The Americans. Contudo, foi em Show Me A Hero (HBO Max), 2015, que, pela regularidade, começou a dar nas vistas, por ser uma das personagens que vivia nos projetos habitacionais que foram tão caros a Nick Wasicsko (Oscar Isaac), o mayor de Yonkers, em Nova Iorque, conhecido pelas suas tentativas de reformar as habitações e o espaço onde os seus eleitores viviam.

A HBO acolheu-a novamente numa das suas séries-estandarte da segunda metade da década passada, The Deuce (2017-2019), sobre o tempo em que a Times Square estava muito longe de ser como a conhecíamos. Aí, Dominique interpretou Darlene, uma das prostitutas da série, que conquistou a audiência pela sua vulnerabilidade e candura.

A partir desta altura, o seu rosto tornou-se muito reconhecível. A carreira continuou a ser sobretudo televisiva, apesar de uma boa interpretação em Judas e o Messias Negro (2021) e de neste verão ser uma das caras do novo Transformers: O Despertar das Feras.

Em Swarm tem o papel principal, uma jovem sem rumo que não quer sair do imaginário da adolescência, presa ao encanto por uma estrela pop.

O DEDO DE DONALD GLOVER: DEPOIS DA COMÉDIA, O TERROR

Há gente que não para quieta e que mete a um canto aqueles que dizem que fazem muito. Donald Glover ganhou alguma popularidade com a série Community (2009-2014) e se fosse como muitos outros poderia ter ficado encostado à ideia de ator de comédia que degrau a degrau vai chegando a outros sítios. Mas, já se disse, ele mete muito dos outros a um canto.

Tem uma carreira paralela como rapper – Childish Gambino –, já organizou festivais de música, continuou a ser ator e acrescentou a esse papel cargos de produtor, realizador e argumentista. Além de ser pai de três crianças.

Foi assim que nasceu Atlanta (2016-2022), série de outro planeta que começa por andar à volta de Earn (Glover), um tipo

Com uma carreira paralela na música (como Childish Gambino), Donald Glover, criador de Atlanta, é um dos criadores de Swarm, que chega à Prime Video dia 17

que procura uma outra vida – digna – e que resolve ser uma espécie de agente do primo rapper, Paper Boi (Brian Tyree Henry), com uma carreira em ascensão. Na crew há Darius (LaKeith Stanfield), provavelmente a melhor personagem televisiva da última década.

Na segunda temporada de Atlanta, Donald Glover já começou a brincar com géneros e formatos, um dos quais o de terror. Agora é inevitável olhar para essa experimentação como ensaios daquilo que tenta fazer com Swarm. Da mesma forma que subverteu a comédia em Atlanta, tenta agora fazer o mesmo com o terror – e, arriscamos, com a realidade. ●