Sou daquelas: uma grande cadeia de hipermercados lança uma linha de produtos fitness e eu creio que, por obra e graça desses espíritos empreendedores, isso me vai motivar e tornar a mulher empoderada que acorda antes das 7h da manhã para transformar braços de esparguete em tríceps de fazer cair o queixo. Então, compro tudo.

Pesos de um quilo? Temos. Barra de chão para fazer flexões e fundos? Claro. Um kettlebell de oito quilos? Naturalmente. E um TRX? Mas eu seria doida de deixar passar a oportunidade de ter um TRX só meu? Mais consideração pelo meu eu fitness, por favor, meu eu lírico. Portanto, arredondando, tenho um ginásio em casa e, assim, uma casa de emocionar qualquer PT. E assim aconteceu na última quarta-feira.

Numa soma de generosidade e preguiça, eu não tinha tirado o que quer que fosse da sua respetiva caixa. Achei, no meio de um altruísmo que não se cansa de me surpreender, que aquele material de treino todo por desembrulhar seria uma espécie de Natal fora de tempo para o meu PT. Ele, que ama demasiado o que faz (quando se fala de 48 horas decisivas nunca se pensa nas que sucedem a um treino dele, mas devia), dar-me-ia razão em menos de 10 minutos.

Com tudo a postos, a tortura disfarçada de alegria começava.

PESO DE UM QUILO? TEMOS. BARRA DE CHÃO PARA FAZER FLEXÕES? CLARO. UM KETTLEBELL DE OITO QUILOS? NATURALMENTE

Para me distrair do sofrimento pegado que aquilo estava a ser, criei uma teoria: prefiro flexões em pé a flexões no chão porque perto do chão sinto que estou mais perto de me magoar. O meu PT com aspirações a Freud mandou-me pensar nisso, eu mandei-o passear e fui alongar.

Dia seguinte (dentro, portanto, das 48 horas decisivas) e eu a querer alongar até a alma mas a conseguir, no máximo, espreguiçar-me. Lugar público mais culpa católica e olhei para um amigo e disse: “Desculpa, preciso mesmo de me espreguiçar.” Ato contínuo: “Força, também estou a precisar.” Sem pesos na consciência, esticámo-nos. Mais soltos, concordámos: já estava na hora de se naturalizar o ato de nos espreguiçarmos em público. Os músculos gerais agradeciam. ●