Cofina

Ambiente

Alteram a qualidade da água, matam outras plantas ou animais e causam alergias. Falamos de acácias, jacintos-de-água e lagostins. São todos proibidos, mas estão a propagar-se sem controlo.

Por Íris Fernandes

Portugal falhou as metas para combater as espécies invasoras

Azuis ou violetas, os jacintos-de-água parecem inofensivos e podemos encontrá-los facilmente em canais, lagoas ou perto de barragens. Mas e se lhe dissermos que diminuem a qualidade da água, impedindo que esta seja utilizada para rega e pesca? E que além disso matam outras plantas, já que impedem que a luz e o oxigénio chegue às demais espécies, porque formam densos aglomerados de folhas e raízes à superfície da água? Esta é apenas uma das 341 espécies exóticas invasoras que existem em Portugal e que estão fora de controlo. Em comum, estas espécies, que podem ser plantas ou animais, reproduzem-se de forma numerosa e não são originárias do local onde se encontram. Muitas vezes, interferem com a biodiversidade e com a agricultura.

A Comissão Europeia não está nada satisfeita com o nosso país e vai até interpor uma ação contra Portugal no Tribunal de Justiça da União Europeia. Motivo? Acusam o País de não ter aplicado medidas de prevenção para evitar a propagação destas espécies. Além de Portugal, também a Bulgária, a Irlanda, a Grécia e a Itália enfrentam um processo.

A maioria das espécies invasoras de plantas que existem em Portugal foram trazidas propositadamente para a florestação ainda no século XIX e início do século XX. A mimosa, o eucalipto, o pinheiro-bravo e o cedro-do-japão são algumas delas.

Contribuímos para a invasão

A diferença é que quando foram implementadas tinham um objetivo: fixação de dunas e funções ornamentais. Depois, acabaram por se estabelecer, reproduzir sozinhas e espalharam-se. Agora, segundo a bióloga Elisabete Marchante sabe-se que estas têm “mais pontos negativos que positivos, por isso, existe uma luta constante para as manter afastadas”. Contudo, a investigadora do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e especialista em plantas invasoras alerta que ainda há muito desconhecimento. “Somos nós muitas vezes que as introduzimos quando plantamos no jardim uma planta invasora, contribuindo para a dispersar mais, apesar de não ser permitido”, diz. Na lista nacional de espécies invasoras destacam-se as plantas acácias, que alteram os solos, impedindo o desenvolvimento de outras árvores. Já plantas como as mimosas, as serralhas-brancas e as ambrosias causam alergias. As vespas-asiáticas matam as abelhas e o lagostim-vermelho-do-luisiana altera a qualidade da água e as características do solo. Por esses motivos é proibido comprar ou vender estas espécies. O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) confirma à SÁBADO que Portugal está a desenvolver mais de 13 planos neste âmbito, como por exemplo o plano de ação para o controlo do lagostim-vermelho-do-luisiana, da vespa-velutina (asiática) ou da rã-de-unhas-africanas. Contudo, as dificuldades que encontram são “sobretudo nos elevados custos de controlo/erradicação e posterior recuperação do habitat invadido”. Além disso, revelam que por serem várias espécies ainda há um grande desconhecimento de quem as propaga e da população em geral. ●

“SOMOS NÓS MUITAS VEZES QUE AS INTRODUZIMOS QUANDO PLANTAMOS NO JARDIM UMA PLANTA INVASORA”

Sumário

pt-pt

2023-03-16T07:00:00.0000000Z

2023-03-16T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/282806425541509

Cofina