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África

Por Ana Taborda

Os portugueses que fizeram fortuna antes do 25 de Abril

AS CONSERVAS ATLÂNTICO JÁ ERAM GRANDES QUANDO AINDA NÃO HAVIA BANCO NA BAÍA FARTA, ANGOLA

Tiveram os maiores barcos de Angola, fizeram corridas de carros em Jaguares, mandaram erguer igrejas com santos e bispos vindos da metrópole, a mesma metrópole de onde chegaram a enviar governantas para casas com ares condicionados instalados por portugueses. Na África de todas as oportunidades, alguns montaram negócios nunca vistos – como os pioneiros da cerveja e do whisky local –, outros enriqueceram com algodão, fazendas de gado e abacaxi ou conservas de atum.

Nos anos 60, quando a Baía Farta ainda não tinha sequer banco, José Domingues Antunes já pagava milhares de contos em salários aos funcionários da fábrica de conservas Atlântico. O dinheiro vinha de Benguela, a 35 quilómetros de distância, em duas camionetas que faziam vários serviços para a empresa angolana. Um dia, além do habitual pacote de notas, as famosas Austin e Scania trouxeram uma segunda embalagem, aparentemente igual mas recheada de carne – em vez de dinheiro. “Só que houve um engano e puseram o dinheiro no frigorífico e a carne no cofre. Isto aconteceu numa sexta-feira e na segunda toda a gente comentava o cheiro horrível que andava pelo edifício”, lembra divertido Armando

Cardoso, de 75 anos, antigo funcionário da companhia.

O patrão, um português de Proença-a-Nova, era “um pioneiro que vivia numa das melhores (e poucas) casas de primeiro andar de Benguela”. Um reclame da época anuncia que mandou construir aquele que chegou a ser o maior barco de Angola, o primeiro a congelar peixe em alto mar quando nas antigas colónias ainda ninguém o fazia. Foi também ele que, depois de uma viagem à Europa, decidiu importar uma caixa frigorífica de Itália para fazer igual na Baía Farta. “Levou-a para a carpintaria, mandou desmanchar e copiar. A primeira desfez-se toda na estrada. ‘Bem, vamos lá ver onde é que erramos e tentar de novo’, disse aos funcionários. E foi assim que começaram a circular camionetas com caixas frigoríficas na Baía Farta”, acrescenta Armando Cardoso.

Quando o Presidente da República Américo Tomás visitou Angola, em 1963, desembarcou no cais da empresa. “A Atlântico era, na altura, uma das maiores fábricas de conservas da África Austral”, garante à SÁBADO Alexandre Soares, sobrinho-neto de José Domingues Antunes. A primeira pescaria tinha sido inaugurada em 1940, nessa altura com barcos feitos de madeira portuguesa. “O meu avô cortava a madeira em Proença-a-Nova, a madeira ia de barco para Lisboa no rio Tejo e daí seguia para Angola. Foi assim que começaram a construir barcos de pesca. Mais tarde o meu avô, a minha avó e os filhos também foram para lá. No início viviam numa praia desabitada, a 20 quilómetros de Benguela, numa barraca de madeira. Depois começaram a pescar cada vez mais, a fazer barcos maiores e a madeira já não ia daqui. A dada altura separaram os negócios: o meu avô ficou com uma pecuária e o meu tio-avô com a pescaria” que transformou nas conservas Atlântico.

“Quando cheguei, em 1963, já era uma fábrica muito grande, com seis ou sete barcos de pesca de atum, duas traineiras e esse arrastão, a joia da coroa, que estava certificado para navegar no mar do Norte”, recorda Armando Cardoso. Ao lado da conserveira nasceu um estaleiro naval, depois uma carpintaria, várias oficinas e fábricas, salinas próprias e um bairro onde os trabalhadores viviam – os solteiros em quartos, os casados em casas com mobília, portas e janelas também elas fabricadas na Baía Farta.

Uma economia a crescer

Em 1967, quando adoeceu com papeira durante o serviço militar, Armando Cardoso pediu para ser retirado de Nova Lisboa para o hospital da Atlântico. “Estive lá um mês internado. Antes de fazer o hospital, o Sr. José Domingues Antunes já tinha oferecido um posto médico com condições para fazer pequenas cirurgias, como uma operação à

ANTES DE TER UMA GRANDE EMPRESA, JOSÉ DOMINGUES ANTUNES DORMIU NUMA BARRACA DE MADEIRA

apendicite, a Sobrainho dos Gaios, a terra onde nasceu. Pagava o médico, a enfermeira e a maior parte dos medicamentos.”

Anos mais tarde, além de Angola, a Atlântico passou a exportar para Itália e para os Estados Unidos e teve um representante na Beira, em Moçambique, onde a mulher do famoso jogador de futebol Eusébio, Flora, chegou a trabalhar, assegura Armando Cardoso. E em 1973, pouco antes da revolução, Domingues Antunes estava a negociar a compra de pelo menos dois helicópteros para fazer o balizamento dos cardumes de atum. “Em vez de os barcos andarem no mar a fazer isso, podia-se fazer uma busca por avião e depois transmitir aos navios. A compra não avançou por causa do 25 de Abril”, explica o antigo funcionário.

Até 1974, nada fazia prever que José Domingues Antunes – e muitos outros portugueses – abandonassem Angola e Moçambique, terras onde tinham feito negócios e fortuna. Como os muitos portugueses que para lá emigraram – entre 1940 e 1960 só a população de Luanda passou de 60 mil para mais de 220 mil pessoas – o dono das conservas Atlântico foi à procura de oportunidades que não encontrava em Portugal. E eram muitas: entre 1960 e 1970 a indústria cresceu sempre a dois dígitos e em alguns casos, como aconteceu com a extração de diamantes e de ferro, acima dos 170%. Foram tempos de criação de novas empresas, com muito mais capital investido (mais 600% entre 1960 e 1972). Uma época em que o PIB disparou – entre 1970 e 1974 Angola cresceu em média 7,8% por ano – e em que se assistiu ao nascimento de vários novos empresários. E de muitas histórias, como as que vai continuar a ler aqui.

O dono do Jaguar amarelo

Apesar de se ter feito rico, José Domingues Antunes não era dado a extravagâncias. Gostava de ir às termas ao fim de semana, mas não frequentava o Lobito Sports Club ou outros clubes onde os portugueses se juntavam, e continuou sempre a conduzir um Volkswagen Carocha. Já o pai de Francisco Guedes, que em Angola todos conheciam como Farrobilha Guedes, apaixonou-se pelas corridas de carros e pelo autódromo de Luanda. “Foi durante vários anos corredor de automóveis. Começou com um Triumph TR4, muito famoso na altura e depois teve um Jaguar amarelo. O meu pai e o Manuel Vinhas [o milionário dono das cervejas Cuca] tinham dos melhores carros de Angola”, conta o seu único filho.

Luís Farrobilha Guedes chegou a Luanda em 1961, numa altura em que ninguém sabia o que eram frigoríficos. “Nem havia rede elétrica, era preciso trabalhar a petróleo”, conta o filho. Ao fim de um ano, decidiu lançar-se por conta própria e abriu a Frigoríficos Polo Norte. “Um dos nossos maiores clientes foi o Estado português, através das Forças Armadas. Vendemos milhões de frigoríficos e de arcas congeladoras para o exército português em Angola. Para as messes, quartéis, para todo o lado. Em 1967 já tínhamos 95 empregados e em 1970 abrimos uma filial em Moçambique.”

Dois anos depois, voltaram a

“O MEU PAI E O MANUEL VINHAS TINHAM DOS MELHORES CARROS DE LUANDA”, LEMBRA FRANCISCO GUEDES

inovar: “Fizemos a primeira linha de montagem de ares condicionados totalmente angolana em Angola”, acrescenta o filho, que ainda se ri quando recorda um dos slogans da marca – “Durma com a Amana e durma melhor.” A mãe, Albertina, foi essencial para o sucesso da empresa. “Não pode falar do meu pai sem falar da minha mãe”, garante o filho. “Era ela que comandava as oficinas. O meu pai liderava a parte comercial.” Juntos construíram uma “fortuna considerável”, que além da casa no bairro de Alvalade, um dos melhores de Luanda, incluía um prédio de 16 andares que sempre arrendaram. “Todos os frigoríficos e ares condicionados que o primeiro Presidente de Angola [Agostinho Neto] tinha, era o meu pai que lhos oferecia. Eram amigos pessoais”, acrescenta.

O império de Manuel Vinhas

O apartamento que o empresário Manuel Vinhas mandou fazer em Luanda, no segundo piso da fábrica da Cuca, era um dos que à época já tinha ar condicionado. Quase de certeza fornecido por Farrobilha Guedes, adianta o filho. “Eram muito amigos”. Ao contrário de Farrobilha Guedes, Manuel Vinhas não vivia em Luanda, mas passava cerca de seis meses por ano em Angola. Tempo suficiente para lá ter não só motorista, mas também governanta. Era a Dona Gracinda, que se mudou de Lisboa para Angola, quem se ocupava da casa com seis suítes, casa de jantar e uma sala envidraçada

EM ANGOLA, CUCA ERA SINÓNIMO DE CERVEJA, MAS O SEU DONO, MANUEL VINHAS, PREFERIA BEBER VINHO

com ligação ao terraço.

Apesar de ser um dos homens mais ricos de Portugal, e herdeiro da fábrica de cervejas Portugália, foi em Angola que Vinhas mais fez crescer o seu império. Em 1972, no auge do império que construiu, tinha 53 empresas no País. Só a Companhia União de Cervejas de Angola (Cuca) dava emprego a 3.500 funcionários e faturava um 1,2 milhões de contos por ano (hoje mais de 300 milhões de euros). “Em 1952 iniciámos em Angola a atividade cervejeira e por isso legitimamente reivindicamos para nós o título de pioneiros de uma indústria que, passados 20 anos, ainda é a primeira indústria transformadora de

Angola”, disse

Manuel Vinhas na assembleia-geral anual da Cuca desse mesmo ano.

“Cerveja era Cuca”, garante à SÁBADO José Marques Leandro, 93 anos, que chegou a ser presidente da câmara de Nova Lisboa (hoje Huambo). “Havia três cervejeiras grandes em Angola: a Cuca, a Cristal e a Nocal. Mas só a Cuca era sinónimo de cerveja. Dizia-se muito: ‘Traz-me uma Cuca, mas de preferência Nocal ou Loira Tropical.” Não é que não se bebesse cerveja antes de Manuel Vinhas chegar a Angola – bebia-se, e muito – mas era importada e, por isso, mais cara.

Com o sucesso na cerveja, Manuel Vinhas foi abrindo novos negócios. Em 1965, para aproveitarem as borras que sobravam da produção de cerveja, começaram a produzir rações. Mais tarde tiveram participações em fábricas de caixas de cartão, de caricas e de vidro; produziram sumo de maracujá e vegetais, aventuraram-se na pecuária e na avicultura (com, em tempos, um milhão de galinhas); entraram nos meios de comunicação social de Angola. Além de casas e de um grupo cultural e desportivo, os filhos dos funcionários tinham direito a creche – um dos brinquedos era a primeira camioneta de distribuição de cerveja que o empresário teve em Angola. Vigiado pela PIDE desde que, em 1962 escreveu o livro Para um Diálogo sobre Angola, Vinhas nunca discriminou funcionários. Pelo contrário, conta-se ainda hoje em Luanda: quando percebeu que o bar América não aceitava negros ou mestiços, abriu outro, na mesma rua, com o cartaz “Servimos todas as raças”. Ali, só não se vendia vinho, a bebida preferida do maior industrial de cervejas de Angola, que já antes do 25 de Abril tinha uma das mais importantes fortunas portuguesas e uma das principais coleções de arte.

Nas 999 verbas listadas no inventário da sua herança, a que a SÁBADO teve acesso, cerca de 600 são quadros. Há duas colagens de Paula Rego, dezenas de quadros de Júlio Pomar (que fez o retrato do próprio Manuel Vinhas), Almada Negreiros, Cruzeiro Seixas, entre muitos outros pintores portugueses e estrangeiros.

Outra das suas grandes paixões eram as caçadas, que fazia em Angola, mas também em Moçambique. Chegou a viajar milhares de quilómetros de carro para perseguir ele

fantes, leões e muitos outros animais. Na época, os safáris liderados por portugueses duravam vários dias e tinham uma logística complexa. Numa das vezes em que foi a Moçambique com a mulher, Maria Alice Bustorff, que tratava por Concha, e os oito filhos, o camião que levava o material de apoio viajou 24 horas antes da família Vinhas.

Whisky made in Angola

Em Luanda, os fins de tarde eram muitas vezes passados nas esplanadas da Portugália e do Calhambeque, no bar do hotel Continental ou no Baleizão, famoso sobretudo pelos gelados. Além de imperiais e cervejas bebia-se muito gin tónico e whisky. Whisky que, a dada altura, também podia ser nacional. “O primeiro whisky de Angola foi feito por um português e chegou a ser exportado para a África do Sul”, lembra Marques Leandro. “Era o whisky mais barato que havia, mas era uma mixórdia. Bebia-se muito com Seven Up”, recorda Floripo Salvador,

HAVIA VÁRIAS EXPRESSÕES ASSOCIADAS AO WHISKY SBELL, COMO “SALAZAR BEBEU ESTE LÍQUIDO E LERPOU”

responsável pela publicação virtual

Recordações de Luanda. Marques Leandro concorda. “Era uma aguardente wiskada, mas não era grande coisa. A empresa chamava-se Sociedade de Bebidas Espirituosas do Lobito (SBELL), mas depois inventaram-se outros nomes a brincar com as iniciais [e com a qualidade da bebida]. Os mais famosos eram: Se Beberes Este Líquido Lixas-te e Salazar Bebeu Este Líquido e Lerpou”, lembra divertido.

Um dos principais sócios da SBELL era Mário Ventura, um português que teve uma grande projeção económica no Lobito, a cidade que na altura tinha o maior porto de toda a África Ocidental, lembra Marques Leandro. “Mandou vir um escocês, abriu umas caves no morro e começou a produzir”. Além do whisky, “Mário Ventura tinha grandes fazendas de sisal e uma empresa de torno e soldadura. Foi um indivíduo que enriqueceu muito”, conta à SÁBADO Jorge Briosa, que em miúdo acompanhava o pai nas idas à fazenda que o empresário tinha no Lubango, no Sul de Angola. “O meu pai era torneiro serralheiro, como eu, e às vezes passava lá mais de uma semana. O Zito Ventura tinha grandes plantações de sisal. Sabe como é o sisal? Parece aloé vera em ponto grande. Mas também tinha muitas plantações de algodão.” Um dia, decidiu fazer uma pequena barragem na fazenda. “Numa das explosões com dinamite houve uma pedra com uns 50 ou 80 quilos que caiu em cima do tejadilho do jipe, que estava a uns 100 metros. Julga que o Ventura se incomodou? Andou anos com o tejadilho do carro, um Chevrolet azul, metido abaixo. Desde que as portas abrissem…”

O velho Ventura era um colono à moda antiga, de poucos sorrisos, camisa balalaica, calção, meia alta e chapéu colonial. Tinha, além da SBELL, outra marca de whisky, menos conhecida mas de melhor qualidade, a Távola. “Mas mesmo o

whisky SBELL foi melhorando de qualidade com o tempo”, diz divertido Leston Bandeira, que foi diretor

da Rádio Comercial e ficou em Angola depois da independência.

Além de uma moradia na fazenda do Lubango, Mário Ventura mandara arranjar uma casa no centro do Lobito. “Era um casarão enorme. Ele vivia no primeiro andar e o rés do chão estava alugado ao Banco Pinto & Sotto Mayor”, controlado por António Champalimaud, acrescenta Jorge Briosa.

O prédio mais alto do Império

O crescimento da banca foi, aliás, um dos reflexos da aposta de Portugal em Angola e Moçambique. “O número de dependências e agências bancárias em todo o território angolano, que era de 17 em 1960 (pertencentes a dois bancos), foi acrescido, entre 1961 e 1968, de 91 estabelecimentos suplementares pertencentes agora a cinco bancos”, escreveu Adelino Torres em Estratégia Colonial Portuguesa e Estruturas Económicas de Angola nos Anos 1960 e 1970. Além do Pinto & Sotto Mayor, de António Champalimaud, estavam em Angola instituições financeiras como o Banco de Crédito Comercial e Industrial (BCCI), de Miguel Quina, que controlava um dos sete maiores grupos empresariais portugueses da época.

“O Miguel Quina era uma fortuna que tinha coisas lá, não era uma fortuna feita em Angola”, diz à SÁBADO o advogado Onofre dos Santos, que viria a ser ministro da Justiça de um governo temporário que juntou dois dos movimentos independentistas (UNITA e FNLA). Em 1975, Onofre dos Santos viajou clandestinamente com o empresário num velho avião Friendship – ambos queriam tentar regressar a Angola a tempo de assistir à proclamação da Independência. “Havia, ao fundo, na parte traseira do avião, um único banco, onde o Quina se amarrou e benzeu logo que os motores começaram a roncar no aeroporto de N’Djili, no ex-Zaire. Eu optei por me estender numa maca muito usada, que era o único objeto existente em toda a barriga vazia do avião”, descreve no livro Os Meus Dias da Independência. A viagem com o milionário Miguel Quina não era uma estreia para Onofre dos

A INAUGURAÇÃO DA NOVA SEDE DO BCA TEVE UM BOLO TÃO GRANDE QUE NÃO CABIA NAS PORTAS NEM NOS ELEVADORES

Santos: “Da primeira vez que voámos, já não me lembro porquê, ele ia com um camuflado seguramente feito em Paris [onde vivia]. Só havia dois camuflados assim em Angola: o dele e o do Jonas Savimbi.”

Tal como Miguel Quinta, também

Artur Cupertino de Miranda já era rico antes de investir nas antigas colónias. “Foi pioneiro da banca em Angola e em Moçambique. O banco de Moçambique foi uma derivação do Banco Comercial de Angola (BCA), o primeiro banco privado de Angola, criado em 1956.” A 28 de janeiro de 1967, o BCA inaugurou uma nova sede naquele que seria, durante anos, o maior arranha-céus do império, com 87 metros de altura e 26 pisos. Para o evento, a administração encomendou um bolo à pastelaria mais famosa da cidade, a Paris-Versailles, que tinha fama de fazer bolos em forma de edifícios, conta Rita Garcia no livro Luanda como Ela Era. “O bolo era tão grande que não cabia nas portas nem nos elevadores do BCA. Foi preciso descobrir uma forma de o içar para o terraço”, descreve. Para isso, teve de se pedir uma grua aos Serviços Municipalizados de Água e Eletricidade. Na inau

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