Cofina

Como é que as coisas estão?

Professor José Pacheco Pereira

Referi-me várias vezes às características do radicalismo, igual ao de sempre, mas novo nos seus instrumentos, e ao papel que ele tem, primeiro no contínuo políticos-comunicação social, depois na opinião comum. Ambos os elementos comunicam entre si, o radicalismo comunicacional tem como fonte o populismo político, mas também o crescendo do populismo entre os portugueses. As fontes dessas diferentes formas de populismo são distintas, mas convergem no mesmo sentido. Embora seja um processo que atinge todas as democracias, a verdade é que em Portugal há uma maior fragilidade dos mecanismos de opinião, politização do jornalismo ou seja mau jornalismo, e políticos demasiado de plástico e cuja fonte de poder é cada vez mais interna aos partidos e nada tem a ver com qualquer mecanismo de prestígio social. Tudo junto tem um efeito de erosão nos mecanismos da representação, crise nas mediações, e por fim, na própria democracia.

Os exemplos são quotidianos. Por exemplo, antes de se conhecerem os resultados da Inspecção-Geral de Finanças à indemnização pela TAP de uma sua ex-administradora, levantavam-se várias suspeições porque a IGF “dependia” do ministro e, por isso, não havia muito a esperar dos resultados da inspecção que não seria séria nem independente. Quando se conheceram os termos do relatório, como eles punham em causa o acto central desta peça, a indemnização, o seu valor e o comportamento de vários envolvidos no processo, o relatório passou a ser insuspeito.

Outro exemplo, é o da demissão da CEO da TAP. Antes de o Governo a ter demitido havia um clamor universal para que fosse afastada do seu cargo. Como o Governo a demitiu, passou a haver uma campanha a contrario, considerando abusiva essa demissão e centrando a atenção no custo eventual dessa demissão. O que antes era exigido, a demissão, com argumentos de que havia mais que justa causa, passou a ser considerá-la uma vítima política e ser duvidosa a aplicação da justa causa.

Qualquer uma das questões destes exemplos são susceptíveis de um saudável debate público. É legítimo suscitar dúvidas quanto à independência de uma instituição burocrática que depende de uma hierarquia de poder, o que é má-fé é esquecê-las mal saiu o relatório porque o resultado era favorável aos críticos. A mesma coisa com a demissão da gestora da TAP, o que mostra a politização é a sequência de críticas e de esquecimentos, sem lógica a não ser a praga da má-fé o principal mecanismo lubrificador da fronda da comunicação e de vários políticos da oposição.

Como é que as coisas estão? Estão mal, porque esta ecologia dos nossos dias vicia qualquer debate sério, dominado apenas pela lógica do binómio situação-oposição. ●

Opinião

pt-pt

2023-03-16T07:00:00.0000000Z

2023-03-16T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/282029036460933

Cofina