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Um banco “sem calções”

“É só quando a maré baixa que vemos quem estava a nadar nu”, disse o guru Warren Buffett. Os bancos SVB e Signature foram expostos pela subida dos juros – após o pânico sobram muitas dúvidas sobre os impactos seguintes.

Por Bruno Faria Lopes

Um banco diferente

O SVB era o banco das empresas de tecnologia e dos fundos de venture capital, que investem em novas empresas. O seu financiamento estava concentrado nestes clientes empresariais com depósitos muito grandes e, por isso, não protegidos pelo fundo de garantia de depósitos norte-americano, que cobre até 250 mil dólares (95% dos depósitos não tinham proteção). Estes depósitos triplicaram entre o fim de 2019 e de 2021. Ter mais depósitos é, em tese, uma boa notícia – mas não foi.

O primeiro erro fatal

O SVB não sabia o que fazer aos 189 mil milhões em depósitos, num ciclo de juros negativos e sem clientes a precisarem de crédito. Investiu então em dívida de longo prazo dos EUA, numa altura em que o risco de subida dos juros era claro. Quando a Reserva Federal subiu abruptamente os juros, o preço das obrigações que o SVB tinha caiu, abrindo um rombo potencial superior ao capital do banco.

As ondas de choque

O SVB caiu entre quinta (dia 9) e sexta-feira (10); na sexta, a pressão sobre os bancos mais pequenos era brutal e no domingo fechou o Signature Bank. Para travar o contágio, a FED garantiu todos os depósitos nos dois bancos e lançou uma linha de apoio aos restantes. A pressão diminuiu, mas sobram dúvidas. Uma: devem os bancos centrais temperar as subidas dos juros, zelando pela estabilidade financeira como pela inflação? Outra: dado o medo atual face ao risco, quem estiver a nadar “sem calções”, para citar o guru Warren Buffett sobre negócios sobre-endividados, arrisca-se a ser exposto. A procissão pode estar ainda no adro.

O segundo erro fatal

Os clientes empresariais usaram parte dos depósitos no SVB para irem pagando os seus custos numa economia mais desafiante, algo que o banco não previu. O SVB foi, assim, forçado a vender os títulos em que investira (e nos quais estava a perder) para pagar aos clientes, abrindo um rombo de 1,8 mil milhões de dólares. A perda sinalizou que algo estava mal. Investidores influentes no mundo das startups aconselharam, então, as empresas em que investiram a tirarem os fundos do banco. Pânico e saída ali à mão Daqui ao pânico foi um passo. As redes sociais não eram um fator na crise financeira de 2008, mas o colapso do SVB em 36 horas mostra como a rapidez de circulação da informação (e da desinformação) é devastadora. Para piorar as coisas, a corrida ao banco faz-se no smartphone: várias transferências avultadas do SVB foram feitas pelos clientes através da app.

A Semana

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2023-03-16T07:00:00.0000000Z

2023-03-16T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281767043455877

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