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Investigação

A construção de um lar financiada em 1 milhão de euros de dinheiro público, sem concurso, está parada e em tribunal. O empreiteiro é conhecido por deixar as obras a meio.

Por Ana Leal

Um milhão em verbas públicas para um lar com a obra a meio

Opasso é lento, o olhar de desolação. “Há meses que não vinha aqui, está tudo abandonado, nem uma mosca se vê!”, diz à SÁBADO Joaquim Raposo, presidente da Associação de Reformados de Fernão Ferro. A Instituição Particular de Solidariedade Social recebeu mais de 1 milhão de euros para construir um lar com capacidade para receber 63 utentes e prestar apoio domiciliário a mais de 40 pessoas. A obra, financiada com dinheiros públicos, está transformada num autêntico estaleiro. “Se não recomeçarem as obras rapidamente, nada do que aqui está se irá aproveitar”, diz, apontando para a estrutura de cimento e cabos elétricos ainda pendurados, que com as últimas chuvas se têm vindo a deteriorar. Devia estar pronto há mais de um ano.

A Câmara Municipal do Seixal (PCP) deu o dinheiro à Associação de Reformados de Fernão Ferro que, em vez de lançar um concurso público, aceitou a sugestão do então presidente da Junta, Carlos Reis, para entregar a obra a um empreiteiro da região, Cândido Martins, sócio-gerente da empresa Ilustre Função, já conhecido por deixar obras por fazer. “Vim a saber depois que já não tinha cumprido com outra obra em Paio Pires, a praça de Touros, mas o Carlos Reis não me disse nada. Hoje dificilmente acredito que não sabia”, diz Joaquim Raposo, que confirmou à SÁBADO ter sido o então presidente da autarquia, Joaquim Santos, a contar-lhe o caso de Paio Pires. “O que também estranhei. Tratando-se de dinheiros públicos, podia ter-me dito.”

À SÁBADO, o ex-autarca admite que a obra de Paio Pires não era um bom cartão de visita para a empresa escolhida, mas “a Associação de Reformados quis avançar com aquele empreiteiro e a câmara conformou-se”. No caso da praça de touros, trata-se de uma obra também financiada com dinheiros públicos, que terá custado à câmara do Seixal mais de 300 mil euros.

Já Carlos Reis, o ex-presidente da Junta, amigo do empreiteiro em causa, garante que à época era “o diz-que-disse, mas daí a ser verdade vai uma

O PRESIDENTE DA JUNTA FOI A UMA REUNIÃO CONVENCER A ASSOCIAÇÃO “A PAGAR ESSE DINHEIRO” AO EMPREITEIRO

longa distância. Sugeri esse empreiteiro, mas quem fez a escolha foi a direção da ARPIFF”.

E assim, Joaquim Raposo acaba por decidir fazer uma adjudicação direta ao amigo do amigo: “No início estava tudo a correr bem, até ao dia em que o empreiteiro me pediu mais 245 mil euros para instalar o ar condicionado e a eletricidade”, disse à SÁBADO o presidente da Associação de Reformados. A verba, diz, já estava incluída no orçamento inicial, mas Carlos Reis insistiu para que a tranche fosse paga. “Chegou a estar numa reunião da associação, juntamente com o empreiteiro, a tentar convencer a direção a pagar esse dinheiro. Já depois disso ligou ao vice-presidente da ARPIFF a pressioná-lo para pagarmos. Acabei por ficar isolado”, conta Joaquim Raposo.

Dinheiro entra, máquinas saem

O dinheiro acabou por ser pago. Nesse mesmo dia, a obra parou. Nessa altura, Cândido Martins já tinha recebido da Associação de Reformados de Fernão Ferro mais de 1 milhão de euros.

Joaquim Raposo decidiu assim avançar para tribunal: “Se calhar pensava que podia comprar tudo, porque tem dinheiro para comprar tudo, mas nem eu nem a instituição que represento estamos à venda.”

A empresa Ilustre Função tem também lesado particulares que entre

“SE NÃO RECOMEÇAREM AS OBRAS RAPIDAMENTE, NADA SE APROVEITARÁ”, DIZ O PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO

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2023-03-16T07:00:00.0000000Z

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