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LAST FOLIO, PELO FUTURO COM MEMÓRIA

Em digressão pelo mundo desde 2009, a exposição sobre as memórias da Segunda Grande Guerra chega ao MMIPO, mantendo-se no Porto até dia 20 de novembro.

Por Filipa Teixeira

NUMA DAS PAREDES do Museu e Igreja da Misericórdia do Porto (MMIPO) lê-se que uma testemunha não é somente quem vê e ouve e segue em frente, mas também quem não se consegue ir embora antes de o murmúrio das vozes cessar. “Nunca mais”, escreveu a antropóloga e historiadora brasileira Lilia Schwarcz sobre Last Folio, posicionando o visitante da exposição também como testemunha. De caminho, lembra-nos que não repetir os erros do passado é uma responsabilidade coletiva.

Neste ensaio de Schwarcz – um dos muitos que acompanha toda a mostra – está sumariada a razão de ser desta exposição assinada pelo fotógrafo Yuri Dojc e pela cineasta Katya Krausova. Numa procura de entendimento das suas raízes eslovacas, Yuri saiu do Canadá para reconstruir a

No dia 14 de outubro o museu receberá uma conferência aberta conduzida por Richard Zimler, embaixador da exposição em Portugal

memória cultural e social dos seus antepassados. Deparou-se com sobreviventes de uma cultura judaica quase extinta, que se encarregou de imortalizar com leveza através da sua lente, e cruzou-se com escombros magicamente preservados pelo tempo.

Um desses escombros foi uma escola judaica da cidade de Bardejov. Abandonada em 1942, manteve-se intacta durante praticamente 50 anos: “Quando lá chegaram, ficaram perplexos com o facto de a escola continuar exatamente igual ao dia da invasão”, contou à SÁBADO Pedro Nunes, o diretor do MMIPO. Yuri e Katya trataram então de retratar o espaço, focando-se essencialmente nos livros, objetos que, mesmo carcomidos pelo tempo e pelas traças, mantinham a tinta das palavras inviolada e as memórias intactas.

Last Folio, com as suas cerca de 40 imagens, tem essa subtileza incutida. As fotos foram todas tiradas com luz natural e não sofreram qualquer edição.

O documentário que acompanha a exposição põe em diálogo vídeos de arquivo com testemunhos do presente, glorificando a vida nascida dos destroços. O olhar que ela nos propõe não é fatalista, mas de vigilância atenta, informada e luminosa sobre o futuro. À luz do que se passa hoje na Europa, já não é coisa pouca. ●

gps | Exposição

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2022-08-11T07:00:00.0000000Z

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