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Cinema

Um judeu que perdeu a fé tem um terrível velório pela frente. Eis a premissa de The Vigil – O Despertar do Mal, que estreia esta semana para provar que o terror continua a ser um género amado e bem tratado pelos cineastas. Os fãs agradecem.

Por Pedro Marta Santos

Estreia do filme de terror The Vigil – o Despertar do Mal

NOS ÚLTIMOS anos, sobretudo por via da produtora Blumhouse – fundada há 22 anos por Jason Blum e à qual se devem A Purga, Sinister – A Entidade (um favorito pessoal), Insidioso, Get Out – Foge ou o excelente O Homem Invisível de Leigh Whannell –, mas também via distribuição da IFC Midnight

(O Senhor Babadook, Relic – A Presença), o cinema de terror ocidental tem feito jus à herança clássica de James Whale, Tod Browning, Val Lewton ou Jacques Tourneur. Mostrando dominar a primeira regra do género – o que não se vê é muito mais assustador que o visível –, o norte-americano Keith Thomas insere-se na linhagem com esta longa de estreia, The Vigil – O Despertar do Mal.

Não sendo propriamente uma obra-prima do novo horror, o filme conjuga os verbos transitivos do susto mas acrescenta-lhe a densidade histórica e religiosa do judaísmo, pátria espiritual do Golem – o medo costuma ser católico, e é interessante esta transferência para a cultura hassídica (os diálogos são em inglês e em iídiche).

Yakov Ronen (Dave Davis) é um jovem ex-membro da comunidade de judeus ortodoxos de Brooklyn, Nova Iorque, que perdeu a fé. Afastado e sem dinheiro para pagar a renda, resolve aceitar o repto, remunerado, de se tornar o shomer do recém-falecido Ruben Litvak, um sobrevivente do Holocausto. A shemira é o ritual – verídico – de vigilância de um cadáver, que não pode ser deixado sozinho durante a primeira noite após a morte, assegurando-se, com a leitura de salmos e passagens do Talmude, a transição da alma para o mundo do além. De acordo com a tradição, ela só acontecerá após o enterro. Yakov fica isolado no andar térreo da casa dos Litvak, guardando o corpo de Ruben, envolto num manto branco, mas um espírito maligno não facilitará a tarefa.

Dave Davis empresta autenticidade ao etos do projeto e o destaque não é tanto o exercício – competente – do negro, mas a forma como os complexos de culpa do velador e o passado traumático do velado tecem o diálogo sobrenatural, ultrapassando os constrangimentos do baixo orçamento.

Lançado no festival de Toronto de 2019, The Vigil – O Despertar do Mal demorou quase três anos a chegar às salas portuguesas. Será maldição bíblica? ●

Nesta longa metragem de estreia, Keith Thomas mostra que domina a primeira regra do terror: o que não se vê é mais assustador do que o visível

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2022-08-11T07:00:00.0000000Z

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