Eles não queriam guerra com ninguém e isso via-se ao longe, pela forma como se desviavam – com um acenar de “já vos vimos” – dos chapéus Sklum, das toalhas Futah e das geleiras Polarbox daquela praia-catálogo. Em menos de nada, os que ainda não se conheciam já se estavam a ver praticamente nus – e se isso não aproxima as pessoas, o que as aproxima?

O plano para aquele domingo era transformá-lo num dia perfeito (perfeito no santo sentido, não no sentido Lou Reed). O universo parecia achar boa ideia: a temperatura do ar estava acima da média, a da água estava na média e apesar de não termos temperado nada para o jantar, ideias não nos faltavam.

Sabem aqueles dias em que se chega a casa com o corpo moído da praia, os olhos já a negativo e a preguiça a querer divorciar-se da higiene, de tal forma que só a intervenção de uma prima afastada, a consciência, nos impede de ir para a cama com mais sal no corpo que as salinas do Samouco, Tavira, Rio Maior e Aveiro juntas? Esse era o dia para o qual nos preparávamos.

Decididos a experimentar as novas pizzas da praia, dividimo-nos: uns foram tratar de comprar bebidas e de pôr a mesa, os restantes foram tratar do takeaway. Menu por WhatsApp para cá, escolhas para lá, as caixas aterraram na mesa e levantaram uma questão: partilhar ou não partilhar?

Não sei quanto tempo durou a guerra mas não sobrou uma fatia para contar a história. De um lado o argumento era que partilhar acrescenta valor porque, experimentando de tudo um pouco, prova-se mais; do outro, o argumento era que só pede para partilhar quem não está confiante da sua escolha. E o mundo dividiu-se ali em quatro estações.

Estivemos nisto o tempo que as pizzas duraram. Algumas partilhas foram feitas e como amigo não empata amigo toda a gente ficou feliz (mesmo que desconfiada). Para terminar a cimeira, saímos em busca de uma sobremesa. Agora, nem me façam falar do filme que foi dividir os cartuchos de churros. ●

AS CAIXAS DE PIZZA ATERRARAM NA MESA E LEVANTARAM UMA QUESTÃO: PARTILHAR OU NÃO PARTILHAR?