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Rotinas

Os tempos de deslocação para o trabalho têm aumentado em três décadas, em países europeus, mas Portugal escapa.

Por Raquel Lito

Viagens entre casa e trabalho na Europa estão a ficar mais longas

Casa-trabalho-casa é uma rotina desgastante e poluente, pelas emissões de CO2 dos carros. Se isto já é mau, piora com a variável tempo, ou seja, os minutos perdidos nestas deslocações em 15 países da Europa, nas últimas três décadas (1990, 2000, 2010). Foi o que se propôs quantificar uma equipa de investigadores da Universidade de Saragoça, em Espanha, com base nos dados da European Working Conditions Survey (EWCS, Pesquisa Europeia para as Condições de Trabalho). A má notícia: a maioria dos trabalhadores – que recorrem a viatura própria (50% da amostra), assim como os utentes de transportes públicos (16%) ou que se deslocam de bicicleta (12%) – demoram mais a chegar ao escritório. A boa notícia: Portugal não está na cauda da Europa.

Vamos por partes: em Espanha, a média diária nestes trajetos foi de 31,6 minutos nos anos 90; subiu para 32,4 minutos em 2000; e continuou a aumentar até 2010 (34,5 minutos). Quanto ao Reino Unido, espante-se, lidera o ranking (de 46,4 minutos nos anos 90 passa para 49 minutos na última década), seguido da Dinamarca (47,1 minutos em 2010) e da Suécia (46,5 minutos em 2010).

Mais qualificados e stressados

Como é que os países desenvolvidos chegam a estes níveis, que se traduzem em engarrafamentos, gastos em combustível e nervos? A causa deve-se à deslocalização das empresas especializadas para as periferias. Quem perde são os trabalhadores mais qualificados –

O COORDENADOR DO ESTUDO SUGERE QUE PORTUGAL SEJA VISTO COMO UMA REFERÊNCIA

acrescem quatro minutos em Espanha, sete em Itália e nove na Grécia.

Tudo somado, um quinto dos profissionais europeus gasta 90 minutos por dia nestas viagens, desnecessariamente se a mobilidade urbana melhorasse (leia-se bons transportes públicos). É por aí que vai Nacho Giménez-Nadal, coordenador do estudo, em declarações à SÁBADO: “Um melhor planeamento político, com base em boas infraestruturas, faria com que os tempos de trajeto se otimizassem.” O caminho passa por trocar o carro pelo transporte público, reforça: “Poderia mitigar, parcialmente, os efeitos nocivos da deslocação de ida e volta para o trabalho [pela redução do trânsito e stresse dos condutores].”

Entre os 15, Portugal está bem posicionado. Até pode haver greves de transportes e atrasos recorrentes, que não interferem no global dos tempos (desceram de 36 minutos em 1990 para 25,8 em 2010). O especialista até sugere que sejamos vistos como referência, “em relação à distribuição do tecido produtivo, ao desenvolvimento das cidades e ao planeamento de infraestruturas”. ●

Sumário

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2022-08-11T07:00:00.0000000Z

2022-08-11T07:00:00.0000000Z

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