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AS AUDIÇÕES PARA PAPÉIS DE TEATRO, TELEVISÃO, CINEMA OU MODA SÃO UM ÍMAN PARA COMENTÁRIOS IMPRÓPRIOS. CARLA M

O“não” faz parte. Difícil é encontrar um ator ou modelo que nunca o tenha ouvido numa audição ou casting, onde a avaliação começa na ponta dos cabelos e vai até à ponta dos pés. Mas se o “não” faz parte, há comentários que vão longe demais. Reunimos histórias de castings que correram mal – e descobrimos que o que as une é, de facto, bastante mais do que aquilo que as separa. Todas partilham uma base: há muito preconceito sobre como devem ser os homens e as mulheres neste meio ▶

O MUNDO DOS CASTINGS ESTÁ A SER OBRIGADO A EVOLUIR: AS NOVAS GERAÇÕES NÃO ACEITAM OS INSULTOS

– magros, altos e bonitos. Será mesmo assim?

Todas estas histórias aconteceram no início de carreira dos visados, quando estes tinham 20 anos ou menos. Felizmente, as coisas estão a mudar. Quem o diz é Nuno Pinheiro, 33 anos, ator e diretor de castings desde 2015. “Nos últimos 15 anos, aumentou o número de pessoas que fazem parte desta indústria, a ideia de querer ser ator e modelo multiplicou-se. Hoje em dia as pessoas falam e impõem-se aos comentários negativos.”

Nuno não é o diretor de castings

pouco ético que diz “tens de ser mais homem”, mas sabe que, apesar de ser menos frequente, este tipo de abordagem ainda acontece. E explica os desafios com que se depara: “Num casting para uma família, por exemplo, temos de pensar em como aquele casal podia ter aqueles filhos. E as questões de representatividade importam. Se o cliente quer um homem, uma mulher e uma criança, tens que especificar quando não são brancos [porque acontece o cliente só querer pessoas brancas]. Ou imagina que tens uma campanha com 10 pessoas, fazes o casting e no fim a decisão está entre duas atrizes, uma negra e uma não negra. Consoante a decisão do cliente, sabes porque ficou uma e não outra.” Se há um género que é mais atingindo por comentários negativos, bullying e preconceito? Segundo Nuno Pinheiro, sim, a mulher tem a vida mais difícil – e a razão é o peso.

Com 16 anos, Nuno foi fazer uma audição para um filme com Patrícia Vasconcelos, 56 anos, diretora de castings desde 1989. “Fiz o casting

a saber que não ia ficar, mas queria conhecê-la e no fim ela disse-me: ‘Olha, não vais ficar, porque o teu perfil não tem nada a ver, mas acho mesmo que tu devias apostar nisto, ficas mesmo muito bem em câmara.’” Para o à época jovem ator, aquele momento seria o início da formação para aquilo que ainda não sonhava ser: diretor de casting.

A mesma Patrícia Vasconcelos diz à SÁBADO que defende desde sempre dois princípios no seu traba

O DIRETOR DE CASTING NUNO PINHEIRO DIZ QUE AS MULHERES SÃO ALVO POR CAUSA DO PESO

▶ lho: respeito e bom senso. Além de “tratar bem as pessoas”, agradece a disponibilidade: “Até porque sem atores não consigo fazer nada.” Mais: “A mim não me passaria pela cabeça dizer algumas coisas [como as que recolhemos juntos dos atores e modelos entrevistados para este artigo]. O casting traz alguma fragilidade, compete-nos proteger a pessoa o mais possível.”

O caminho é “difícil”, mas o objetivo de Nuno Pinheiro é simples: ajudar a deixar o passado de “humilhação” e momentos “constrangedores e difíceis” para trás, até porque sendo ator também já se sentiu alvo. “Numa situação estava eu e o diretor de casting e o técnico de câmara e senti-me humilhado. Não foram precisas palavras, os dois falavam com os olhares e com os sorrisos que trocavam.”

Para conseguir alcançar um bom ambiente segue uma regra em sala de casting: “A pessoa tem de se sentir à vontade desde que entra até que sai. A pessoa pode estar a fazer o pior trabalho do mundo, porque está nervosa, mas cabe-me a mim, enquanto diretor de casting e responsável pelo ambiente, criar o melhor ambiente possível.” ●

“O CASTING TRAZ SEMPRE FRAGILIDADE”, DIZ À SÁBADO PATRÍCIA VASCONCELOS

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2022-08-11T07:00:00.0000000Z

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