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Jô Soares (1938-2022)

O humor era a sua profissão, fosse no teatro, no cinema, na televisão ou nos livros, quase todos policiais. Conhecido como “O Gordo”, morreu na sexta-feira, dia 5, aos 84 anos

A “qui tem uma capelinha que eu fiz em homenagem a Santa Rita de Cássia, de quem sou devoto”, explicou Jô Soares enquanto mostrava, no programa Estrelas, o seu apartamento no centro de São Paulo. Não foi lá que morreu na sexta-feira, 5 de agosto: estava internado desde 28 de julho, não foi revelado porquê. Certo é que o humorista, que os portugueses conheceram na década de 80, quando O Planeta dos Homens e Viva o Gordo chegaram à RTP, já não ia para novo.

Filho único do empresário Orlando Heitor Soares e da dona de casa Mercedes Leal Soares, José Eugênio Soares nasceu no Rio de Janeiro, a 16 de janeiro de 1938, e viveu entre os 12 e os 17 anos com os pais na Suíça, onde pensou seguir a carreira diplomática. No entanto, de regresso ao Brasil foi ao palco que se dedicou: ainda adolescente, inscreveu-se em cursos de teatro e fez-se ator.

A estreia televisiva aconteceu em 1958, na TV Rio, no programa Noite de Gala, e em 1960 passou para a TV Record, de âmbito nacional, mudando-se para São Paulo. O seu primeiro êxito foi naquela que é considerada a primeira sitcom brasileira, Família Trapo, onde interpretava o mordomo Gordon. A TV Globo deu por ele e contratou-o em 1970.

Ao lado de Agildo Ribeiro, Paulo Silvino e Berta Loran, escrevendo, dirigindo e representando, tornou-se uma estrela graças a programas como O Planeta dos Homens (1976-1980), com o seu lendário genérico, da bela atriz a sair de uma casca de banana, ou Viva o Gordo (1981-1987), onde imortalizou personagens como o Reizinho, o Capitão Gay ou a cozinheira Aninha. Os episódios criticavam o puritanismo vigente e, veladamente, punham em causa a ditadura.

Vaidoso, foi sempre protagonista das suas criações. Em 1987, trocou a Globo pelo canal

SBT, para concretizar um sonho antigo: apresentar um talk show. No Jô Soares Onze e Meia provou que, além de humorista, era um grande conversador, entrevistando artistas, como Deborah Blando ou a Banda Eva, mas também políticos, como Collor de Mello. Até ao fim de 1999, recebeu quase sete mil convidados. Regressou à Globo em

MANTINHA COLABORAÇÕES COM JORNAIS, COMENTANDO A ATUALIDADE COM IRONIA, E ESCREVIA LIVROS

2000, com o Programa do Jô, no ar até 2016, em moldes similares. Dizia que a sua “grande vocação” era o “bate-papo”. Pelo meio, mantinha colaborações com jornais como O Globo e Folha de S. Paulo, comentando a atualidade com ironia, e escrevia livros. Estreou-se em 1995 com O Xangô de Baker Street, um romance policial que se tornou um bestseller, e voltou ao género em O Homem Que Matou Getúlio Vargas, de 1998, Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, de 2005, e As Esganadas, de 2011. Também fazia cinema (realizou O Pai do Povo em 1976), e stand-up: Um Gordo em Concerto, de 1994, passou mais de dois anos em digressão. De 1959 a 1979, foi casado com a atriz Therezinha Millet Austregésilo, com quem teve um filho autista, que morreu em 2014, com um tumor no cérebro. Relações com Sílvia Bandeira, de 1980 a 1983, e Cláudia Raia, de 1984 a 1986, ambas atrizes, precederam o amor com a designer gráfica Flávia Junqueira Pedras. Durou de 1987 a 1998, mas a ligação manteve-se: foi ela que, na sexta-feira, anunciou ao mundo a sua morte. ●

A Semana

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2022-08-11T07:00:00.0000000Z

2022-08-11T07:00:00.0000000Z

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