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Pecados mortais

Diretora Sandra Felgueiras

OPatriarcado não confirmou oficialmente se D. Manuel Clemente pediu a resignação do cargo na audiência privada que manteve com o Papa Francisco, a seu pedido, a propósito das “últimas semanas que marcaram a vida da Igreja em Portugal”. Mas esta simples frase do único comunicado que enviou às redações diz tudo. D. Manuel Clemente fez o que tinha de ter feito depois de se ter tornado público que o Patriarca terá ocultado uma denúncia de abuso sexual e que terá mesmo chegado a encontrar-se pessoalmente com a vítima, tendo decidido não denunciar o caso à polícia e ainda manter o padre no ativo.

A ser verdade (e ao que tudo indica é), D. Manuel Clemente tomou a única atitude moralmente exigível ao responsável máximo pela Igreja Católica em Portugal.

A Igreja Católica tem obrigação de realizar uma purga contra todos os sacerdotes que ao abrigo da fé e da moral cristã violam, não só crianças, mas o compromisso de honra que celebram no dia em que são ordenados. Esconder estes crimes, que tantas vezes começam em seminários, não mancha apenas a imagem da Igreja Católica. Condena-a a uma condição indigna e contrária aos valores que professa.

Da mesma forma, é absolutamente condenável que uma criança de apenas 5 anos permaneça em Luanda, às mãos de uma progenitora, que não trava os abusos sexuais dos seus amantes sobre a filha. Apesar das perícias médico-legais que o demonstram, apesar dos relatos pormenorizados que a criança faz, 10 meses depois a justiça angolana ainda não promoveu quaisquer diligências no âmbito do processo-crime que pretende averiguar se a infância de Maria lhe foi ou não roubada.

Marcelo Rebelo de Sousa já falou pessoalmente com o pai da criança, um português que tem lutado incansavelmente para salvar a filha, mas o próprio Presidente admitiu à Investigação SÁBADO que Portugal tem acompanhado o caso “em estrita observância do princípio da não ingerência na administração da justiça de um Estado soberano”. O que talvez Marcelo Rebelo de Sousa se esteja a esquecer é que a diplomacia não vale nada diante do sofrimento de uma criança, que ainda por cima é portuguesa, e que o país tem obrigação de defender.

Só que tal como nos casos de pedofilia na Igreja, Portugal não é diferente do resto do mundo. Normalmente, tarda é a descobrir as verdades difíceis que as elites conseguem ocultar.

Mas a verdade é mesmo como o azeite e, mais cedo ou mais tarde, vem sempre ao de cima.

Contratações descaradas

É por esta mesma razão difícil de perceber que o perdedor de eleições e promovido a ministro Fernando Medina tenha imaginado que nunca se ia descobrir (tal como revelamos nesta edição da SÁBADO) que pouco depois de Sérgio Figueiredo ter saído da TVI, lhe adjudicou 30 mil euros para realizar uma campanha promocional para a qual não teve sequer de contratar nem pessoal nem meios.

Agora, já como ministro das Finanças, Medina voltou a contratar o ex-diretor de informação da TVI, por ajuste direto como consultor para avaliar o impacto das políticas públicas junto do ministério que dirige. Ao todo, durante dois anos, Sérgio Figueiredo, que falhou a escolha para presidente do Conselho de Administração da RTP, vai encaixar mais 4.767 euros.

Se não cheira a favor, não sei a que cheira. Mas seguramente que há secretários de Estado deste governo que encontrariam o adjetivo certo para o descrever. ●

Da Diretora

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2022-08-11T07:00:00.0000000Z

2022-08-11T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281728388294468

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