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Cinema A estreia do segundo filme feito a partir da série Downton Abbey

Sequela do filme baseado na série sobre a aristocrática família Crawley e sua criadagem, Uma Nova Era chega aos cinemas esta

Downton Abbey é um divertimento no sentido musical, allegro ma non troppo, sobre a dinâmica interclassista de uma família aristocrática

A SÉRIE Downton Abbey (2010-2015), foi o produto audiovisual britânico de maior êxito em todo o mundo depois da adaptação de Reviver o Passado em Brideshead

em 1981, o que diz bastante sobre 1981 e 2010. Brideshead, a partir da novela de Evelyn Waugh, era e continua a ser um painel social, político e íntimo de qualidade literária sobre a geração perdida – entre a aristocracia e a hipocrisia libertária – do entre guerras. Downton Abbey é um divertimento no sentido musical, allegro ma non troppo, sobre a dinâmica interclassista de uma família aristocrática, os Crawley, do primeiro quartel do século XX na Inglaterra rural, com a sua troupe de pitorescos empregados.

A profundidade do comentário social do criador, o argumentista Julian Fellowes, ficaria reservada para uma década antes e para uma década depois da génese de Downton: em 2001 com Gosford Park, um exame radiológico à luta de classes britânica dos anos 30, disfarçada de whodunit sob a batuta de Robert Altman; em 2021 com The Gilded Age, a série da HBO igualmente assinada por Fellowes, de tensões corporativas e raciais que desnudam Downton Abbey como a formosa criatura que é – a Disneylândia da ficção histórica.

Mas não se julgue que o percurso dos Crawley, nesse idílio fantasioso do Yorkshire entre 1910 e 1926, é isento de qualidades. Se os abalos históricos ou as tragédias pessoais são sempre amenizadas pela resiliência de um sorriso, a atmosfera de época é imaculada e as personagens surgem escritas com uma empática sabedoria que só pode terminar na rendição do espectador. Downton Abbey

sabe que é diversão de topo, e exerce essa mestria como poucos, não lhe importando se os detalhes do melodrama jamais superam antepassados como A Família Bellamy

(1971-75).

Downton Abbey terminou quando já dava mostras de cansaço, mas tanto a legião de fãs como o potencial de rentabilidade não aconselhavam pausas longas.

O voo para as salas de cinema deu-se em 2019, com um

plot envolvendo uma visita da família real britânica à pro

priedade, uma tentativa de assassinato de Jorge V e uma paixoneta gay entre Thomas Barrow, o mordomo da família, e um servente real. Os resultados de bilheteira foram mais do que aconchegantes: 186 milhões de euros em receitas globais.

Esta semana estreia nos cinemas a sequela Downton Abbey: Uma Nova Era e as novidades são saborosas: Lady Grantham (Maggie Smith), a língua mais venenosa do condado, teve um amante há seis décadas que lhe deixou em testamento uma villa, entretanto disputada, junto ao mar no Sul de França, e metade do clã desloca-se à Côte d’Azur para apurar o imbróglio (será que isso porá em causa a paternidade de Lord Robert?); já os restantes Crawley, com o auxílio do pessoal da mansão – incluindo o supracinéfilo Mr. Molesley (Kevin Doyle) – terá de se haver com a equipa de rodagem de um filme mudo na casa, incluindo o realizador em vias de passagem para o sonoro (Hugh Dancy), a bomba loira de serviço (Laura Haddock) e o galã (Dominic West) que catrapisca… o mordomo gay. É tão esvoaçante e perecível como bolhas de champanhe. Mas quem não gosta de champanhe em maios temperados? ●

A série terminou quando já dava mostras de cansaço, mas os fãs e o potencial de rentabilidade não aconselhavam pausas longas. O voo para as salas de cinema deu-se em 2019

Sumário

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2022-05-12T07:00:00.0000000Z

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