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PASSÁMOS UMA SEMANA A USAR DETERGENTES CASEIROS, COM SAL, SABÃO DE AZEITE E LIMÃO – SÃO MUITO FÁCEIS DE FAZER

São fáceis de fazer e baratos – se não exagerar nos óleos essenciais. Mas modere as expectativas, a eficácia não é igual.

Por Lucília Galha e Alexandre Azevedo (fotos)

Vinte e quatro horas depois de começar, a experiência não colhe adeptos. O meu marido refila mal entra em casa. “Cheira a drogaria. Por favor, não aromatizes mais a casa”, diz-me, a torcer o nariz. O alvo da queixa é o aromatizador de ambiente de limão, 100% natural, que fiz na tarde do dia anterior. Não ligo, pelo contrário, até estou satisfeita – durante exatamente uma semana, a minha casa esteve, de facto, impregnada daquele cheirinho. Há, houve mesmo, coisas piores. Como o detergente de loiça de sabão de azeite que, além do cheiro (no mínimo, pouco agradável), não faz espuma. Resultado: fica uma certa dúvida se limpa mesmo ou não. Confesso que rapidamente voltei àquele cuja publicidade anuncia que basta uma gota. Nada caseiro, é certo.

Durante uma semana experimentei fazer os meus próprios detergentes, de forma completamente artesanal. Talvez valha a pena referir que não poderia existir pessoa pior para uma coisa do género: detesto limpezas, embora as faça quando é preciso, sou uma naba em experiências de química (daí ter escolhido as Humanidades) e não tenho especial predileção por produtos naturais – o que é pouco ortodoxo de admitir hoje em dia.

O ponto de partida foi o livro da farmacêutica Cátia Curica, chamado Limpeza Natural, editado pela Planeta. Trata-se de um manual de produtos “sem tóxicos, saudáveis, simples e baratos, à distância da nossa despensa e frigorífico”, anuncia a autora. Inclui várias receitas que vão do desinfetante de superfícies,

FICA A DÚVIDA SOBRE SE O DETERGENTE DA LOIÇA FUNCIONA – NÃO FAZ ESPUMA NENHUMA

CÁTIA CURICA DIZ QUE FAZER DETERGENTES É COMO FAZER UM BOLO DE CHOCOLATE: É PRECISO TESTAR

tira-nódoas ou lava-tapetes, ao desentupidor de canos. Há mais de uma década que a especialista se dedica à área dos cosméticos – tem uma empresa de cosmética biológica chamada Unii –; os detergentes caseiros surgiram por acaso. “Muitas vezes, em palestras, eventos e até nas lojas, as pessoas pediam-me produtos que pudessem fazer em casa para tratar a pele e, a certa altura, começaram a pedir-me também detergentes”, conta. “Para mim até é mais simples, porque as leis numa casa de banho são sempre as mesmas: peles e cabelos há muitos, mas não há uma receita que sirva para tudo”, compara.

A formação em Farmácia – que não exerce, pelo menos de forma convencional – ajudou. “Porque

isto é tudo uma junção de átomos e de moléculas”, explica à SÁBADO. Cátia Curica foi estudando e compilando ingredientes que serviam para diferentes coisas – como o bicarbonato de sódio que é usado em pasta de dentes, fermentos e também na limpeza

– e depois começou a testá-los. “É como fazer um bolo de chocolate, pode encontrar 10 mil receitas diferentes, mas nem todas resultam porque umas ficam muito secas, noutras faltam ingredientes que adocem ou que o façam ficar fofinho. Tem a ver com a ciência de trabalhar os produtos para resultarem”, diz.

À prova de totós

Não é tão difícil como parece. Na verdade, os detergentes são mesmo muito fáceis de fazer. “Se mostrar isto a uma pessoa de 70 ou 80 anos, elas vão reconhecer. Não é nenhuma rocket science, são receitas usadas desde sempre”, diz a farmacêutica. A premissa quando se fala de detergentes caseiros é usar coisas que temos em casa, como sal grosso ou vinagre. Justamente dois ingredientes que não existiam na minha: o primeiro, praticamente não uso (prefiro o sal fino); o vinagre, só tinha de vinho tinto. Ressalva: para limpar bem, o vinagre tem de ser mesmo ácido, o que funciona melhor é o de vinho branco, explica-me a autora – numa conversa introdutória antes de começar esta experiência.

Das 53 receitas disponíveis no livro escolhi seis que dessem para limpar o máximo de espaços possíveis da casa. Deixei duas coisas de fora: produtos para o chão, não fosse estragar o soalho flutuante com as minhas experiências, e para a roupa. Idem. Os selecionados foram: o lava-tudo multiúsos que, como o nome indica, dá para basicamente tudo (de lava-loiças a fogão, frigorífico e banheira); o detergente de loiça de sabão de azeite, para lavar à mão; o desinfetante de sanitas (que consiste numas pastilhas); o tira-nódoas para manchas de gordura e comida (útil sobretudo quando há uma criança em casa que chega todos os dias com a bata a parecer uma tela de Picasso); toalhitas multiúsos – para “quando se derrama alguma coisa e queremos limpar rapidinho”, descreve Cátia Curica –, e o tal aromatizador de ambiente de limão.

Se a ideia era ser sustentável, acho que falhei o objetivo logo à partida. Razão: para comprar os ingredientes e utensílios de que precisava – entre os quais, um funil, três recipientes com borrifador, até cuvetes para as pastilhas da sanita (o meu frigorífico tem dispensador de gelo e nunca precisei de nenhuma) – tive de me deslocar a cinco sítios diferentes. Vivendo eu nos subúrbios de Lisboa e ficando uma das lojas em Alvalade e a outra em Campo de Ourique – segundo o Google Maps, foram pelo menos 22 quilómetros, só no percurso de ida. O ácido cítrico, necessário para o tal desinfetante de sanitas

(parece que tem propriedades antibacterianas e antisséticas), foi o mais difícil de encontrar. Só o consegui na terceira loja de produtos biológicos e naturais em que entrei. Também andei à procura de uma esponja natural para lavar a loiça e nunca imaginei que houvesse tanta escolha. Parece que a mais parecida com a convencional (portanto, mais eficaz a reter o detergente) é feita de celulose e casca de noz – a que acabei por comprar, mas há outra feita à base de um vegetal da família dos pepinos e até esfregões feitos de garrafas biodegradáveis.

Demorei mais tempo a conseguir todas as coisas (precisei de uma manhã inteira) do que a fazer os detergentes. Agora percebo porque é que Cátia Curica me disse que costumava fazer estas receitas em família – tem dois filhos, um rapaz de 10 anos e uma rapariga com 7. Não há ingredientes tóxicos e a lógica é quase sempre a mesma: juntar tudo e misturar. Até para os desajeitados (entre os quais me incluo) é simples. Comecei pelo lava-tudo multiúsos sem percalços – o único senão é mesmo o cheiro a vinagre. Empesta a cozinha toda. O desinfetante de sanitas também é muito rápido de fazer, mas é preciso deixar secar ao ar durante quatro horas, nas tais cuvetes de gelo. A maior peripécia foi mesmo com o detergente da loiça: são

FUSCE FERMENTUM COMMODO LIBERO VEL LOBORTIS. MORBI GRAVIDA POSUERE MALESUADA. MORBI FAU

Sumário

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2022-05-12T07:00:00.0000000Z

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