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Consumo Para onde vão as compras que fazemos online e que devolvemos?

Para onde vai, afinal, aquele tapete que comprou online e que decidiu devolver? E as calças iguais, mas de tamanhos diferentes, que encomendou a mais porque não tinha a certeza quais lhe serviriam? As caixas de Legos, DVDs, máquinas de fazer pipocas ou até fraldas que saíram da sua casa novamente para o vendedor? Só nos Estados Unidos são devolvidos – a cada minuto que passa – 180 mil euros em mercadoria. Mercadoria que, muitas vezes, acaba diretamente no lixo: de acordo com um inquérito da americana Optoro, que gere devoluções de empresas, quase metade de 120

NUM INQUÉRITO A 120 EMPRESAS, QUASE METADE ADMITIU DEITAR FORA 25% DOS PRODUTOS DEVOLVIDOS

retalhistas admite deitar fora mais de 25% dos produtos.

Já aconteceu com a Amazon. A gigante norte-americana, segundo uma investigação emitida em 2021 pela cadeia britânica Independent Television News (ITV News), estava a destruir semanalmente mais de 130 mil dos produtos que lhe eram devolvidos. Entre eles, computadores, smart TVs, livros ou até iPads. Isto apenas num centro logístico localizado em Dunfermline, na Escócia. Denúncias idênticas foram levantadas em França e na Alemanha. Embora a retalhista garanta que segue uma política de “desperdício

zero”, preferindo revender, reciclar ou doar esses produtos a entidades de cariz social. Fonte do grupo sueco Ikea em Portugal garantiu à SÁBADO que “do total das devoluções que não estão em condições de ir diretamente para stock, conseguimos recuperar internamente mais de 70%, evitando que sigam para reciclagem”. Mas apesar de a empresa assegurar que boa parte dos artigos devolvidos que “não respeitem as condições de venda regulares” são revendidos na sua “área circular” (em segunda mão), perto de um terço das encomendas com reclamações vão para o lixo.

Há várias razões para isso. Primeiro, o aumento exponencial do e-commerce durante a crise pandémica – entre 2019 e 2021, mais de 60% dos utilizadores de Internet fez compras online e, só nos EUA, as devoluções cresceram 22% no último ano. A falta de espaço para armazenamento, a escassez de meios humanos e o aumento dos custos de transporte impeliram muitas empresas a destruir, sem verificação prévia,

NA IKEA PORTUGAL, 70% DOS PRODUTOS SÃO RECUPERADOS, “EVITANDO QUE SIGAM PARA RECICLAGEM”

os produtos devolvidos. Outras passaram a oferecer créditos ou vales de compras no valor dos “artigos indesejados”, para que os clientes não procedam à sua devolução física. Outras ainda oferecem os próprios produtos aos clientes. Porquê? Simplesmente porque fica mais barato.

É muita roupa

Em linha com o crescimento global do e-commerce, segundo um barómetro da Marktest realizado em 2021, perto de 56% dos portugueses fizeram compras na Internet. Roupa e calçado foram os produtos mais devolvidos. No caso da La Redoute Portugal, cerca de 11% das encomendas realizadas pelos clientes durante o ano de 2021 foram devolvidas. No topo dos produtos estão calças, casacos e vestidos. Já no que se refere ao setor “casa”, o top é ocupado por cortinados e tapetes. A empresa diz à SÁBADO que “a grande maioria” dos artigos devolvidos é posta no outlet físico. Também o El Corte Inglés assegura que tem “uma política de resíduos zero”. “Na maior parte dos casos”, revela fonte da empresa, “os clientes devolvem por causa dos tamanhos. No entanto, a percentagem média destes artigos não vai além dos 10%”.

Já quando se trata de artigos de “luxo”, a política de devoluções é muito mais apertada. A Stivali, conhecida loja multimarca situada na Av. da Liberdade, Lisboa, “não aceita a devolução caso os artigos não estejam no estado e na embalagem original ou tenham sido usados”. Segundo fonte da Stivali, “os artigos mais devolvidos são os sapatos. Ou porque não servem ou porque o cliente encomenda logo dois pares de números diferentes para devolver o que não lhe ficar bem”.

Segundo o relatório O comércio eletrónico em Portugal e na União Europeia, em 2021 o vestuário e o calçado foram os artigos mais procurados pelo cliente online português (69%), seguindo-se as refeições e os alimentos entregues em casa (46%). E, aqui, a devolução costuma invariavelmente rimar com desperdício.

Para Pedro Santos, “o desperdício alimentar é um problema para o qual o Continente, enquanto retalhista, tem um papel fundamental, contribuindo para dar o exemplo”. De acordo com o diretor de e-commerce da empresa do Grupo Sonae, “o reaproveitamento e redistribuição de alimentos, através de doações de excedentes alimentares a instituições de solidariedade social e de apoio a animais, faz parte do dia a dia das nossas lojas”. Em 2021, os colaboradores “também beneficiaram destes produtos que são disponibilizados nas áreas sociais das lojas”. Só o ano passado, terão sido reaproveitados nestas circunstâncias mais de 2,2 milhões de euros em bens alimentares, mas nem todos os alimentos podem ser doados ou consumidos por outras pessoas, admite Pedro Santos. Exemplos que acabam no lixo se os devolver? Bolos com creme, rissóis de camarão, peixe e carne vendidos ao balcão. ●

Sumário

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2022-05-12T07:00:00.0000000Z

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