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Kenneth Welsh (1942-2022)

Fez mais de 200 papéis e trabalhou com estrelas como Meryl Streep, mas foi Twin Peaks, em que interpretou o vilão Windom Earle, que lhe deu fama. Morreu aos 80 anos

Foi a ex-mulher, a também atriz Donna Haley, que lhe disse para ligar ao amigo guionista, Bob Engels, que estava a criar uma nova série, Twin Peaks: “Liguei-lhe mas não disse nada sobre o papel, apenas que estava em Los Angeles e gostava de estar com ele.” No dia seguinte apareceu nos estúdios e saiu de lá como Windom Earle, sem ter conhecido o realizador, David Lynch, nem lido uma linha do argumento. Já estava decidido que ele seria ideal para interpretar o vilão e Kenneth Welsh limitou-se a aceitá-lo.

Quando as filmagens arrancaram, pouco lhe disseram sobre a personagem – apenas que era um erudito que tinha ficado louco devido a traumas do passado e que deveria perseguir o agente Cooper, interpretado por Kyle MacLachlan, com quem em tempos trabalhava no FBI, como num jogo de xadrez. Teve então a ideia de usar, a cada lance, um disfarce diferente. Sim: a ideia de se mascarar (de motar, de senhor inglês) foi dele – e a série, que fez entre 1990 e 1991 e se tornou de culto, marcou o apogeu da sua carreira.

COMEÇOU COMO ATOR DE TEATRO NO CANADÁ, ONDE NASCEU, MAS FOI NOS EUA QUE MAIS TRABALHOU

Kenneth Welsh nasceu a 30 de março de 1942 em Edmonton, cidade da província canadiana de Alberta, e foi para Montreal estudar Representação, na National Theatre School, estreando-se em 1963 como ator de teatro shakespeariano no prestigiado Stratford Festival, em Ontário, e começando a fazer pequenos papéis para a televisão canadiana.

Só na década de 80 é que os produtores dos Estados Unidos, onde acabou por cumprir a maior parte da carreira, deram por ele: em 1984 entrou em Encontro com o Amor, ao lado de Robert De Niro e Meryl Streep, em 1986 reencontrou Streep e conheceu Jack Nicholson em A Difícil Arte de Amar, e só em 1988 entrou num episódio de

Twilight Zone, na sequela de Crocodile Dundee e em Uma Outra Mulher, de Woody Allen.

Depois de Twin Peaks foi requisitado para outras grandes séries – de Ficheiros Secretos em 1995 a Lei e Ordem em 1998 e Star Trek: Discovery em 2020 –, sem nunca deixar o cinema: em 2004 fez de pai de Cate Blanchett no biopic de Howard Hughes, O Aviador, de Martin Scorsese, depois brilhou no blockbuster apocalíptico O Dia Depois de Amanhã – na pele do vice-presidente dos Estados Unidos, gerando polémica por ser “demasiado parecido” com o verdadeiro, Dick Cheney –, e em 2007 entrou no filme da Marvel Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado.

Com uma nova série ainda por estrear, The Kids in the Hall,o remake de uma popular sitcom canadiana, que chega à Amazon Prime Video esta sexta-feira, 13, o ator – que praticava meditação, segundo os preceitos do guru espiritual Adi Da, morreu no dia 5 de maio, “pacificamente em casa”, aos 80 anos.

Foi Devon Welsh, o filho músico, que em 2013 o requisitou para o teledisco de Childhood’s End, da sua banda Majical Cloudz, que deu a notícia, no sábado, 7, nas redes sociais, chamando-lhe “gigante da representação” e sugerindo que os fãs brindassem à sua memória, vendo-o num dos mais de 200 papéis que interpretou ao longo de uma carreira de seis décadas. ●

A Semana

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2022-05-12T07:00:00.0000000Z

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