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Contra a violência e os discursos de ódio

Diretora Sandra Felgueiras

Há anos que a comemoração de títulos ou de jogos importantes fica terrivelmente associada à violência e, mesmo, a homicídios. Este ano não foi diferente. A morte de um jovem de 26 anos que pertencia à claque dos Super Dragões, assassinado por outro jovem da mesma claque, deveria obrigar-nos a refletir seriamente sobre o fenómeno.

O futebol é um espetáculo que desperta sentimentos inexplicáveis.

Já todos nos habituamos a ver imagens de adeptos transfigurados perante o resultado de um jogo. Avultam pelas televisões. Veem-se nos estádios, quando lá vamos. E perante o que nos entra pelos olhos dentro, já não se trata apenas de discutirmos a violência gratuita que, ano após ano, se tornou numa espécie de ritual a que todos nos rendemos com aparente indiferença.

A verdade é só uma e deixemo-nos do politicamente correto: as claques – tal como as conhecemos hoje – fomentam o incitamento ao ódio que é, por si só, crime e não deve deixar de ser punido com pena de prisão de 6 meses a 5 anos. Mas quando vemos adeptos transformarem-se em animais, mais parece que o campeonato da lei desaparece, dando apenas lugar a algo semelhante ao que se passava nas arenas romanas, para gáudio dos imperadores. Neste caso, felizmente, já ninguém aplaude, mas também ainda ninguém se incomodou o suficiente para pôr um ponto final a esta vergonha nacional que começa nas bancadas e continua fora dos recintos desportivos.

Esta passividade sistemática perante o inaceitável é um sintoma do que somos como sociedade: o tal País de brandos costumes que já foi desmontado num livro da socióloga Maria Filomena Mónica, mas que – desafortunadamente – teima em persistir com exemplos de impunidade e convívio fáceis.

O espetáculo de Putin no Dia da Europa

O maior ataque à Europa está em marcha há quase três meses. E logo, por fortuna ou azar, o Dia da Europa teria de ser assinalado pelo discurso de uma alemã, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, praticamente à mesma hora em que Vladimir Putin se dirigiu aos russos e, a partir daí, ao mundo, numa Praça Vermelha cheia, a pretexto do 77º aniversário da vitória da ex-União Soviética sobre a Alemanha nazi. Nada acontece por acaso. Enquanto, perante o Parlamento Europeu, Von der Leyen condenava a invasão da Ucrânia por parte da Rússia e reforçava a importância da União Europeia, Putin devolvia a hostilidade, acusando a NATO de não ter escutado os avisos que fez sobre os atropelos ucranianos na região de Donbass ainda em dezembro.

Esta é uma guerra sem fim à vista. Porque nem a Rússia nem a Europa – que apoia incondicionalmente a Ucrânia – admitem perder. E nenhuma das duas deseja outra guerra mundial, mas os esforços diplomáticos parecem, cada vez mais, inúteis.

Sem avanços decisivos no campo de batalha, o ditador russo oscila entre sinais de força e fraqueza. Mas a União Europeia também. E nem as Nações Unidas fizeram melhor ao mostrar uma imensa dificuldade em retirar civis de Azovstal.

Nesta dança prolongada de bombardeamentos indiscriminados, sentimo-nos todos encurralados entre uma guerra duradoura e uma paz que tarda em chegar. Entretanto, em Portugal, a maior vaga de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial vai seguramente dar origem a mais escândalos, como o que foi revelado em Setúbal. Com um SEF altamente debilitado, à espera da extinção, câmaras municipais que funcionam, muitas delas, sem rei nem roque, e um Governo que age em função das conveniências, o que se pode esperar senão casos e mais casos que, no limite, só nos envergonham perante a Europa e o mundo? ●

Da Diretora

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2022-05-12T07:00:00.0000000Z

2022-05-12T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281706913275186

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