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JOSÉ PACHECO PEREIRA

Professor José Pacheco Pereira Texto escrito segundo o anterior acordo ortográfico

As correntes socialistas nos primeiros 50 anos do século XIX tinham todas em comum a ideia de que o liberalismo não chegava para resolver os problemas sociais. Na verdade, o socialismo é posterior ao liberalismo e cresceu da verificação das suas insuficiências para criar uma “justiça social”

O Socialismo como reacção ao Liberalismo

O socialismo como corrente ideológica e política cresceu na Europa como reacção ao mundo do laissez faire, laissez passer, nos momentos iniciais da revolução industrial, com todas as violências que lhe estão associadas: trabalho infantil e das mulheres em condições degradantes, inexistência de quaisquer mecanismos de protecção social, horários de sol a sol, fábricas insalubres e populações que vinham dos campos amontoando-se em casebres (como os das nossas “ilhas”) sem as mínimas condições. Os primeiros socialistas foram também os primeiros a documentar a “condição operária” e a tentar, muitas vezes de forma filantrópica, melhorar as condições de trabalho, como fez Owen. Marx e Engels consideravam estes esforços “utópicos”, propondo uma teoria “científica” da economia e da sociedade capitalista, mas as correntes socialistas nos primeiros 50 anos do século XIX tinham todas em comum a ideia de que o liberalismo não chegava para resolver os problemas sociais. Na verdade, o socialismo é posterior ao liberalismo e cresceu da verificação das suas insuficiências para criar uma “justiça social”. Muita água correu debaixo das pontes do socialismo e do liberalismo, e quer um quer outro mudaram em muitos aspectos. A experiência do marxismo e, depois, do comunismo levou à fractura com o socialismo democrático, a social-democracia. O mesmo aconteceu com o liberalismo, que nas suas formas mais extremas se tornou muito minoritário e, quando foi influente, conduziu a desastres consideráveis como a relação dos economistas da escola de Chicago com a ditadura chilena e a experiência dos seus discípulos na ex-URSS, com os vouchers cujo papel na criação dos novos oligarcas russos foi fundamental.

Claro que este resumo é muito simplista, mas não é errado nas suas linhas fundamentais. ●

Os aspectos invisíveis da campanha

Os locais de afixação dos cartazes revelam a quem os partidos se dirigem. E quase todos se dirigem às mesmas pessoas, à classe média que anda de carro. Podem ser “de boca” partidos de “trabalhadores”, mas os votos que pretendem conquistar estão noutro lado. Os cartazes concentram-se nas rotundas e nas vias rápidas, com toda uma campanha feita para quem anda de carro. Mesmo locais onde circulam as pessoas que usam os transportes públicos, por exemplo, os comboios, em que muitos trabalhadores vêm de manhã para o trabalho, não são locais preferenciais, o mesmo em relação às grandes superfícies comerciais. ●

A excepção: Iniciativa Liberal

Como tem vindo a acontecer, a campanha da Iniciativa Liberal é a mais pensada, a de maior conteúdo político, e a mais imaginativa. Há tentativas de a imitar, como faz o CDS, mas é patética a diferença. Os cartazes da IL encontram-se nos sítios onde as suas palavras de ordem ganham maior sentido. Por exemplo, junto de hospitais e escolas, refere-se a “liberdade de escolha”, junto de bombas de gasolina, o papel dos impostos no preço dos combustíveis. ●

A pior campanha: o PS

A campanha do PS começou da pior maneira, com uma série de cartazes que pretendiam mostrar a “obra” dos governos socialistas. Todos eram muito maus, graficamente e politicamente, sem clareza e com mensagens confusas. Depois entrou António Costa apelando a si próprio e aos que com ele vão “juntos”. Também é pobre e vazio de conteúdo. ●

O partido negacionista: a Alternativa Democrática Nacional (ADN)

A Alternativa Democrática Nacional (ADN) é o único partido claramente negacionista. Nos partidos da extrema-direita, o Chega e o Ergue-te, usam claramente temas e palavras de ordem negacionistas, mas nenhum até hoje centrou a sua campanha no negacionismo como a ADN. A ADN não é um partido novo, é o resultado da captura do Partido Democrático Republicano (PDR) fundado por Marinho Pinto em 2014. Aliás, como o Ergue-te, que era o Partido Nacional Renovador (PNR), que tinha “comprado” o moribundo Partido Renovador Democrático (PRD) fundado por Eanes. Este tipo de processos pelos quais um partido novo se cria a partir da “patente” de um já previamente existente, sem ter por isso necessidade de arranjar as assinaturas para fundar uma nova organização, tem sido permitido pelo Tribunal Constitucional.

A ADN tem colocado cartazes com o tema único da resistência às medidas de controlo da pandemia, o uso de máscaras nas crianças e a eventual vacinação obrigatória, e os seus dirigentes têm uma presença destacada em todas as manifestações negacionistas, onde muitas das bases do Chega também estão presentes. São realidades políticas novas, numa altura em que muita coisa está a mudar sem darmos por ela. Não são muitos, mas existem e estão na rua, local a que dão importância, que os outros partidos tendem a desprezar. ●

Sumário

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2022-01-20T08:00:00.0000000Z

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