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ONDE ANDAM OS COALAS?

São cada vez menos e mais difíceis de encontrar. Uma equipa de investigadores procura arranhões e marcas de dentes em árvores.

Por Ana Taborda

Com cérebros pequenos e movimentos lentos, os coalas não são a espécie mais expedita a fugir de ameaças – mas são especialistas em passar despercebidos. Um exemplo? Só em 1803, 15 anos depois de terem chegado à Austrália, os colonos britânicos avistaram os primeiros animais desta espécie, três coalas capturados por aborígenes e entregues ao governador do estado de New South Wales. Nessa altura, haveria cerca de 10 milhões de coalas espalhados pelo país. Um número que começou a cair com as caçadas, que no século XX se tornaram comuns – na maior que se conhece, em Queensland (1927), morreram pelo menos 600 mil em apenas um mês. Com o fim das caçadas veio uma epidemia de clamídia (uma doença sexualmente transmissível), a desflorestação e os violentos incêndios de 2019 e 2020. Resumindo: hoje a espécie está reduzida a 50 mil animais, um terço do que havia em

HÁ REGIÕES DA AUSTRÁLIA ONDE O NÚMERO DESTES ANIMAIS NÃO ULTRAPASSA CINCO A 10

2018. Se nada for feito, podem entrar em extinção antes de 2050.

E como é que se descobrem os pequenos animais de pelo cinzento felpudo que ainda resistem? É isso que os investigadores australianos tentam perceber. Durante semanas, uma missão perseguiu o seu rasto numa das zonas mais selvagens do país, o parque nacional Kosciuszko. Procuraram qualquer vestígio da sua presença: arranhões e marcas de dentes em troncos de eucaliptos (os coalas alimentam-se destas folhas e os seus vestígios podem indicar a que árvores subiram) ou até fezes. Colocaram, além disso, gravadores de áudio em 80 locais – os sons foram depois enviados para um laboratório em Sydney e analisados por um software especial para lhes reconhecer a voz. Ainda há esperança, dizem. “Ouvimos muitos, muitos coalas”, admitiram os investigadores ao The Washington Post.

Os 60 mil coalas mortos

Durante esta missão perceberam, também, que depois dos incêndios que entre 2019 e 2020 mataram 3 mil milhões de animais, incluindo cerca de 60 mil coalas (em algumas regiões, a população está reduzida a 5 ou 10 exemplares), esta espécie passou a percorrer distâncias mais longas para se alimentar. Problema: também gastam mais energia, o que pode ameaçar a sua sobrevivência.

O Jardim Zoológico de Lisboa foi uma das entidades que quis ajudar a Austrália depois de um dos mais devastadores desastres ambientais da História. Nessa altura, o staff e os voluntários começaram por recolher dados manualmente, preenchendo os documentos sem regras comuns nem coordenadas; também usaram aplicações de telemóvel, que se revelaram muitas vezes inúteis (não funcionavam em zonas remotas ou em alguns modelos de telemóvel). Através de Portugal chegaram os Trimbles, um instrumento de georreferenciação que alegadamente sobreviviam a quedas em rios ou rochas. “Felizmente ainda não testámos essas características”, lê-se num comunicado da Science for Wildlife. ●

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2022-01-20T08:00:00.0000000Z

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