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Vem aí a mudança. Mas qual?

Jurava-me um candidato frustrado às presidenciais de 1976: “Meu Caro Amigo, hoje, no bar X, toda a gente que me viu diz que vai votar em mim.”

Não me disse nunca se as opiniões tinham sido recolhidas antes ou depois do cocktail. Mas se a família não o tivesse dissuadido docemente, começaria a angariar apoios, e acabava a fazer figuras tristes.

Só há duas formas de prever o voto de dia 30: de maneira impressionista, falando com amigos em sítios seletos, ou analisando e comparando dados estatísticos.

Podem apontar-se muitos defeitos “técnicos” às sondagens: má formulação, impreparação e insuficiência de inquiridores, amostra limitada ou deficiente, tratamento e interpretação desadequada dos resultados, cálculo errado das margens de erro, e até amadorismo de algumas instituições, mais habituadas a estudar gostos de sabonetes no mercado do que decisões políticas fundamentais.

Por outro lado, os estudos mais completos possuem dados para os quais não há, muitas vezes, paciência na análise.

Por fim, temos elementos adicionais da dúvida, incluindo a possibilidade (não detetada, dado que não há polígrafos de serviço neste ramo) de ocultação sistemática da verdade pelos respondentes, ou a simples recusa de colaborar. Como se viu no caso americano, isto levou a que, inconscientemente, os inquiridores acabassem a ouvir só pessoas do mesmo parecer.

Por fim, claro, há o espectro sinistro das manipulações e das auscultações falsamente independentes, na realidade encomendadas por alguém.

Uma das formas de contornar o

problema, do ponto de vista do intérprete, é a comparação exaustiva de sondagens e dados nelas contidos, e uma atenção cuidada aos inquéritos que parecem tecnicamente mais desenvoltos (incluindo pela história de realizações da entidade sondadora).

Há 18 sondagens publicadas desde as eleições autárquicas, e alegadamente mais dois inquéritos de opinião promovidos por embaixadas.

Das análises, salientam-se aqui as que possuem maior amostra (nalguns casos o dobro da concorrência), e que foram realizadas pelo CESOP/UCP.

Nestas, o PS aparece com 37 a 39% dos votos, e o PSD com 30 a 32%.

É uma pequena subida de António Costa em relação a 2019 (quando teve 36,3%), insuficiente para um governo sozinho.

Ficaria a 3 deputados da maioria absoluta (8 em 2019), mas não se o resultado fosse 37/32.

Nos cálculos do sistema proporcional com método de Hondt, poderá pensar-se na maioria absoluta logo aos 41%, mas com um voto bem distribuído e o maior partido da oposição a mais de 10/15 pontos de distância.

As mesmas sondagens, no entanto, mostram um PSD bastante acima do pálido resultado de 2019: 32% (na hipótese melhor) em vez de 27,8%, embora longe dos 38,6% de 2015, em coligação.

Parece assim confirmar-se um movimento geral de mudança. Mas com que intensidade?

Nos outros partidos, a “esquerda” perde 4,8% em relação a 2019, e a “direita” ganha 7,2%.

A primeira queda deve-se às descidas substanciais do BE. A segunda vantagem agrega partidos provavelmente não somáveis (como IL e CH), e só não é maior por causa do tombo do CDS (-2,2%).

Nas mesmas sondagens o Livre parece irrelevante, com 1% dos votos, mas o PAN voga ainda entre os 2% e os 3%. Próximo de 2019.

Os inquéritos da CESOP/UCP referem ainda 3% de votos noutros partidos minúsculos.

Mas há grande incerteza quanto à transformação de todos os números por causa da abstenção (51,4% em 2019, uma enormidade em legislativas) e pelos substanciais indecisos (ainda cerca de 30%).

Salvo melhor opinião, tudo se decidirá assim pelos pequenos.

Se estes conseguirem provar-se “úteis”, e manter ou aumentar as expectativas da sondagem, impedem a maioria absoluta de alguém.

Mas não o “Bloco Central”.

Este tem outros cálculos: pode ser um governo a dois (impensável com estes atores, a não ser face a uma catástrofe), ou um mero – mas extenso – acordo parlamentar de cavalheiros.

Ou mesmo de ex-arruaceiros. ●

Opinião

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2022-01-20T08:00:00.0000000Z

2022-01-20T08:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/282432762528018

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