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Boris Os casos e as festas do primeiro-ministro britânico

Não há nada mais constrangedor para um político do que ver-se forçado a apresentar um pedido público de desculpas. O inquilino do número 10 de Downing Street, pessoalmente ou através do seu gabinete, teve de o fazer, não uma, não duas, mas três vezes na viragem do ano. Resistirá Boris Johnson como primeiro-ministro sem hipotecar a posição dos conservadores nas eleições locais de maio?

Em dezembro, num cenário de restrições justificadas pela pandemia de Covid-19, foi divulgado um vídeo em que a sua assessora de imprensa, Allegra Stratton, trocava piadas com membros do gabinete numa festa em Downing Street, ironizando com o facto de se tratar “de uma reunião de trabalho”. Primeiro, houve um desmentido. Depois, quando a estação ITV divulgou as imagens, o primeiro-ministro pediu desculpa.

O país vivia sob regras apertadas que limitavam – ou proibiam mesmo – os ajuntamentos, mas o Governo e o aparelho do Estado pareciam viver numa realidade paralela.

“Reuniões de trabalho”

A cronologia elaborada pela BBC é arrasadora. A 10 de maio de 2020, o primeiro-ministro anunciou os primeiros passos do desconfinamento, mas avisou que as regras se mantinham e acenou mesmo com um aumento das multas. Cinco dias depois, nos jardins de Downing Street, juntou-se com o seu pessoal à volta de uma mesa com queijos e garrafas de vinho. Estavam “no seu local de trabalho a falar de trabalho”, justificou. A 20 de maio, cerca de uma centena de pessoas foram convidadas em nome do secretário particular do primeiro-ministro para “bebidas respeitando a distância social no jardim do nº 10”. Johnson, mais uma vez, juntou-se aos seus colaboradores.

Em novembro, quando um novo confinamento foi decretado, as coisas descambaram outra vez. No dia 13 terá havido, segundo a BBC, uma festa no apartamento do primeiro-ministro, que juntou membros do gabinete e a mulher, Carrie Johnson. Houve um desmentido oficial. A 27 de novembro, fontes não identificadas reportaram outra festa, de despedida do assessor Cleo Watson, com bebidas e um discurso de Boris Johnson.

A 10 de dezembro, o Departamento de Educação organizou um encontro com “comes e bebes”. E a 14, na sede do Partido

Conservador no Parlamento, realizou-se um “encontro não autorizado”, promovido pela equipa do candidato à Câmara de Londres, Shaun Bailey. No dia seguinte, o pessoal de Downing Street juntou-se para um convívio de quiz natalício e o primeiro-ministro participou no evento.

A 16, Londres regressou ao nível mais alto de restrições por causa da pandemia e o Departamento de Transportes viu-se obrigado a apresentar desculpas depois de se confirmar que houve uma festa nas suas instalações nesse dia. A opinião pública estava saturada com a tendência “gregária” do círculo próximo de Boris Johnson. Pressionado, pediu desculpas no Parlamento. Foi a segunda vez. E não convenceu ninguém.

GOVERNO E APARELHO DO ESTADO PARECIAM VIVER NUMA REALIDADE PARALELA: COM QUEIJOS E VINHO

O luto da Rainha

Explicou que, naquele dia 20 de maio de 2020, se juntara durante 25 minutos aos membros da sua equipa nos jardins de Downing Street convencido de que se tratava de uma reunião de trabalho. A referência no convite a que cada um “trouxesse a sua própria bebida” tornou pueris as explicações. A oposição trabalhista pediu a demissão de Johnson, uma posição assumida igualmente por algumas figuras do Partido Conservador. O primeiro-ministro recolheu-se ao silêncio. Mas as denúncias não pararam. E pioraram: também houve convívios em tempo de luto real (ver caixa). O gabinete de Boris Johnson pediu de novo desculpa. Foi a terceira vez, mas agora sem que o primeiro-ministro tivesse aparecido. Resta-lhe continuar afastado da ribalta, “escondido”, segundo os seus críticos, à espera que as águas acalmem. Talvez não chegue. Há quem garanta que se acabou a festa em Downing Street. ●

Sumário

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2022-01-20T08:00:00.0000000Z

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