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Debates O treino por trás do desempenho nos frente a frente

Há quem tenha levado frases feitas, quem tenha equipas a recolher dados e a imprimir fotocópias,

António Costa tinha uma “gravata da sorte”, Rui Rio não fazia uma preparação especial, Francisco Rodrigues dos Santos decidiu pôr de lado a gravata, João Cotrim Figueiredo tinha uma equipa a preparar dados e soundbites, Rui Tavares levava fichas do tamanho de cartas de jogar e Inês Sousa Real treinava a fazer simulações com a sua equipa. Os bastidores dos debates televisivos que – no total – colaram 20,2 milhões de espetadores aos ecrãs revelam técnicas, truques e até os estilos pessoais dos líderes partidários na hora de conquistar o voto dos eleitores.

COSTA TEM LUÍS PAIXÃO MARTINS A TRABALHAR NA COMUNICAÇÃO. RUI RIO SÓ USA A PRATA DA CASA NA CAMPANHA

ANTÓNIO, O SUPERSTICIOSO

Quem está na equipa mais próxima de António Costa garante que o secretário-geral do PS já não precisa de grande preparação para ir a debates. Vale-lhe o músculo ganho nos debates parlamentares – que, graças a um acordo com Rio, deixaram de ser quinzenais – e o conhecimento dos dossiês da governação. “Sendo primeiro-ministro, está obviamente sempre bem preparado”, garante um elemento da campanha socialista.

Apesar disso, antes de cada confronto televisivo, o núcleo duro de Costa (no qual entram nomes como

Duarte Cordeiro, Mariana Vieira da Silva e Tiago Antunes) não deixava de rever a matéria dada. “Há sempre conversas”, admite um dos elementos da campanha, que desta vez tem o veterano da comunicação Luís Paixão Martins aos comandos das operações. Paixão Martins não quis falar à SÁBADO, mas tem tido um papel central nos bastidores. E a gravata verde? Foi um conselho seu como consultor de imagem? Uma fonte da campanha assegura que não. António Costa “usou-a no primeiro debate, achou que deu sorte e resolveu usar sempre”. Uma superstição, portanto.

RIO, O AUTÊNTICO

“Rui Rio é muito genuíno. A preparação dos debates não esteve condicionada a esquema nenhum.” Quem o garante é um dos membros do seu núcleo duro, explicando que o líder do PSD “fala com as pessoas mais próximas” antes de ir para um debate e por vezes “pede dados”, mas não recorre a especialistas de comunicação nem faz simulações. A campanha está a ser feita com

a prata da casa da equipa de comunicação do partido e as pessoas que Rio mais ouve são os membros da sua Comissão Permanente e os coordenadores do Conselho Estratégico Nacional do PSD, quando precisa de elementos de áreas temáticas. E tem alguma preparação especial? “Não. O esquema está todo na cabeça dele”, diz um dos elementos da direção social-democrata.

CHICÃO, A “FÁBRICA DE SOUNDBITES”

“O Francisco é um soundbite maker”, diz João Gomes de Almeida, o especialista em comunicação que já trabalhou com André Ventura e faz agora a campanha do CDS. Foi, aliás, Francisco Rodrigues dos Santos quem inventou a frase em que descreve o Chega não como um partido, mas como uma interjeição. “Essa frase é dele.” Há outras que são trabalhadas em conjunto com uma equipa de quatro pessoas, que está a montar a campanha com a ideia de “marcar a diferença” em relação aos outros partidos de direita. Uma das coisas que ficaram decididas foi não levar gravata para os debates, que foram sempre preparados tendo em conta “todos os cenários”. Ou seja, antecipando as críticas dos adversários e procurando os seus pontos fracos. Com 1,5 milhões de espetadores, o debate entre o líder centrista e António Costa foi um dos mais vistos. E na campanha de Chicão acredita-se que isso está a dar frutos. “Há um novo CDS e está a subir nas sondagens”, garante um dos elementos da candidatura.

COTRIM, O PRINCIPIANTE

Para João Cotrim de Figueiredo, estes debates foram uma estreia. Mas não lhe faltaram ajudas. Uma equipa de cinco especialistas em comunicação preparava temas, mensagens e antecipava “possíveis ataques”. Para nunca ser apanhado em falso tinha uma rede de “municiadores” a enviar estatísticas e conteúdos que pudessem ser usados nos debates.

INÊS, A PREPARADA

Inês Sousa Real teve sempre consigo uma “equipa de comunicação e assessoria técnica” para garantir a preparação em cada dossiê. Antes de cada debate, munia-se de relatórios, estudos e programas dos adversários e fazia até uma simulação com a sua equipa mais próxima. Nem a preparação

A primeira vez que Rui Tavares debateu na televisão foi em 1993, na TVI, num debate sobre propinas no qual estava Marcelo

EQUIPAS DE CAMPANHA TENTAM ANTECIPAR TEMAS, POSSÍVEIS ATAQUES E FRAGILIDADES DOS ADVERSÁRIOS

de frases-chave era deixada ao acaso. “É um exercício importante, sobretudo, se for no sentido de tornar mais clara a mensagem para as cidadãs e os cidadãos”, diz fonte do PAN.

TAVARES, O HOMEM DAS CARTAS

Rui Tavares também se estreou neste modelo, mas usou um truque antigo. Para cada debate preparava pequenas fichas, do tamanho de cartas de jogar, com tópicos e números, “nunca frases”. E usava “as redes internas do Livre para recolher contributos” dos companheiros de partido para cada debate.

VENTURA, O CANDIDATO DOS PAPÉIS

André Ventura nunca levou frases preparadas, mas ia sempre munido com braçadas de fotocópias. “A recolha de informações e o trabalho de imprimir as coisas” era feito pela sua “equipa mais próxima, que incluía o gabinete parlamentar”, explica a assessora Patrícia Carvalho, garantindo que nunca no Chega se fizeram simulações de debates. “Estar sozinho no Parlamento já é um treino.”

Nem a campanha do BE nem a da CDU estiveram disponíveis para falar com a SÁBADO.W

Sumário

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