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Saúde É possível combater a dor crónica

A doença não tem cura e afeta um em cada três portugueses – mas tem vários tratamentos. Os especialistas aconselham a fazer mais do que uma terapêutica e a não desistir perante o que parece ser impossível de derrotar.

Por Susana Lúcio

Ricardo Fonseca recorda-se das brincadeiras quando era criança, mas também das dores que sentia nas pernas e nos braços. Os exames médicos que realizou não revelaram qualquer disfunção e o seu sofrimento foi atribuído à falta de vitaminas e ao crescimento. “Tomei muito óleo de fígado de bacalhau”, recorda à SÁBADO. Mas a dor constante não desapareceu. Piorou durante o curso superior de Enfermagem e não cessou quando já trabalhava como enfermeiro. Ao longo do tempo, Ricardo não desistiu de procurar ajuda. Recorreu a ortopedistas, reumatologistas, psicólogos e em 2014 foi finalmente diagnosticado: fibromialgia, uma doença que provoca uma hipersensibilidade aos estímulos dolorosos. “Senti uns segundos de felicidade por saber o que tinha, mas depois veio o medo perante uma doença sem cura.” Ainda assim, procurou soluções para além da medicação. Faz massagem, reiki (uma terapia alternativa de transferência de energia), psicoterapia e escreve um diário sobre a dor. “É como se fosse uma relação: há dias em que manda a doença, noutros mando eu.” Recorrer a várias terapêuticas é um dos passos para reduzir a dor crónica, mas é preciso mais. A SÁBADO mostra-lhe o caminho para que a dor constante se torne quase impercetível.

COMPREENDER COMO SE PROCESSA A DOR

A dor é o culminar de um mecanismo de defesa, desenrolado no sistema nervoso central, que visa proteger o organismo. Um arranhão no joelho é um estímulo recebido pelas terminações do sistema nervoso periférico, na pele, que enviam sinais elétricos aos neurónios sensoriais na espinal medula, que por sua vez o fazem chegar ao cérebro. Aqui é avaliada a intensidade do estímulo doloroso e a reação adequada. Neste caso, talvez levemos a mão ao joelho e passamos a ferida por água. Esta dor aguda tem um prazo de vida curto. Pouco depois, dependendo da lesão, o cérebro envia sinais pela medula espinal que desencadeiam a libertação de endorfinas, as hormonas do bem-estar. Estas bloqueiam o sinal da dor e a sensação dolorosa abranda até desaparecer.

A dor torna-se crónica quando este bloqueio não ocorre e o sofrimento perdura mais de três meses. O que acontece de errado ainda não é totalmente conhecido pela ciência. E mais: a dor é diferente de pessoa para pessoa. “O sistema nervoso central de cada um responde de forma específica”, explica à SÁBADO a neurocientista Isaura Tavares, da Faculdade de Medicina do Porto.

A investigadora liderou um estudo em ratinhos que avaliou se a quimioterapia usada no tratamento do cancro provoca lesões nos nervos periféricos e, consequentemente,

O CÉREBRO ENVIA SINAIS PELA MEDULA ESPINAL QUE LIBERTAM ENDORFINAS E BLOQUEIAM A DOR

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2022-01-20T08:00:00.0000000Z

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