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JOÃO PEREIRA COUTINHO

Texto escrito segundo o anterior acordo ortográfico

BE – NINGUÉM EXIGE nada ao Bloco. O partido não tem implantação autárquica, dizem os sábios, que assim absolvem Catarina Martins de qualquer desaire. A sério? Isso ainda funciona como atenuante em 2021? Lamento. Um partido com mais de 20 anos de existência já devia ter algumas câmaras para mostrar. O facto de não ter apenas reforça a natureza urbana, académica e mediática de um partido que, no famoso “país real”, simplesmente não existe.

CHEGA – André Ventura começa a ter um problema: tirando a sua excelsa pessoa, quem representa o partido nas principais lutas autárquicas? Ninguém. A incapacidade do Chega para atrair candidatos que não envergonhem começa a ser embaraçoso. Por estas alturas, imagino que André Ventura suspire pelos tempos em que militava no PSD. Nunca lhe deram a importância que ele reclamava? Admito que sim, mas saber esperar é uma virtude. Se o líder do Chega a tivesse exercido, hoje seria um dos candidatos à liderança dos laranjas, adaptando o seu discurso à “social-democracia” com o mesmo talento com que o adaptou à “direita radical”. Assim, é um artista solitário com uma fraca banda a acompanhá-lo.

IL – A Iniciativa Liberal falhou em Lisboa: entre Fernando Medina ou Carlos Moedas, não havia espaço para “terceiras vias”. Mas se o objectivo do partido é ter uma melhor estreia do que o Bloco e o PAN nestas andanças, a política de coligações no Porto, na Covilhã ou em Faro podem permitir a Cotrim de Figueiredo abrir uma (pequena) garrafa de champanhe no domingo.

PAN – O PAN não perdoa. E, em momento inspirado, propôs um “meio suave” para que os habitantes de Sintra possam chegar a Lisboa de bicicleta. Bastaria construir uma longa ciclovia de 35 quilómetros para substituir o intransitável IC19. Absurdo? Não: se uma pessoa consegue pedalar a 10 quilómetros por hora, bastaria ao trabalhador sintrense acordar às 4h30 da manhã para estar no trabalho às 8h, fresco como uma alface. Eu aderia.

PCP – É um dilema: por um lado, a erosão eleitoral do partido pode ser compensada pela influência directa no Orçamento e na governação. Mas, por outro, a erosão não pode ser tão acentuada que reduza o PCP a um táxi vermelho, insignificante e dispensável. Nestas eleições, precisa de mostrar serviço: contra o PS e, em parte, contra o Chega no Alentejo. Voltar a perder em Almada e no Barreiro será um passo importante para chegar à praça de táxis.

PS – Gostei de ouvir António Costa em Matosinhos, a ameaçar a Galp com “lições exemplares”, ao melhor estilo bolivariano. O que isto significa para a reputação internacional de uma das empresas mais importantes do País é, para ele, secundário. Pobre País. Há poucos meses, o encerramento da refinaria era uma das glórias do socialismo – e um passo seguro rumo à “descarbonização”. Em vésperas de eleições, é um “disparate”, uma “asneira”, uma “insensibilidade”, apesar de o Estado ser um dos accionistas da empresa e ter negociado o seu encerramento. Estes números de circo não impressionam o eleitor comum, que lá vai sabendo, pela boca dos candidatos socialistas, que votar PS é chegar mais rapidamente ao pote do dinheiro europeu. O primeiro-ministro, em nome da decência, podia condenar estes exercícios, mas o secretário-geral do PS não deixa. Nem precisa.

PSD – A fasquia de Rio está elevada: é fazer melhor do que Passos Coelho em 2017 e começar já a pensar em 2025. Eis um novo conceito de liderança: vencer é para otários e as eleições que importam não são estas, nem sequer as legislativas de 2023; são as autárquicas de 2025. O PSD, até prova em contrário, aprecia estas loucuras. Sobre Passos, o óbvio: Rio sabe que, exceptuando uma hecatombe, difícil é não fazer melhor, mesmo que o Porto esteja perdido e Lisboa vá pelo mesmo caminho. Sobre as eleições de 2025, o líder do PSD já fez as contas: sete dezenas de autarcas do PS chegarão à limitação de mandatos; donde, o PSD estará à espreita para herdar na secretaria o que não foi capaz de ganhar nas ruas. Por incrível que pareça, ainda vamos ter saudades deste homem. W

Sumário

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2021-09-23T07:00:00.0000000Z

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