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Edição especial Jorge Sampaio

L Maria Antónia Fontes

Montijo

Desapareceu um dos melhores, um homem bom, de verdades, de causas, disponível, vertical e de caráter. Era Jorge Sampaio, foi Presidente de Portugal durante 10 anos e desempenhou outras funções importantes com muita competência e honestidade. Mesmo com a saúde muito debilitada, Sampaio dedicava-se agora à causa das mulheres afegãs. Foi um político e um homem tão grande e ao mesmo tempo tão simples. O País ficou mais pobre.

L Manuel Castelo-Branco Otelo e as FP-25

Caro Eduardo Dâmaso: Na sequência do artigo de capa publicado na revista SÁBADO, do passado dia 9 de setembro, com o título “Dina e Mena os dois amores do Otelo”, importa esclarecer factos que estão manifestamente errados. Luís Pedro Cabral (LPC) apresenta erros graves e afirmações infundadas ou até mesmo manipuladas, que levantam dúvidas sobre o envolvimento inequívoco de Otelo na criação e liderança da organização terrorista mais mortífera em Portugal, nos últimos 40 anos – as Forças Populares 25 de Abril (FP-25A). Senão vejamos: 1º erro ou manipulação: Diz LPC, “Otelo era um transgressor sem sentido da transgressão...” É recorrente esta tentativa de construir um Otelo inimputável, quase irresponsável e utópico. Na verdade, o envolvimento de Otelo no Projeto Global e nas FP-25A foi mais que provado nas várias sentenças da Relação, Supremo e

Constitucional e nos três julgamentos ocorridos. As provas vão desde as reuniões, a mais famosa, a do conclave na Serra da Estrela onde Otelo esteve presente com o capuz nº 7, aos cadernos manuscritos e apreendidos em sua casa, aos testemunhos dos dissidentes, que inclusive afirmam ter-lhe entregado os 108 mil contos em notas (2,6 milhões de euros à data de hoje), provenientes do famoso assalto à carrinha do Banco de Portugal, etc., etc., etc. Otelo sabia bem o que estava a fazer. Como escreveu à mão nos seus cadernos – transcrito na sentença; “Contento-me com o perfil do inimigo a abater…” 2º erro ou manipulação: Diz LPC, “…FUP porém manter-se-ia ativa com um dos seus braços ‘dissidentes’ a radicalizar para a luta armada…”. Quer a FUP, quer as FP-25A faziam parte do Projeto Global, cujo objetivo era a tomada do poder através da força, instaurando um regime sem eleições, sem partidos e sem parlamento. As FP-25A eram a ECA – Estrutura Civil Armada e em nenhum momento foram uma dissidência da FUP ou do Projeto Global. Aliás, alguns dirigentes da FUP, entre os quais Otelo, pertenciam também às FP-25A . O produto dos assaltos das FP-25A servia, entre outras coisas, para financiar a FUP e pagar salários aos seus funcionários ou suportar as despesas de campanhas eleitorais. 3º erro ou manipulação: Diz LPC, “a 20 de maio de 1987, seria condenado a 15 anos de prisão pelo crime de associação terrorista (...) Otelo recorreu para o Supremo Tribunal de Justiça que observou diversas nulidades nas sentenças anteriores. “O Supremo Tribunal de Justiça confirmou as sentenças anteriores do Tribunal de 1ª Instância e do da Relação, vindo neste caso a fixar a pena a 17 anos de prisão. A prova foi produzida e todos os tribunais de hierarquias superiores confirmaram o crime de associação terrorista. As nulidades referidas nunca foram sobre os factos produzidos e provados, mas temas laterais como por exemplo ser da competência do Tribunal Constitucional e não da Relação, a extinção do partido FUP- Força de Unidade Popular. Mesmo o Tribunal Constitucional, que mais tarde veio obrigar à reapreciação da prova pelo Tribunal da Relação, nunca colocou em causa a prova produzida, mas apenas o direito que os réus teriam de ver a prova reapreciada (mesmo que tenham sido estes a impor a não gravação das sessões do julgamento). Por fim, e porque este esclarecimento já vai longo, recordo ao jornalista LPC a existência de muita informação disponível sobre as FP-25A: o livro do Nuno Gonçalo Poças Presos por um Fio, Portugal e as FP-25A, o ensaio À lei da bala. Os 25 anos sobre a amnistia às Forças Populares-25 de Abril, escrito por mim, entrevistas, dezenas de vídeos, etc... mas, a jogar em casa, poderá sempre optar pelo livro do vosso subdiretor, António José Vilela, Viver e morrer em nome das FP-25A cuja base factual e descrição dos factos é também inquestionável, com o mérito de ter sido o primeiro livro isento sobre o tema. Sem necessitar de profunda investigação, seria possível manter a fidelidade aos factos, reduzindo a manipulação que tanto contribuiu para que este capítulo negro fosse tão esquecido. Se não pelo amor à verdade, pelo respeito pelas 15 vítimas mortais e dezenas de feridos da organização terrorista.

Pelos vistos, o jornalista andou distraído nos últimos seis meses. Nada leu ou não percebeu. Exigia-se mais e melhor. W

Do Leitor

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2021-09-23T07:00:00.0000000Z

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http://quiosque.medialivre.pt/article/283381950071470

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