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BEM-HAJA, SET E DE ESPADAS!

AUTOR INSPETOR FIDALGO

NOS DERRADEIROS TEMPOS DA VIDA DO SETE DE ESPADAS, A TERTÚLIA POLICIÁRIA DA LIBERDADE (TPL)

organizou diversas intervenções com o único objetivo de, pela voz de muitos confrades, ser prestada homenagem àquele que consideramos, com toda a justiça, o grande impulsionador deste nosso passatempo.

Entendeu a TPL que é em vida que as homenagens se devem fazer e raramente há motivos tão fortes e justificados para que elas aconteçam, como quando está em questão um vulto tão incontornável como o Sete de Espadas.

Na altura ainda no Mercado da Ribeira, a TPL demonstrou, em nome de toda a nossa “tribo policiária”, o agradecimento ao Sete de Espadas por toda uma vida dedicada à propagação da nobre arte de espevitar as “células cinzentas”.

No dia 28 de março de 2007, na presença do nosso “mestre” Sete de Espadas e de um número considerável de convivas, coube ao Inspetor Fidalgo fazer a sua intervenção, nos termos que seguem.

“Sete de Espadas, meus caros amigos: Esta intervenção é feita a meu pedido expresso no mês de março, por ser um mês fundamental no Policiário e, consequentemente, na vida de todos os que por estas coisas se interessam.

Foi em março de 1948 que começou o Policiário no Camarada, foi em março de 1975 que reapareceu o mesmo Policiário no “Mundo de Aventuras”.

Em ambos, uma figura comum: Sete de Espadas.

Se há Policiário em Portugal, ainda hoje, a este homem o devemos. E toda esta intervenção se poderia reduzir a uma palavra: Obrigado!

Mas, há sempre um “mas” em tudo, a faceta mais brilhante do Sete de

Espadas não se revela no modo como soube orientar os seus espaços – e digo-o hoje, como sempre fiz no passado, ao assumir a contestação ao modelo por ele seguido no Mundo de Aventuras –, mas sim na enorme capacidade de convívio que sempre soube desenvolver.

Curiosamente, num momento em que temos Policiário ininterruptamente há mais de 32 anos, com um número de participantes em crescendo, é no convívio que está, claramente, o nosso elo mais fraco.

Falta-nos a capacidade de comunicação do Sete, que em revistas juvenis e à boleia das histórias em quadradinhos – nem me falem em banda desenhada que fico logo com pele de galinha! –, rapidamente “trucidava”, em termos de popularidade os desenhos dos artistas, ao ponto de toda a miudagem estar de plantão à porta das papelarias no dia de saída das revistas, para as folhear em busca do Policiário e do Sete de Espadas!

AS DIVERGÊNCIAS ESTAVAM NO CONCEITO DE POLICIÁRIO/POLICIAL, EM QUE O SETE DE ESPADAS SEGUIA UMA LINHA MAIS “POPULAR”

Daí até à organização de Convívios Policiários, foi um pequeno salto, mas era extraordinário verificar o que acontecia nos locais onde o Sete aparecia, com toda a gente a rodear este homem de barbas brancas, autêntico “avôzinho” para a malta nova.

Cheguei ao Policiário já com mais de 20 anos, mas depois de ler muitas das secções do Sete, sobretudo no Camarada e no Cavaleiro Andante – porque também eu aqui cheguei pelos quadradinhos –, mas recordo o entusiasmo de miúdos de 9, 10, 11 anos a correrem para o Sete como talvez não corressem para o próprio avô.

O Policiário hoje é outro. Cresceu, tornou-se mais maduro, perdeu a irreverência da miudagem que enchia a galeria do Palladium aos sábados à tarde. Não terá melhorado, nem piorado, tornou-se diferente! Este Policiário que hoje temos é, claramente, o herdeiro daquele que nos foi inculcado por esta figura ímpar do Policiário.

Bem-haja, Sete de Espadas!”

SETE DE ESPADAS VS. ARTUR VARATOJO

Uma das polémicas mais apaixonantes do Policial é a que coloca dois dos seus mais importantes divulgadores, o Sete de Espadas e o Inspetor Varatojo, em campos tão opostos que quase conseguiram gerar uma espécie de “clubes de fãs”, à boa moda teatral da primeira metade do século XX.

Na verdade, havia visões diferentes e, convenhamos, alguma rivalidade, mas eram situações perfeitamente naturais entre duas personalidades fortes e com alguma “casmurrice” à mistura.

No essencial, ambos percebiam que tinham um papel importante na divulgação do Policiário/Policial e as fricções, que as houve, nunca passaram de episódios pouco relevantes.

O Sete de Espadas seguia uma orientação mais dirigida às publicações que eram bíblias para a gente nova: Camarada, uma revista juvenil de histórias aos quadradinhos, propriedade da Mocidade Portuguesa e que era distribuída nas escolas primárias: Cavaleiro Andante, na mesma linha e dirigida ao mesmo público; Mundo de Aventuras, a principal revista de quadradinhos da Agência Portuguesa de Revistas, com tiragens enormes, cá e nas antigas colónias.

O Artur Varatojo, mais dirigido a um público mais adulto, desde secções em revista da PSP, a rubricas em jornais diários, como A Capital, onde esteve cerca de 17 anos com “O Crime Visto Por…”; espaço radiofónico Quinto Programa, com audiências consideráveis; espaço na RTP, ABC do Crime, em que apareceu durante mais de sete anos como Inspetor Varatojo e prendia os espectadores, mercê da sua capacidade de comunicação.

Perante este cenário, era claro que Varatojo chegava a uma plateia muito mais vasta e a sua vida profissional de advogado criminalista, embora só se tenha licenciado com cerca de 50 anos de idade, dava-lhe uma visibilidade a que o Sete de Espadas não podia aspirar.

Cada qual seguiu o seu caminho e por diversas vezes se foram cruzando, como na revista Crime, em 1975, na altura em que o Sete de Espadas iniciou o seu espaço no Mundo de Aventuras, ao que consta, por sugestão do próprio Varatojo.

Sem inimizades nem invejas, as divergências estavam no conceito de Policiário/Policial, em que o Sete de Espadas seguia uma linha mais “popular”, em que cada crime devia ser decifrado por métodos mais virados à perspicácia e conceitos mais generalistas, enquanto Artur Varatojo seguia uma linha mais técnica, mais de investigação criminal. Se para o Sete um crime podia ser resolvido por ser encontrada uma cápsula de uma pistola, para o Inspetor Varatojo já era necessária a identificação da arma, da cápsula e mais uma série de conhecimentos técnicos para que o problema e a sua solução estivessem perfeitos.

Numa altura em que os elementos de investigação não abundavam, o Sete de Espadas resistiu à “entrada” da técnica policial nos problemas, porque criava uma desigualdade acentuada nas probabilidades de um leitor médio poder competir com quem detinha essa informação. Claro que não havia Internet nem Google e cada informação era obtida à força de horas e horas em bibliotecas, consultando livros e enciclopédias! Talvez por perceber isso mesmo, Varatojo publicou 6 números do seu ABC Policial, antologias de contos, entremeados com exercícios e artigos de investigação criminal, destinados a habilitar os leitores a entenderem como a técnica policial funcionava.

Dois homens, dois estilos, dois rumos, duas ideias, mas com um amor comum pelo Policial e que sempre se souberam entender e respeitar.

Para nós, dois vultos enormes na divulgação e no aprofundamento do passatempo que elegemos e para com quem temos uma dívida de gratidão! LP/IF W

Passatempo

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http://quiosque.medialivre.pt/article/283360475234990

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