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EOSSEUS PRINCIPAIS ELEMENTOS

Integram os grupos Defender Portugal, e outros movimentos Resistência Portuguesa membros estão extremistas e até violentos. em vários palcos, Alguns dos usam diversos sob vigilância nomes e estão da Judiciária.

Por Alexandre R. Malhado

Na mesma calçada do grupo de Santo António de Lisboa, mas divididos fisicamente por cordas e por uma pirâmide cheia de tampas de plástico, o Movimento Defender Portugal (MDP) estava acampado (mas sem gente). Liderado por Luís Freire Filipe, de 56 anos, antigo militar paraquedista, o grupo é citado no relatório europeu “Estado de ódio: o extremismo de direita na Europa” e é, ao que apurou a SÁBADO junto de fonte da Polícia Judiciária (PJ), um dos mais monitorizados pelas autoridades portuguesas, não só pelas ligações negacionistas, como também pela ideologia dos membros que vão compondo o movimento, que aglomera militares, conspiracionistas e polícias do Movimento Zero.

“Com os sindicatos, a coisa fica com um cariz político. O Movimento Zero surge exatamente como o Movimento Defender Portugal porque estão isentos na coisa, a lutar por Portugal e pelos portugueses, nós [do MDP] na área civil e o Movi

mento Zero na área das forças de segurança”, afirmou Luís Freire Filipe num vídeo promocional do movimento, enquanto mostra imagens de jovens negros em confrontos.

Até hoje, as ações de Luís Freire Filipe têm vindo a ser notícia. Em novembro de 2020, o seu grupo conduziu uma caravana até Belém, Lisboa, e “bloqueou” o carro onde seguia o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para lhe pedir “olhos nos olhos” para ouvir as suas teses anticonfinamento, de acordo com declarações do próprio à agência Lusa. Durante a sessão solene do 25 de Abril deste ano, num protesto à porta da Assembleia da República, galgou as barreiras policiais e tentou subir a escadaria da Assembleia, tendo sido detido pelo crime de desobediência.

Não é, contudo, uma figura unânime dentro do movimento. “Ele é um bocado tirano, ninguém do movimento aqui confia nele. Parece que quer retirar isto para seu próprio proveito“, confidencia uma das presentes no jantar. Apesar da fricção interna, nas redes sociais a aparência é que os movimentos colaboram entre si sob o chapéu de um novo (mais um) grupo: Resistência Portuguesa (RP). No dia em que Anabela Seabra insultou Ferro Rodrigues, Luís Freire Filipe tomou a iniciativa como sua: “Hoje, a Resistência exigiu respeito ao presidente da Assembleia da República. Foi só um mero e simples aviso”, escreveu no grupo privado de Facebook, que aglomera cerca de duas mil pessoas, em que a SÁBADO se infiltrou.

Grande parte da atividade de Luís Freire Filipe está agora concentrada na Resistência Portuguesa, que tenta agregar todos os grupos negacionistas dispersos num só. Através

18 mil likes tem o Movimento Defender Portugal no Facebook. A página é usada para mobilizar pessoas e angariar fundos

“INVADAM AS SECÇÕES DE COMENTÁRIOS DOS OCS. CARREGUEM NELES E FAÇAM-SE OUVIR!”, ORDENAM AOS MEMBROS

do grupo privado, Freire Filipe arregimenta pessoas para os pequenos núcleos da RP, que está a formar de norte a sul, com vista a ficarem responsáveis logísticos das ações do movimento. É nestas cúpulas presenciais de pequena dimensão que são organizadas as ações – e depois fazem apelos de mobilização aos seus seguidores no Facebook. É no grupo privado que se organizam autocarros e boleias, através da plataforma Airtable, e onde também angariam fundos. A mais recente tem como fim a “aquisição de viatura”, tendo recolhido 232 euros num mês.

“No grupo fechado de Telegram HC – Comentários Notícias, alguns membros da Resistência Portuguesa identificam notícias de meios de comunicação social e organizam-se para comentar em catadupa. “Comentem nos links que aqui deixamos. Invadam as secções de comentários dos OCS. Carreguem neles e façam-se ouvir!”, lê-se no grupo, com mais de 375 membros.

As contradições do líder

A luta de Luís Freire Filipe contra a “ditadura sanitária”, como já chamou em discursos, contrasta com as suas primeiras posições sobre a pandemia. A meio do verão de 2020, com os primeiros sinais de relaxamento nas medidas de combate à Covid-19, Freire Filipe criticou num vídeo quem “andava [na rua] como se nada fosse”. “Essas pessoas são um risco”, acrescentou , apelando para se “ter noção das medidas de prevenção e proteção que devem ter”.

Estas afirmações foram feitas enquanto “Conselheiro de Prevenção Civil e analista de risco do Gabinete de Análise de Prevenção (GAAP)”, que diz ser a sua profissão. O que é o GAAP? De acordo com a página de Facebook, que tem 997 likes, o gabinete visa “elaborar o Projeto Internacional de Prevenção Civil, através da criação da ASSINPREC – Associação Internacional de Prevenção Civil”. Por sua vez, a página de Facebook da ASSINPREC, que tem 115 gostos, diz que “é uma associação sem fins lucrativos de duração Q

FILIPE LUÍS FREIRE PESSOAS, DE ARREGIMENTA PARA FICAREM NORTE A SUL, PELAS RESPONSÁVEIS MOVIMENTO AÇÕES DO

Q ilimitada”, com o NIPC 516 301 195, com o fim de estar “atenta a situações de carência e/ou emergência social, identificando-as e intervindo prontamente para encontrar soluções que conduzam à sua rápida resolução”. O problema? No Portal da Justiça, não existe qualquer registo associado a este nome ou ao NIPC indicado.

O enredo adensa-se quando se olha para a atividade da ASSINPREC e da GAAP. Além de servirem de plataforma de partilha de números da Autoridade Nacional de Proteção Civil e posts de outros movimentos negacionistas, como o Aliança Pela Saúde, há também iniciativas de recolha de fundos para o “fundo Solidário de Emergência social” da ASSINPREC. “Tampas Por uma Causa” é um exemplo: com o “objetivo de mitigar necessidades e carências básicas de cidadãos em risco”, Luís Freire Filipe pretende recolher toneladas de tampas de plástico, que podem ser convertidas em dinheiro. De acordo com o site da Caixa Geral de Depósitos, estas podem valer 200 a 300 euros por tonelada, ou seja, 20 a 30 cêntimos por quilo.

Para onde vai o dinheiro? À SÁBADO, Luís Freire Filipe mostrou-se indisponível para esclarecer prontamente. “Não é possível em tempo útil responder às suas questões. Estou empenhado na análise e monitorização da irrupção [sic] do vulcão da ilha de La Palma”, concretizou.

Médico, negacionista e autarca

Entre os cartazes autárquicos no Campo Pequeno, Lisboa, há um que chama a atenção. “O seu filho é uma cobaia? www.aliancapelasaude.com”, lê-se. Do seu próprio bolso, o médico Diogo Antunes Cabrita pagou o cartaz, aclamando o regresso de um movimento de profissionais de saúde contra a vacinação de crianças. É uma das primeiras ações enquanto fundador e coordenador do rebranding do extinto Médicos Pela Verdade, liderado por Maria Margarida de Oliveira, que foi suspensa pela Ordem dos Médicos por ter recomendado publicamente a recusa da vacina contra a Covid-19.

Cirurgião no Hospital dos Covões

desde 2003, o profissional de saúde de 60 anos acredita que as vacinas são “o maior ensaio/experiência clínica da humanidade”. “E tem cobaias – nós!”, afirma no texto “Falta Verdade”, publicado no site do movimento. À SÁBADO, Diogo Cabrita frisa a sua posição: “Estou vacinado com a vacina da Pfizer que ainda é uma vacina autorizada em emergência e nunca foi aprovada pois

CIRURGIÃO NO HOSPITAL DOS COVÕES, DIOGO CABRITA ACREDITA QUE AS VACINAS CONTRA A COVID TÊM COBAIAS – NÓS

aguarda os resultados dos ensaios em curso até 2023”, explica. Uma das razões da sua desconfiança com a vacina é por ter sido “acometido em maio de uma grave situação inflamatória que pode estar relacionada com um efeito secundário da vacina”, especula. Contudo, a vacina já foi aprovada nas três fases dos ensaios clínicos necessários para ser disponibilizada ao pú

blico – que é a quarta fase.

Além de médico, é político. Entre 2013 e 2017, foi vereador da Câmara Municipal de Valença pelo PS e nestas autárquicas é candidato à Junta de Freguesia de São Martinho do Bispo e Ribeira de Frades pela coligação Juntos Somos Coimbra (PSD, CDS, Nós Cidadãos, PPM, Aliança, RIR e Volt). Será troca-tintas? “Não tenho qualquer proximidade com o PS marxista-leninista que agora existe e de que saí em 2017. Mantenho as mesmas ideias e as mesmas convicções”, afirma. “A gota de água foi poder mudar de sexo aos 16 e só tirar a carta de condução de pesados aos 21.”

Além de médico e político, é também empresário. Sócio da Artez Medicina e Arte, faz negócio de cirurgia com outros hospitais e, ao mesmo tempo, eventos artísticos – apesar de o CAE da empresa ser de “serviços de medicina e cirurgia geral”. Em fevereiro de 2020, num ajuste direto de 18 mil euros com a Câmara Municipal de Coimbra, liderada por Manuel Machado, que conhece “há décadas”, foi adjudicada à empresa a “aquisição de serviços de concerto de Susan Nidel”. “Os eventos de 2020 foram cancelados por existir uma pandemia. Em 2021, desistimos de construir esta ação da empresa pela instabilidade ainda existente”, afirma, acrescentando que a empresa tem “décadas de trabalho” na área. “Produzimos Né Ladeiras, Tédio Boys, Outorga, Bunnyrunch, Casino Royal, Baldomero Moreiras, Sebastião Formosinho”, afirma. “É Cultura e Medicina, na senda de Miguel Torga, Bissaia Barreto, Joaquim Namorado...” Recentemente, em julho de 2021, firmou um contrato de “prestação de serviços médicos – cirurgia” com o Centro Hospitalar do Médio Tejo, no valor de 16 mil euros.

O neto de Marcello Caetano

Diogo Cabrita pode ter saído do movimento Aliança Pela Saúde por “algumas divergências insanáveis referentes às posições”, explica, mas deixou obra. Além do cartaz e de aparições públicas, criou uma estrutura para o movimento, que reúne psicólogos, ortopedistas, pediatras, dentistas e até medicina alternativa. Um dos dirigentes é o homeopata João Marcello Caetano, neto de Marcello Caetano, sucessor de António Oliveira de Salazar na liderança do Estado Novo. “Está comprovado cientificamente que é muito fácil instalar uma ditadura. Basta um bicho danado, muitas televisões, especialistas contratados, políticos incompetentes e corruptos, um militar fardado e falta de bom senso. Ah, e é rápido, em ano e meio a coisa faz-se!”, escreveu no seu Facebook pessoal, a 15 de setembro de 2021.

A Aliança Pela Saúde destacou-se também pela Marcha Pelas Crianças. Numa iniciativa com o apoio do Movimento Defender Portugal e do Habeas Corpus, do juiz Rui Castro, Diogo Cabrita e uma pequena comitiva (onde estava presente Luís Freire Filipe e Marcello Caetano) caminharam dos Covões, Cantanhede, até Lisboa. Pelo caminho, recolheram tampas de plástico para a associação do “amigo” Freire Filipe, como descreveu Cabrita à SÁBADO. A iniciativa de recolha de tampas de plástico chegou até a ser promovida no próprio site do Aliança Pela Saúde. O cirurgião nega, porém, qualquer ligação ao MDP.

Na anarquia de movimentos e de opiniões, os movimentos vão continuando – e sem um claro aval de núcleos duros partidários. Há porém algumas ligações indiretas ao Chega. A começar por João Tilly, líder do Conselho Nacional do Chega e youtuber negacionista, com mais de 48,3 mil subscritores, entre outros membros do partido liderado por André Ventura. No grupo privado da Resistência Nacional, por exemplo, está Sérgio Borge, candidato à Junta de Freguesia de Fernão Ferro. Contudo, o Chega recusa qualquer ligação ao movimento negacionista. “Nós seguimos as regras da DGS escrupulosamente. Só somos a favor de, se uma pessoa não se quiser vacinar, que tenha essa liberdade”, afirma Pacheco de Amorim à SÁBADO, que não se vacinou, como André Ventura. Ambos foram contagiados. W

HÁ LIGAÇÕES INDIRETAS AO CHEGA. A COMEÇAR POR JOÃO TILLY, LÍDER DO CONSELHO NACIONAL DO PARTIDO

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