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FP-25

O BE apresenta três antigos condenados por pertencer à organização terrorista, mas deixou cair outros três. O PS mantém um.

Por Maria Henrique Espada

Condenados candidatam-se às autárquicas pelo Bloco e PS

Luís Gobern Lopes é membro da Assembleia de Freguesia de Santo António da Charneca, no Barreiro, pelo BE. Em 2017, foi cabeça de lista. Desta vez, é recandidato na mesma lista, mas em sétimo lugar. Luís Gobern Lopes, também conhecido como “o anarquinho”, foi um dos operacionais das FP-25 a admitirem em tribunal pertencer à organização terrorista e foi condenado a uma pena de 17 anos de prisão. Que não interferiu na posterior participação política. “De todo, nunca tive problemas com o BE, aliás quando concorri pus lá que era preso político das FP-25”, descreve à SÁBADO. “Fui da concelhia uma série de anos, estive na distrital de Setúbal”, aponta, embora hoje prefira, até pela idade e “para dar lugar aos mais novos”, um papel mais recuado como militante de base. “Mas nunca tive nenhum estigma no partido.”

Em 2010, nos 30 anos das FP, numa entrevista à Lusa, disse sobre o passado: “Situando-me na altura em que as coisas ocorreram, considerando a forma como eu pensava, como eu sentia, como eu via as coisas, não posso dizer que me arrependa de nada. Não tenho de que me arrepender. Todas as coisas foram feitas com uma atitude consciente.” Hoje, e respondendo sobre se está arrependido, a reação é semelhante: “Não é uma questão de arrependimento, a gente tinha consciência do que andava a fazer [risos]. As coisas não podem ser vistas assim. E também não vale a pena aquela pergunta se hoje fazia a mesma coisa, as coisas vão mudando, também se cometem erros, as avaliações nem sempre foram as melhores. Mas não faço o que outros fazem, que é fingirem que não fizeram nada, muita gente que foi do PRP e agora diz que foi sempre contra as mortes...”

Além de Gobern, nestas autárquicas surgem nas listas eleitorais mais três condenados do processo das FP-25. Álvaro de Sousa Monteiro, antigo operacional condenado a 12 anos, integra a lista à Assembleia de Freguesia em Santa Vitória/Mombeja (concelho de Beja), pelo BE. Foi cabeça de lista em 2017. A SÁBADO não conseguiu contactá-lo. Alberto Matos, do BE Beja, explicou que o candidato, já idoso, está muito surdo e “não está em condições de prestar declarações” ao telefone, “não o mace”. E referiu desconhecer a anterior ligação às FP.

Outro candidato do BE, na lista à câmara de Vila Nova de Gaia (surge em último lugar), é Fernando Pinto Lacerda, condenado a 14 anos de prisão. O BE Gaia não respondeu ao contacto.

A SÁBADO questionou a direção do BE sobre se tinha conhe

cimento destas ligações e se as considera problemáticas. O BE respondeu: “A ação das FP-25 foi condenável a todos os títulos e nenhuma das correntes fundadoras do Bloco cultivou qualquer ambiguidade sobre isso. Na continuidade dessas posições, o Bloco sempre condenou a violência política em democracia. A adesão ao Bloco representa a adesão a esses princípios. As pessoas referidas pela SÁBADO foram condenadas pelos crimes cometidos e cumpriram pena, estando há quase 30 anos reintegradas na vida coletiva. A adesão ao Bloco de Esquerda é um facto muito posterior a todo esse processo.”

Nestas autárquicas, três bloquistas e ex-operacionais das FP-25 deixaram as listas autárquicas. Armando Herculano Lopes Ferreira, mais conhecido como “o Armando da Efacec”, condenado a 12 anos de prisão, chegou a ser dado como candidato à câmara de Vila do Conde. Renunciou, alegando motivos pessoais. José Ramos Santos viu o partido retirar-lhe o apoio (em Grândola). Os dois recuos ocorreram após reportagens na comunicação social sobre as vítimas das FP-25 e, no caso de Ramos Santos, após uma reportagem da SÁBADO sobre o ex-operacional envolvido na operação que vitimou um bebé em São Manços, que é hoje carpinteiro. Teodósio Alcobia, considerado como um dos mais perigosos operacionais da organização terrorista, que se candidatou à junta de Agualva-Mira Sintra (concelho de Sintra) em 2017, já não consta das listas este ano (a mulher, Helena Carmo, também ex-FP-25, deixou o BE em 2014).

O candidato a vereador pelo PS

Por fim, há o caso de Francisco de Jesus Soares, independente na lista do PS à Marinha Grande como candidato a vereador, e condenado a 15 anos pelo tribunal de Monsanto. “Já fui cabeça de lista à junta de freguesia, agora estou na assembleia municipal”, refere. “Já ando nisto há muito, o PS nunca me pôs qualquer problema.” Mas nega qualquer ação violenta: “Em 1984, fui preso e estive cinco anos preso. Fui da FUP, e disseram que a FUP estava ligada às FP, mas nunca pertenci às FP-25. Depois fui absolvido na Boa Hora.” Tem os detalhes algo vagos: sobre a condenação, diz “acho que foram 11 anos, ou isso”.

Fonte do PS regional e da candidatura manifestou à SÁBADO surpresa com o passado do candidato: “A sério? Olhe, não fazia ideia.” W

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2021-09-23T07:00:00.0000000Z

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