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Rui Martins é próximo de Fernando Medina e confessa à SÁBADO que já exerceu pressões para acabar com críticas à câmara. Ele é o rei dos grupos de vizinhos no Facebook.

Por Marco Alves

Em Lisboa, grupos de vizinhos promovem candidatos eleitorais

Ocaso remonta a setembro de 2020, quando a Câmara Municipal de Lisboa (CML) inaugurou a famosa e polémica ciclovia da avenida Almirante Reis. O projeto foi fortemente contestado, especialmente por um grupo de Facebook chamado “Vizinhos de Arroios” (2.500 membros), que tinha como administrador Luís Castro. Este, segundo informações que a SÁBADO obteve, terá sido pressionado para que o grupo parasse a contestação ao projeto.

Por quem? Por Rui Martins, militante e candidato do PS nestas Autárquicas, que, em pedido de esclarecimentos à SÁBADO por telefone, admitiu a pressão: “Posso ter feito um apelo de moderação e de contenção, sim. Porque havia muitas queixas de pessoas que defendiam a ciclovia”, diz, sem precisar quem eram essas “pessoas”.

Uma hora após ter falado com a SÁBADO, Rui Martins tentou impedir a publicação das suas próprias declarações: “Pensei melhor e não autorizo a publicação de qualquer declaração minha.” Depois, noutra mensagem via Messenger: “Tomarei todas as ações legais necessárias para defender esta posição.”

Qual é a ligação entre Rui Martins e Luís Castro? O grupo dos “Vizinhos de Arroios” pertencia na altura a uma rede de grupos semelhantes (um por cada freguesia) que era controlada pela “Vizinhos em Lisboa – Associação de Moradores”. Esta entidade foi criada em 2018 por Rui Martins, Rui Pedro Barbosa e Luís Castro. A pressão de Rui Martins a Luís Castro originou uma cisão e os “Vizinhos de Arroios” saíram da associação.

Luís Castro confirma a história à SÁBADO, mas fazendo uma ressalva: “Ainda que a tentativa de interferência tenha sido um facto importante e relevante para o abandono, não foi o único.”

Ainda assim, a associação mantém-se hoje com oito grupos principais de vizinhos, chegando no total a 35 mil membros (pessoas comuns, moradores da zona, que desconhecem a partidarização destas plataformas): Areeiro, Penha de França, Alvalade, Avenidas Novas, Alcântara, Belém, Estrela e Misericórdia. O mural de cada grupo varia conforme o partido que está no poder. Q

Q Os grupos atacam (ou não) a junta de freguesia conforme esta é do PS ou do PSD.

Por exemplo, o grupo do Areeiro (9.000 membros) é muito crítico da junta de freguesia (PSD) e o grupo de Alvalade (7.700) é elogioso da junta respetiva (PS). A mesma dicotomia acontece nas Avenidas Novas (3.200 membros), cuja junta é do PS, ou no da Estrela (1.300 membros), que é do PSD.

Por exemplo, no dia 25 de agosto, no grupo “Vizinhos da Estrela”, que publicou dois posts sobre lixo no chão. No dia 24, o mesmo grupo publicara uma fotografia de um dos seus membros, Luís Monteiro (assessor do PS na CML), com uma foto da equipa socialista candidata à junta. Não foi o único post do género. Pelo contraste dos posts (campanha pelo PS e ataque à junta), subentende-se que o poder nesta, na Estrela, é do PSD. O mesmo sucede no Areeiro (junta PSD), onde Rui Martins é muito ativo a apontar o dedo aos problemas na freguesia. São inúmeros os seus posts sobre lixo no chão e problemas do género.

Em Alvalade, onde a junta é PS, Rui Martins não encontra lixo no chão e é bastante mais elogioso. Por exemplo, a 6 de junho publicou um recanto arranjado da freguesia com a seguinte frase: “Espaço recentemente renovado na Av. dos EUA.” Ou a 13 de junho, publicitando “um novo acesso”. Ou a 26, falando do “parque Infantil renovado”. O tom deste grupo é totalmente oposto ao bélico “Vizinhos do Areeiro”. Em Alvalade, fala-se mais de jardins e adoção de gatos.

Nas Avenidas Novas (junta PS) o tom é o mesmo, de tal forma que a presidente da junta, Ana Gaspar, costuma ir lá deixar comentários. O grupo costuma também republicar posts da junta. Rui Martins diz que as regras dos grupos não permitem post políticos,

RUI MARTINS FALA AO TELEFONE “DE VEZ EM QUANDO” COM MEDINA. TEM-NO FEITO MUITO NESTA CAMPANHA

mas não soube explicar tantas exceções pró-PS, dizendo que não é “o imperador de todos os grupos”.

Candidato nas listas do PS à junta do Areeiro, Rui Martins trabalha na área de tecnologias de informação nas Páginas Amarelas, mas destaca-se publicamente como membro muito ativo da sociedade civil de Lisboa. Escreve para jornais digitais (Observador, Mensagem de Lisboa e Cidadania LX) e tem uma grande participação em vários grupos de Facebook.

“Medina sabe”

“Sou militante do PS desde sempre”, disse-nos. Fez parte, como suplente, das listas de Fernando Medina nas Autárquicas de 2017. Diz que conhece o atual presidente desde que começou “a participar nas assembleias municipais”. Mais: “Falamos ao telefone de vez quando.” Diz ainda que tem falado várias vezes com Medina sobre assuntos desta campanha, mas não quis precisar quais. Acrescenta à SÁBADO que “Medina sabe” que ele administra estes grupos de vizinhos.

Residente e candidato no Areeiro (a associação tem sede lá também), recusou explicar à SÁBADO porque se foi meter nos assuntos de Arroios. Diz apenas que “ninguém do PS me pediu nada”.

A oposição parece estar a começar apenas agora a olhar para estes grupos. Por exemplo, em Alvalade existe o “Alvalade é Verde” (1.050 membros) e noutra freguesia existe o “Avenidas Novas Cidadania” (800 membros). Um dos administradores deste último é Luiza Cadaval de Sousa, apoiante da candidatura do PSD. Detetámos vários posts em que se acusa o grupo “Vizinhos das Avenidas Novas” de bloquear membros e posts contra a junta PS. Rui Martins nega que o tenha feito.

Outros grupos de Facebook parecem escapar a esta partidarização, como o “Fãs de Campo de Ourique” (8.300 membros), o “Vizinhos da Ajuda” (1.300), ou ainda o megagrupo “Freguesia de Benfica” (12.400 membros), que tem 2 administradoras e 21 moderadores, ainda que entre eles haja vários militantes de partidos de direita (CDS, PSD e PPM). W

Sumário

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2021-09-23T07:00:00.0000000Z

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