Cofina

Gritos e silêncios na identidade nacional pelo futebol

Texto escrito segundo o anterior acordo ortográfico

Estava sossegado a trabalhar na minha sina actual, o quinto volume da biografia de Álvaro Cunhal, quando de repente pela janela veio um enorme grito, seguido de buzinadelas um pouco por toda a cidade. Como estava num lugar alto, na varanda percebi que o grito era replicado em vários locais da cidade, como se esta gritasse em uníssono. Portugal tinha marcado um golo à Alemanha. Depois seguiu-se um silêncio entrecortado por outro grito menor, seguido por outro silêncio maior. Percebia-se que as coisas não estavam a correr bem, havia também uns ruidosos suspiros de desalento, mas nada que chegasse ao primeiro grito. Não sei se as pessoas do Arquivo Nacional de Som registam estes eventos, mas tive pena de não me lembrar de pedir aos amigos do Ephemera para o fazer. Estes sons e silêncios são interessantes do ponto de vista histórico e não apenas pelo desporto, mas porque são a única respiração audível da nossa actual identidade nacional. O problema não está em que o seja pelo futebol, o problema está em que fora do futebol não há nada de parecido na ideia de pertença a uma nação. Nem gritos pelo seu sucesso (?), nem suspiros e protestos por a ver espezinhada, ignorada, maltratada, como infelizmente é muito mais do que nós temos a capacidade de o perceber. Com o futebol percebe-se, ganharam os alemães e a Pátria ficou abalada, no resto, ninguém quer saber. W

Opinião

pt-pt

2021-06-24T07:00:00.0000000Z

2021-06-24T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/283343295188303

Cofina