Cofina

Conversa com Afonso Pais, a propósito do seu quinto álbum

O Que Já Importa é o quinto álbum de Afonso Pais, guitarrista virtuoso de jazz que, com Capicua e Salvador Sobral, se voltou a ligar às raízes dos blues.

Por Filipa Teixeira

Descobri a guitarra porque o meu pai tinha umas guitarras lá em casa. Com a guitarra não tive um professor a dizer “para a semana tens de saber esta peça”

ENTREVISTA AFONSO PAIS

O Que Já Importa é Afonso Pais a deixar fluir o blues que tem nos dedos e, dessa forma depurada, lembrar que também de conforto é feito o virtuosismo jazzístico. Neste quinto álbum de originais do músico de Lisboa cabem versos de Capicua, a voz de Salvador Sobral na faixa final Ermo e um trio feminino que vai dialogando delicadamente com a guitarra de Afonso Pais ao longo dos sete temas desta narrativa.

Porquê este título?

Gosto da formulação. Depois, é assumir o que é espontâneo em determinado momento da vida das pessoas e que não deixa de ser espontâneo porque já passou. Este disco é uma revisitação das minhas raízes de blues e de guitarra de que, um pouco por indução de um estilo tão absorvente como o jazz, me fui alheando, mas pelas quais me voltei a apaixonar. Estas raízes fazem parte do meu passado profundo. O “já” é um “já” muito antigo e muito recente e, nesse sentido, é uma descoberta do que realmente importa.

De onde vem essa paixão pelos blues?

Eu tocava piano desde pequenino, mas nem todos gostamos obrigatoriamente daquele repertório. Os meus pais realmente quiseram que eu tocasse piano e deram-me essa oportunidade, mas com a guitarra foi completamente diferente. Eu descobri a guitarra porque o meu pai tinha umas guitarras lá em casa e eu peguei nelas de minha livre vontade. Com a guitarra não tive o compromisso de saber as músicas e de ter um professor a dizer “para a semana tens de saber esta peça”. Aí surgiu o blues, que está ligado à guitarra.

Puxaste a Capicua, que vem de um espectro musical muito diferente, para este teu álbum de blues. Como é que se deu esse encontro?

Curiosamente o encontro com a Capicua foi o último elemento do disco. Tinha acabado de descobrir a Capicua antes de ter tido a ideia dos convidados. Foi uma descoberta tardia. Depois há a questão da minha paixão muito pouco explorada pelo rap, que tive quando era puto, mas que foi um daqueles encantos que não encontrou canal de extravasão para a música. Felizmente encontrou agora com a Capicua.

Neste disco, ao contrário de alguns registos anteriores, decidiste não cantar. Achaste que este trabalho não pedia a tua voz?

A minha faceta de cantor é um não assunto. Num ou noutro momento fiz uma espécie de braço de ferro comigo mesmo e pensei, “bom, não me parece que tenha uma voz tão péssima que valha a pena esconder-me”. Mas prefiro ter vozes lindas como a do Salvador, como a recitação da Capicua ou como as vozes incríveis da Nazaré, da Luísa e da Margarida. Neste disco faz todo o sentido ter aquelas vozes nas partes designadas, interpretando a música.

Quando te vamos poder ver ao vivo?

A ação de promoção vai viajar pelo País, porque quero apresentar o disco em vários sítios. Tenho umas datas por confirmar, mas acho que me vou querer focar na rentrée, em setembro e em outubro.

Sumário

pt-pt

2021-06-24T07:00:00.0000000Z

2021-06-24T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/282703345061199

Cofina