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UMA ESTRELA QUE SERVE ÀS MESAS

Diz que é atriz, sempre. Mas precisa de pagar contas e, com a pandemia, reinventa-se em trabalhos temporários. Como a sua realidade supera os papéis da ficção.

Por Raquel Lito

SOBRE O TRABALHO NO RESTAURANTE, SARA NORTE DIZ: “TENS DE ENCONTRAR FELICIDADE EM TUDO O QUE FAZES”

Num dia cinzento, Sara Norte alegra-se com a folga imprevista: o patrão do restaurante Albatroz telefona-lhe ao fim da manhã de sexta-feira, 18 de junho, para a dispensar do turno até ao jantar (entraria ao meio-dia). Se o tempo não ajuda, nem há clientes, não se justifica ir à praia Cova do Vapor, junto ao estuário do Tejo, onde trabalha há cerca de um mês a servir às mesas. Ainda assim, a atriz de 36 anos vai lá de visita, desafiada pela SÁBADO. Estamos perto, num café da Trafaria, terra de pescadores, onde um deles pergunta se queremos comprar polvo fresco. Sara aproveita a dica (“temos bom peixinho”), referindo-se ao restaurante onde trabalha com mais elogios: “Tens de encontrar felicidade em tudo o que fazes. Ali conheces boas pessoas, tens uma vista do caraças, dão-te almoço, comida caseira.”

Ju, a colega vinda de São Tomé, desconhecia que ela fosse tão mediática. Gaba-lhe a camaradagem: “É brincalhona, preocupa-se com os outros. Fazemos o mesmo horário, ela vai buscar-me e levar-me a casa.” Ju deu-lhe a experimentar o peixe-andala, quase sem espinhas.

Uma vida sem espinhas, linear, é algo estranho para Sara. Prefere falar de experiências, eufemismo para o ano da desgraça, 2012, quando foi presa em Algeciras, Espanha, por tráfico de 800 gramas de haxixe no estômago, e a mãe (atriz Carla Lupi) morreu de cancro do pulmão. Depois de cumprir 16 meses de pena, saiu em 2013 (faz este mês oito anos) e, desde então, acumula trabalhos precários. Já foi marinheira, gerente de restaurante, empregada de mesa noutro, au- Q

Sociedade

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2021-06-24T07:00:00.0000000Z

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