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Carlos Rodrigues Lima

Subdiretor Carlos Rodrigues Lima

APENAS HABITUADOS À PEQUENA INTRIGA E SUSPEIÇÃO de ocasião, poucos terão ainda percebido que há futebol na televisão, bom futebol. Por muito estranho que possa parecer, o futebol resume-se a um jogo entre duas equipas com 11 para cada lado. É verdade. E, também por muita confusão que isso possa criar, nem sempre se ganha. Daí ser um jogo.

Mas o mais interessante neste futebol é que só se fala de futebol. Das opções e maravilhas táticas, dos golos, das substituições, dos dois trincos, da necessidade de descida dos extremos para ajudar os laterais com maior tendência a descair para o centro, em apoio dos centrais. Talvez ainda não tenham dado conta, mas ainda não se debateu à náusea a arbitragem, os protocolos dos VAR, as nomeações. Ainda ninguém descobriu que um qualquer árbitro, há uns bons anos, já prejudicou esta ou aquela seleção e que, por isso, não é o mais indicado para um determinado jogo.

Também ainda ninguém escreveu sobre o critério de nomeação dos árbitros: se o A é o mais bem indicado para o jogo X ou se era preferível o B e se a comissão de arbitragem da UEFA é dominada por este ou aquele país ou pelos interesses dos detentores dos direitos de transmissão dos jogos.

Portanto, só temos de agradecer à seleção nacional a qualificação para o Euro 2020 ou 2021, como preferirem. Se assim não tivesse acontecido, por esta altura, as páginas dos jornais ainda estariam inundadas de dirigentes a vomitar veneno, associações profissionais (árbitros, treinadores e jogadores) a atiçar lume e suspeições intermináveis, estas muito por culpa do Ministério Público que faz gala de dizer ter uma mão-cheia de investigações em curso mas, até agora, de resultado zero.

Todas as equipas de futebol profissional portuguesas deveriam entrar numa competição europeia anual. Seria mesmo uma obrigação, algo a que não pudessem fugir, mesmo fazendo por perder todos os jogos. Ir a competições europeias ou internacionais higieniza o futebol nacional. As competições internacionais estão para o futebol português como, antigamente, se dizia ser o papel dos colégios internos. Ir jogar ao estrangeiro tem um extraordinário efeito educativo. Além de vestirmos o nosso melhor fato, mostramos saber refeiçoar com talheres. É todo um mundo novo à nossa frente que nos obriga a ser desportistas e não pequenos-médios arruaceiros da palavra.

Não é que, por aqui, se defenda o bacoco unanimismo à volta da seleção nacional. As escolhas, as opções técnicas de Fernando Santos podem e devem ser analisadas e criticadas. Ossos do ofício. Mas esta Federação Portuguesa de Futebol já nos mostrou que é capaz de ter a organização e – como se diz em futebolês corrente – a estrutura necessárias para levar o futebol português a um patamar que, muito dificilmente, qualquer clube (Sporting, FC Porto e Benfica) conseguirá atingir. Aqueles três só são “grandes” cá dentro. Nas competições europeias são facilmente banalizados por uma qualquer equipa do meio da tabela do campeonato inglês, italiano, espanhol ou alemão. Muito à conta de Ronaldo, é certo, a seleção nacional já entra em qualquer torneio como um dos favoritos, como uma equipa a ter em conta. Se Portugal é um dos “grandes” ao nível mundial, não é devido aos clubes, mas sim ao trabalho desenvolvido nas seleções, como no último Europeu de sub-21.

Seja qual for o destino da seleção nacional no Euro (na última quarta-feira, houve um jogo decisivo com a França, sendo por isso impossível prever, à hora de fecho desta edição, o futuro da seleção, ainda por cima com tanta Matemática à mistura), é preciso ter presente que o sucesso é efémero. O facto de contarmos com o melhor jogador do mundo, não faz da equipa de Fernando Santos a melhor equipa do mundo. Provavelmente, este Euro até servirá para preparar uma grande equipa para o próximo Mundial de 2022, no Qatar. Tal como os clubes, as seleções vivem de ciclos. W

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2021-06-24T07:00:00.0000000Z

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