Cofina

AS MULHERES QUE MANDAM NO CHEGA

São a Marta, a Rita, a Patrícia e a Ana: André Ventura chamou quatro para a direção. A estratégia é ter caras novas num partido que ainda é muito unipessoal.'

Por Margarida Davim

Em cada canto da sede do Chega há uma imagem de André Ventura. O “André” como todos se lhe referem é a cara de um partido que quer deixar de ser unipessoal. Rita Matias, Patrícia Carvalho e Marta Trindade acabam de chegar à direção e assumem a estratégia de dar outros rostos ao projeto político que, dizem, anseia pela “normalização”.

Apesar de só ter 22 anos, Rita Matias é a única que já era dirigente antes do congresso de maio. É ela que explica como cada uma destas mulheres foi trazida por Ventura para representar os problemas da sua geração. “Eu como mulher e jovem gostava de não estar numa situação precária, de aceder a um crédito à habitação. A Patrícia representa as mulheres que, na sua faixa etária, estão estagnadas no seu salário, com pouca perspetiva de futuro e sem possibilidade de avançar para um projeto de maternidade. E a Marta como mãe”, resume.

Marta Trindade, que sentiu na pele a dificuldade de conciliar a vida familiar com o papel de mãe, aproveita a deixa para lançar uma proposta. Defende um “aumento expressivo” da licença de maternidade, “gradual, mas a tender para os três anos”. Como? “O Estado. Tem de ser o Estado.” Isto, mesmo que Rita Matias acabe a assumir que “o Chega até defende um Estado mínimo, o menos presente possível”, quando quer desmistificar a ideia de que os apoiantes de Ventura põem em causa a democracia. “Associar o Chega a uma ditadura é incompatível”, assegura a dirigente.

Nenhuma das três tem problemas em admitir que há direitos a conquistar pelas mulheres, mas têm dificuldade em assumir-se como feministas. “Não gosto que me ponham um selo na testa”, reage Patrícia, a jornalista que passou a assessora de imprensa de Ventura e é agora vogal da direção. Rita Matias acha importante o “reconhecimento do papel do homem como homem e da mulher como mulher” e associa o feminismo à defesa da superioridade das mulheres.

Em Espanha, o Vox – que será o partido mais próximo do Chega – tem votado contra leis de combate à violência de género e são várias as declarações públicas de dirigentes (alguns deles mulheres) a atacar as feministas. Mas Patrícia, Rita e Marta asseguram que não há machismo no Chega. E Rita até dá o exemplo das leis contra a mutilação genital feminina (prática em algumas comunidades africanas) e os casamentos infantis (comuns na comunidade cigana) como propostas de defesa da mulher, que foram chumbadas “porque os partidos à esquerda preferiram

HÁ UMA “INFORMAÇÃO ENVIESADA” CONTRA O CHEGA, APONTA A EX-JORNALISTA PATRÍCIA CARVALHO

pôr uma cerca sanitária à volta do Chega”. E o Vox? Será machista? “Ainda agora elegeram a Rocío Monasterio para Madrid”, riposta Rita.

Filha do ex-líder do Partido Pró-Vida/Cidadania e Democracia Cristã (PPV/CDC), Manuel Matias, Rita defende até que o combate ao aborto é feito também em nome dos direitos da mulher. “Temos um discurso pela positiva, de defesa de dignidade da vida humana”, afirma, en

quanto Patrícia Carvalho nota que o Chega “não defende a penalização” de quem aborta.

Rita, Patrícia e Marta dizem-se mesmo antifascistas. “Mas não da mesma forma como os antifascistas que se afirmam assim”, ressalva Matias, que cita o socialista Sérgio Sousa Pinto para chamar “novos censores” a quem lhe envia “mensagens de conteúdo intimidatório e ofensivo” através das redes sociais.

Natural do Barreiro (onde é candidata à Câmara), Marta Trindade assegura nunca ter sido alvo de ameaças ou ataques nas ruas de um concelho esquerdista (“só nas redes sociais”). Mas assume que teve de ir estudar quando lhe começaram a chamar fascista. “Eu sou de Artes. Em cultura política estou ao nível do cidadão comum. Quando me começaram a chamar fascista, tive de ir ler sobre o fascismo. E, de facto, não me parece que seja uma coisa boa para voltar”, reconhece, ao mesmo tempo que defende que “nos aproximamos cada vez mais de uma ditadura”.

Duas mulheres vice-presidentes

Patrícia Carvalho vai mais longe. “Nós já estamos numa ditadura.” Depois de 10 anos de jornalismo, vê uma informação “enviesada contra o Chega” e aponta o dedo à falta de independência da Justiça.

A grande novidade desta nova direção é ter duas mulheres como vice-presidentes: Marta Trindade, que nunca teve qualquer responsabilidade política, e Ana Motta Veiga, que foi militante do CDS. Natural do Porto, Motta Veiga preferiu responder por escrito à SÁBADO e ficaram alguns dados por esclarecer.

Por exemplo, em que época foi militante centrista, explicando apenas que o foi “por pouco tempo”. De resto, nenhuma das fontes do CDS Porto contactada pela SÁBADO conhecia a ex-militante, arquiteta de profissão e descendente de uma família da Foz da qual saíram um ministro de Salazar e um conselheiro de Cavaco Silva como primeiro-ministro.

“Acreditei e acredito no projeto do Chega e colaboro desde então sempre que considerem que sou necessária e sempre que seja compatível com a minha vida pessoal ou profissional, numa perspetiva de cidadania ativa”, diz a dirigente, que já estava no Gabinete de Estudos, na área da Habitação, a convite do coordenador-geral Gabriel Mithá Ribeiro. W

ANA MOTTA VEIGA É DESCONHECIDA ATÉ NO PARTIDO. FOI “POUCO TEMPO” MILITANTE DO CDS E SÓ RESPONDEU POR ESCRITO

Portugal

pt-pt

2021-06-24T07:00:00.0000000Z

2021-06-24T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/282226603691343

Cofina