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Quando o candidato do PS era... do BE

Dos 15 aos 23 anos, deu nas vistas no Bloco. Era ativista pelos direitos dos animais e escrevia sobre ambiente. “Deixou de aparecer” depois de apoiar Soares em 2006.

Por Margarida Davim

Há dois anos, Tiago Barbosa Ribeiro criou um site em nome próprio em que divulga a sua atividade parlamentar. Nele descreve com detalhe o seu “percurso” político e profissional, mas não há uma palavra sobre a sua passagem pelo Bloco de Esquerda. Na verdade, é difícil encontrar o rasto desta sua pré-história política, mas ainda há quem no BE lamente a sua saída.

“Foi pena o BE o ter perdido”, comenta à SÁBADO um dirigente do Bloco no Porto, que acha que Barbosa Ribeiro foi “um jovem pouco aproveitado no BE, se calhar por ter posições próprias”. Nessa altura, o então bloquista criticava internamente o excesso de “controleirismo” e ia dando nas vistas por ser “muito interventivo”. Escrevia em blogues e revistas como a Combate, em que se debruçava essencialmente sobre questões ambientais.

“Coordenava um movimento antitouradas”, recorda o bloquista José Soeiro, que foi seu contemporâneo na Faculdade de Letras do Porto e que se lembra de alguém que era “animalista”, com um percurso de ativismo nessa área.

No BE Porto há quem se recorde de lhe ler textos “muito interessantes” com uma “visão marxista das questões ambientais”. Mas Tiago Barbosa Ribeiro não tem memória de os escrever e afasta-se da ideia – ainda presente em alguns bloquistas – de estar “muito, muito à esquerda do PS”. “O PS é a minha casa”, assegura à SÁBADO, explicando que o que fez sair do partido em que esteve dos 15 aos 23 anos foi uma evolução no pensamento. “Aderi ao BE no secundário, numa fase muito jovem. Passados alguns anos as pessoas vão tendo outro tipo de mundivisão.”

Cuba, meu amor?

NO BE, ERA MUITO INTERVENTIVO MAS CRITICAVA O EXCESSO DE “CONTROLEIRISMO”

Este “realinhamento” aconteceu apenas um ano depois de ter sido candidato a deputado pelo BE (no 18º lugar na lista pelo Porto), quando em 2006 apoiou Mário Soares na candidatura presidentariado cial. Nunca houve uma divergência pública que explicasse a saída do BE. “Deixou de aparecer”, resume Soeiro. A aproximação a quem estava então na campanha de Soares fê-lo sair para a JS, onde teve uma ascensão rápida. Em 2008, já fazia parte do secrenacional da Juventude Socialista.

Apesar da mudança de partido, há quem assegure que mantinha “uma costela muito à esquerda” mesmo quando já era visto como o delfim de Manuel Pizarro no PS Porto. “Chegávamos a ter discussões de café em que ele defendia que se vivia melhor em Cuba do que no Porto”, conta um membro do staff de Rui Moreira que privou com ele na câmara. Tiago Barbosa Ribeiro desvaloriza. “Não acho que em Cuba se viva assim tão bem”, diz agora.

“Sou um social-democrata que acredita na intervenção do Estado e na regulação do mercado”, resume, frisando que o currículo de ser coordenador da área do Trabalho do PS há seis anos desmente qualquer desalinhamento com o partido e classificando como “excessos das redes sociais” episódios polémicos como aqueles em que – já deputado socialista – chamou gangster a Cavaco Silva ou se fotografou com um charuto “a la Fidel”.

Entre os bloquistas do Porto há quem acredite que ter Barbosa Ribeiro como adversário pode tornar impossível a já difícil tarefa de eleger um vereador. “Para o BE não foi nada bom ele ser o candidato”, comenta uma fonte da concelhia bloquista. W

Sumário

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2021-06-24T07:00:00.0000000Z

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