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“A amizade do dr. António Costa tem-me prejudicado mais do que beneficiado”

Acabou por ficar conhecido como “o melhor amigo do primeiro-ministro” e por ser avaliado a essa luz. Durante hora e meia, falou da TAP, dos filhos, da ligação a Sines, e de muito mais, sem nunca alterar o tom de voz.

Helena Garrido Jornalista

Diogo Lacerda Machado, “o melhor amigo do primeiro-ministro”, como acabou por ficar conhecido, revisita todo o controverso processo em que apoiou o Governo sem remuneração. Sentia-se em dívida com António Costa por ter recusado ir para o Governo, diz. Reconhece que ambos cometeram “o pecado da generosidade”. Rejeita ver-se como lobista, fala das acusações de ter arranjado emprego para os filhos e do mais recente investimento, Sines 4.0, no qual esteve também envolvido. É nas questões sobre a TAP que as respostas são menos diretas. Considera “hilariante” dizer-se que a anterior gestão geria sem controlo, classifica como “imbecil” a perspetiva de olhar apenas para o resultado líquido, mas limita-se a afirmar que era a avaliação do ministro quando se pergunta se a TAP estava falida. Aos novos administradores dá “o benefício da dúvida”. Durante mais de uma hora e meia, no palácio da Quinta Patino, sede da Geocapital, Lacerda Machado respondeu às questões sem nunca alterar o tom de voz. Está disponível agora para integrar o Governo? A resposta é dada usando o conselho de um amigo.

“Depois de declinar o convite para o Governo, senti-me devedor com António Costa”

“Amigo do primeiro-ministro” é o seu novo apelido. Tem sido lucrativa esta amizade?

Tenho uma genuína admiração pelo António. Não me enganei, há quase 40 anos, sobre o que é que ia ser. Dizia-lhe que ia ser um estadista, um político de grande envergadura. Ele acreditava menos do que eu. Parte da simpatia, naquela altura, advinha de termos conversas sobre ideologia, doutrina, modelo de sociedade. Não estávamos exatamente no mesmo tom. Eu sempre fui onde estou hoje, social-democrata. Sou independente, embora não pareça…

E como é que se dá com um socialista que parece tão de esquerda?

Muito bem. Também já só consigo aprender com quem discordo e aprendo quase nada com quem concordo. E o António hoje é sobretudo um homem de Estado e, diria, é essencialmente um social-democrata.

Mas ainda não respondeu à minha pergunta. Tem sido lucrativa esta amizade?

A amizade do dr. António Costa [a partir do momento em que foi anunciada pelo primeiro-ministro numa entrevista] tem-me prejudicado mais do que beneficiado. Diria mesmo que beneficiado quase

Q nada. Porque tem havido oportunidades a que digo que não, porque a última coisa que podia permitir era extrair um benefício dessa amizade. Depois de declinar [o convite para integrar o Governo em 2015], em conversas muito difíceis no plano pessoal, senti que no momento decisivo eu faltei. E senti-me devedor. Mas disse-lhe: “Oh António, farei tudo o que puder, não tenho é de estar no Governo, quero aliás que sejas o melhor primeiro-ministro e que tudo corra bem.” Costumo dizer que é difícil medir a intensidade com que se apoia um Governo, mas eu peço meças porque já apoiava este há 40 anos. E o António já me tinha pedido para começar a conversar com os lesados do papel comercial do BES, assunto que eu resolvi. Pôs-se o problema da TAP. Em tempos tinha falado muito com o António sobre o que é que eu achava que era o modelo para a companhia. E disse-me: “Sobre a TAP vou ter de fazer escolhas e quero continuar a ter o teu conselho.” E eu disse: “É obvio.” Depois começou a negociação, sob a responsabilidade política do ministro Pedro Marques…

Além dos lesados e da TAP, ainda houve o caso do CaixaBank e Isabel dos Santos…

Isso é depois. Se eu quisesse fazer uma espécie de avaliação, volto à frase que disse ao António, quando ele dá a entrevista, em abril de 2016, e diz: “Convidei o dr. Diogo Lacerda Machado para vir para o Governo e ele não pode aceitar.” E depois disse outra coisa, com a franqueza que é característica dele: “E eu, que aprecio as qualidades dele, pedi-lhe para tratar de alguns assuntos muito difíceis. Não posso pedir isso ao meu melhor amigo?” Esta é a frase que marca. Eu estava em Bissau, telefonei-lhe: “Oh António, estou lisonjeado pela afirmação pública que fazes sobre a nossa amizade, que é recíproca, e agradeço. Agora vou dizer-te duas coisas: a primeira é que provavelmente perdi a minha identidade, a partir de agora sou ‘o teu amigo’; e a segunda é que arranjaste um sarilho político que era provavelmente inútil. Mas também te devo dizer o seguinte: como cometemos

Sobre a disponibilidade de integrar agora o Governo: “Nunca recuse um convite que nem sequer lhe foi feito”

“O António hoje é sobretudo um homem de Estado e é essencialmente social-democrata” Os filhos

“…Tenho três filhos. Também houve referências à minha filha. Nenhum, felizmente, precisa da ajuda do pai. Nenhum!”

ambos o pecado da generosidade, se calhar devíamos mesmo ter um contrato, nem que seja mil ou dois mil euros por mês.” Como aliás depois aconteceu durante um breve período de tempo. Porque, disse-lhe também, “a última coisa que me ocorreu foi pedir dinheiro, tendo eu ficado teu devedor no plano pessoal”. E isso foi um erro que ambos cometemos.

Tem formação em Direito e admito que seja um institucionalista. Nunca se apercebeu de que no quadro de um Estado de direito não fazia sentido o amigo do primeiro-ministro fazer uns favores ao primeiro-ministro?

Tomámos consciência disso, ele admitiu-o, eu admito. Volto a dizer que cometemos o pecado da generosidade. Não lhe falei disso porque achei que fiquei devedor porque declinei um convite, que não devia ter declinado, não fossem as condições extraordinariamente difíceis em que na altura me encontrava.

Quer partilhar essas condições?

Não, só dizer que infelizmente já desapareceram.

Significa que pode estar agora disponível para integrar o Governo?

Eu tive um grande amigo e sócio da advocacia com quem aprendi muitas coisas, o dr. Fernando Fonseca Santos. Um dia disse-me: “Oh Diogo, nunca recuse um convite que nem sequer lhe foi feito.” Isto não significa mais do que isso. Nem o convite foi feito, nem a predisposição foi anunciada. É questão que não se coloca.

Diz que esta amizade não tem sido lucrativa. Quer dar algum exemplo de projetos que tenha recusado para não criar problemas ao primeiro-ministro?

Quando o dr. António Costa se tornou presidente da Câmara Municipal de Lisboa, em 2007, prometi a mim mesmo que jamais trataria de qualquer assunto envolvendo a câmara enquanto ele fosse presidente. E não tratei.

Mas depois não fez o mesmo com o primeiro-ministro…

Não fiz o mesmo por razões de ordem moral, que já apontei. E porque o dr. António Costa me tinha pedido, em setembro de 2015, para tratar do problema dos lesados do papel comercial do BES.

Mas ia dizer quais foram os projetos que perdeu por ser amigo do primeiro-ministro.

Não vou especificar, até porque não seria correto para algumas pessoas que na altura me abordaram. Mas posso dizer que houve dois ou três casos que declinei. E que lhes disse: se os senhores acham que me estão a convidar não em função das mi

Lobista, nunca

nhas capacidades, mérito e do que vos posso ser útil no plano profissional, então é melhor que nem sequer se gere qualquer equívoco sobre isso.

Não foi essa a opção que tomou, por exemplo, quando decidiu ser consultor da empresa que integra o consórcio que ganhou o designado projeto Sines 4.0. Não deveria ter pensado duas vezes, já que era um projeto que envolvia uma decisão governamental?

Não envolvia nenhuma decisão governamental naquela altura. A primeira questão que se me colocou, quando fui procurado pelos promotores desse projeto, foi saber se era ou não incompatível com a minha condição, na altura, de vogal do conselho de administração da SGPS da TAP. Não era. Naquela altura estava-se na fase da formação da decisão de investir. E eu achei que tinha uma espécie de dever cívico de os levar, na medida do possível, a decidirem investir. Sabe porquê? Posso dizer que vivo com a tranquilidade de já ter saldado e compensado em dobro a ajuda pública do Estado à TAP. É o maior investimento estrangeiro desde a Autoeuropa – 3.500 milhões de euros. Contribuí, sem nenhuma remuneração.

Mas foi consultor sem contrapartida, remuneração?

Na fase inicial. Enquanto se tratava de eles tomarem a decisão de investirem. Vamos lá a ver se nos entendemos. Estes promotores não pediram nada, não pediram um cêntimo

“Não sei bem o que é isso de ser lobista. Se é paredes meias com um crime meio difuso que é o tráfico de influências, seguramente que não faço isso.”

a ninguém. O investimento é feito integralmente por eles. Pediram, depois, em janeiro. Então já eu estava a trabalhar verdadeiramente como consultor e ajudei a organizar o pedido de classificação como projeto PIN. Mas não falei a ninguém. Nunca falei com o dr. António Costa sobre esse projeto.

Nem com o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, que também é seu amigo?

Com o ministro da Economia, que também é meu amigo, tive uma reunião com os promotores em que foi apresentado o projeto. Mais nada. Nessa altura, já a decisão de investimento estava tomada, tratou-se de mostrar o que significava aquilo, designadamente no domínio da transição digital, que está na tutela dele. Outra acusação que lhe é feita é a de ter arranjado emprego para os seus dois filhos com a ajuda dos seus amigos no Governo…

… Tenho três filhos. Também houve referências à minha filha. Nenhum, felizmente, precisa da ajuda do pai. Nenhum! Vasculharam-me a vida toda, a partir daquela afirmação do

“Já só consigo aprender com quem discordo e aprendo quase nada com quem concordo”

primeiro-ministro. Foram às conservatórias, ver o que eu tinha ou não tinha. Não encontraram nada. Se há coisa que não tenho é fortuna. Vendo a minha capacidade de trabalho, não tenho nada a esconder. Quanto aos meus filhos, vamos começar pelo mais novo. Insinuaram que tinha sido o pai a pô-lo na IDD – Indústrias de Defesa Nacional. Se tivessem aprofundado, teriam percebido que o meu filho foi recrutado por uma equipa de gestão nomeada pelo então ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco. Hoje o meu filho é diplomata e entrou através de um concurso com mais de mil candidatos e provas públicas. E isso já não foi notícia. O outro meu filho foi um aluno brilhante. Podem perguntar aos colegas e professores. Teve prémios, bolsas de estudo, esteve nos EUA a estudar... Preparava-se para avançar para uma carreira académica na Bélgica quando o [ex-secretário de Estado da Internacionalização] dr. Jorge Costa Oliveira, que o conhecia desde sempre…

Desde pequenino, não é? Porque esteve consigo em Macau…

Também esteve comigo em Macau, sim. O Jorge ia fazer o seu gabinete e perguntou-me se me importava que falasse com o meu filho. E disse-lhe que com certeza, mas também disse que o meu filho estava orientado para fazer uma coisa completamente diferente. Mas ele aceitou e continuou com o dr. Eurico Brilhante Dias. Fica-me mal, mas eu sempre ouvi apenas elogios, particularmente de pessoas do mundo empresarial. Nem os meus filhos nem a minha filha precisaram da ajuda do pai. Isto é uma injustiça, não comigo, mas com eles. Não merecem isso.

Um outro tema que tem merecido atenção é a sua ligação ao grupo de Mário Ferreira. Que papel desempenha na Pluris Investments?

“É quase hilariante ouvir dizer que a equipa liderada pelo dr. Antonoaldo Neves geria sem controlo”

Sou administrador não executivo na holding do grupo Douro Azul, um grupo empresarial criado e desenvolvido pelo mérito e notável espírito empreendedor de Mário Ferreira, a que se juntou como acionista qualificado um fundo de investimento norte-americano de referência, o que dá hoje ao grupo uma estru

Q

Q tura institucional e económico-financeira muito robusta.

E participa ou participou nas decisões sobre a TVI?

Nunca tive nenhuma intervenção nos assuntos da Media Capital, que estão fora do perímetro da holding do grupo Douro Azul.

Não vê nenhum conflito de interesses entre o mundo da amizade, da política e dos negócios? Não se sente como um lobista?

Não sei bem o que é isso de ser lobista. Se ser lobista é paredes-meias com um crime meio difuso que é o tráfico de influências, seguramente não faço isso. Não tenho sequer necessidade de o fazer. Não tenho nenhuma ambição do ponto de vista económico, a não ser ter uma vida normal e discreta. Sou sobretudo advogado. Aos 7 anos anunciei que queria ser advogado. Quando vi ou pressenti conflitos, a solução foi nem sequer experimentar vivê-los. Não, nem pensar.

Participou na reconfiguração da reprivatização da TAP, é nomeado administrador não executivo e demite-se em março de 2021. Porque é que se demitiu?

Simplesmente achei que tinha esgotado a minha contribuição para a TAP. Fui um dos responsáveis pela renegociação com a Atlantic Gateway. E os privados aceitaram investir o mesmo ficando com 45%, em minoria. Essa história de que o Estado tinha perdido o controlo estratégico da TAP é estúpida e completamente errada. O Estado permaneceu sempre o dono do futuro da companhia. O que foi acordado em 2016 com a Atlantic Gateway foi um plano estratégico, um plano de negócios e um projeto de transformação operacional, ou seja, mudança de frota. Como presidente da comissão de estratégia da TAP, a partir de setembro de 2019, obriguei a que se fizesse uma avaliação sobre os compromissos estratégicos. É quase hilariante ouvir dizer que aquela equipa de gestão liderada pelo dr. Antonoaldo Neves geria sem controlo. Porquê? O que se disse é que os representantes do Estado não tinham qualquer informação e que Antonoaldo geria

conforme lhe apetecia.

Tinham a informação toda que quisessem. Sabem o que acontecia nos 15 anos anteriores, com o dr. Fernando Pinto? Alguém sabe dizer quem era o presidente do conselho de administração? E bem, em certo sentido, já que o dr. Fernando Pinto, com a sua equipa de gestores brasileiros, geriu a TAP durante 15 anos no interesse da companhia. Mas do ponto de vista do controlo? Só por brincadeira, só pessoas ignorantes ou mal-intencionadas é que podem dizer uma coisa que não é verdadeira.

Ainda não me respondeu à pergunta da razão da sua demissão. Entrou em rota de colisão com o ministro Pedro Nuno Santos?

Nunca entro em rota de colisão com ninguém. Sou adepto da mediação, do diálogo, para resolver problemas. Tenho larguíssima experiência de estar em conselhos de administração em vários países e atividades. Se há coisa que sei bem é que não há como um bom processo de decisão feito de troca de impressões profunda e completa até ao fim. Mas também sei que, a partir do momento em que há uma deliberação, estamos todos vinculados a executá-la, mesmo aqueles que na fase de discussão tiveram uma perspetiva que não era coincidente. Enquanto fui vogal mantive este princípio. Nunca entraria em colisão com ninguém.

Houve alguma violação desses princípios para que se demitisse?

Entre 17 de dezembro de 2015 a fevereiro de 2020 o caminho foi valorizar a companhia. Seria o Estado português a escolher o que iria acontecer a seguir. As pessoas que só olham para o resultado líquido, perdoe-me a expressão, têm uma perspetiva imbecil. O que interessava era o resultado de exploração, aí é que a mudança estava a acontecer. Na avaliação externa, que, como presidente da comissão de avaliação estratégica, impus que fosse feita, em perto de 70 parâmetros foram cumpridos 68. E os dois que não foram cumpridos foi por margens mínimas. Por exemplo, o resultado de exploração: o objetivo era ser de 600 milhões em 2020, vindo dos 112 em 2015, e em 2019 o resultado de exploração

“Não conheço ninguém [dos administradores novos da TAP]. Vamos dar-lhes o benefício da dúvida”

foi de 587 milhões. Além disso, a TAP financiou-se no mercado nacional e internacional em 2019. E a fila de interessados em comprar a TAP era imensa. Tornou-se publico que a Lufthansa estava interessada na TAP. E avaliou a TAP em muitas vezes mais que os 10 milhões de euros pelos quais foi vendida em 2015, para aí cem vezes mais.

Ou seja, a TAP entra na pandemia financeiramente sólida e com muitos interessados em comprá-la. Como é que explica que o ministro Pedro Nuno Santos tenha dito que a TAP era uma empresa falida?

Era a avaliação que ele fazia, que eu tenho de respeitar. Nunca ninguém me ouvirá discordar, muito menos publicamente, do membro de um Governo que eu apoio absolutamente e que é chefiado pelo meu melhor amigo – está a ver como a amizade é uma limitação?

Mas discorda da opinião dele?

Tudo aquilo que tinha de expressar sobre a TAP fi-lo no lugar próprio, no conselho de administração. Nunca faltou abertura, franqueza, em dias inteiros de reuniões do conselho de administração após a pandemia. Achei que tinha outra missão, que era trabalhar na proposta do plano de reestruturação. Dediquei dias consecutivos a essa tarefa. Quando terminou e se apresentou o plano de reestruturação ao Governo, que o levou à Comissão Europeia, considerei que o que tinha justificado ser administrador da TAP, outro dos meus sonhos infantis, estava essencialmente cumprido. A partir daí haveria outras pessoas a bater-se contra aquilo que para mim é impensável, que é a companhia não continuar a existir. Não sei viver sem ver os aviões da TAP voar e sem andar neles.

Sempre se deu bem com o ministro Pedro Nuno Santos nesta negociação?

O meu lugar era de vogal do conselho de administração da TAP e o ministro faz parte do Governo que é dirigido por António Costa.

Como avalia a nova administração?

Não conheço ninguém.

Não me parece um bom sinal que um conhecedor do setor não conheça ninguém… Nem a presidente da comissão executiva?

Não. Entretanto vi. Vamos dar-lhes o benefício da dúvida e esperar que seja uma boa surpresa. É o que me ocorre dizer. Preferia e esperava menos mudanças, mas, tornadas inevitáveis, vale a pena olhar para as virtudes que a equipa pode ter, dar-lhes o benefício da dúvida e exigir que ponham a TAP em condições. É essencial para a minha existência.

“As pessoas que só olham para o resultado líquido [da TAP], perdoe-me a expressão, têm uma perspetiva imbecil”

“O ministro Pedro Nuno Santos disse que a TAP estava falida: “Era a avaliação que ele fazia, que eu tenho de respeitar”

Era necessário substituir Miguel Frasquilho?

Como disse esperei que houvesse menos mudanças.

O que antecipa para a TAP? Vai desaparecer ou ser um novo Novo Banco? É possível salvá-la?

Nem uma coisa, nem outra. Esta pandemia é um tempo estranho, mas quando acabar nós estamos no mesmo sítio, a TAP está no mesmo sítio do ponto de vista geoestratégico. Isso não significa que a estrutura de custos não tenha de ser reduzida. Tem de ser possível salvar a TAP. Não concebo outra coisa. É dificílimo, porque hoje em dia as companhias já estão todas metidas num grupo. O negócio de aviação é de escala, de margens baixas.

Está otimista em relação ao futuro da TAP?

Estou comedidamente otimista. Não concebo a minha própria existência sem a TAP.

O plano de reestruturação não devia estar já aprovado?

Aí sim, concordo. Apresentei a carta de renuncia a 2 de março, a minha perspetiva e da eng. Esmeralda Dourado era que o plano estivesse aprovado em finais de março. O atraso pode ser explicado pela quantidade de casos que a Direção-Geral europeia da Concorrência tem em mãos.

Foi responsável pelo cartão do cidadão, pelos alicerces do Simplex, a reforma do notariado, os Julgados de Paz. Não tem vontade de se lançar numa outra reforma?

A palavra reformas está gasta politicamente sobretudo as que mudam na forma. Fiz o meu serviço cívico quando fui secretário de Estado, destruí a minha vida profissional, mas não me posso queixar.

Não destruiu. Aliás diz-se que é melhor ser ex-governante do que governante.

É verdade. Não aconteceu comigo, voltei à advocacia. Não tenho nenhuma ambição.

Nem tem nenhum sonho de contribuir para o País. A Justiça, por exemplo, precisa de uma reforma, sabe isso?

A Justiça precisa de uma reforma a sério, até porque o último reformador foi o Mouzinho da Silveira. A Justiça ainda está agarrada ao mundo epistolar. E o mundo hoje é audiovisual. Em 1999, o telefone ainda não tinha chegado aos tribunais. W

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