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“Centralização não será um Robin dos Bosques”

Em setembro foi anunciada a criação de um grupo que iria apresentar soluções para a centralização dos direitos da Liga em fevereiro. Já há conclusões?

TM – Foi definida a criação de uma empresa que está a fazer a gestão do processo. E vai fazer-se, na cimeira de presidentes, um update do que tem sido o trabalho desta empresa.

Ⓡ É possível levantar a ponta do véu?

TM – É o processo mais definidor do futebol português nas últimas décadas. [A sua inexistência] tem sido um entrave para o crescimento e acho que é justo dar aqui um quinhão considerável de mérito ao presidente da Liga.

Ⓡ Será possível ter essa centralização já em 22/23, como terá sido prometido pelo presidente da Liga, conforme disse António Salvador?

TM – O que o presidente demostrou foi a ambição de centralizar os direitos mais rapidamente possível, se possível já na próxima época. Quem ditará quando é que poderá ser feito e de que maneira, será o próprio mercado.

Ⓡ O processo iniciou-se com a FPF e a Liga a anunciarem a criação de uma empresa detida em 50% por cada uma das partes, mas entretanto a FPF ficou de fora. O que se passou?

TM – A Federação e a Liga, estão, para que fique claro, totalmente alinhadas sobre este processo. Não há aqui nenhuma clivagem. Simplesmente os clubes, em cimeira de presidentes, entenderam que queriam um modelo ligeiramente diferente. Quando chegar a altura de apresentar o modelo, será em conjunto entre Liga e FPF.

Ⓡ Os 18 clubes em Portugal recebem perto de 180 milhões por ano; a liga belga vale 103 milhões; a holandesa, 80; a turca, 175; a austríaca, 40. A Liga portuguesa pode ambicionar a mais do que os 180?

TM – Temos vários estudos, uns mais otimistas e outros mais conservadores, que apontam para um valor a rondar os 250 milhões de euros. Acreditamos que há várias áreas onde os direitos podem crescer, nomeadamente no internacional e no digital e há outras novas oportunidades.

Ⓡ Nesta altura o rácio entre quem mais recebe e quem menos recebe em Portugal é de cerca de 1:14, em Inglaterra esse valor anda à volta de 1:1,5. Qual é o objetivo em Portugal?

TM – A centralização não será o Robin dos Bosques a tirar aos ricos para dar aos pobres. O objetivo é toda a gente ganhar. Se calhar não se consegue isso no primeiro ciclo, mas há uma premissa-base que será sempre respeitada: ninguém será prejudicado em relação aos contratos que tem hoje. Há uma base em vários países da Europa, que pode oscilar até 10 por cento para a frente ou para trás: cerca 50% do valor é distribuído de forma equitativa e outros 50 de forma variável – no nosso caso, parece claro que será à volta de 25% associados ao mérito desportivo e 25% associados à dimensão social de cada clube.

Ⓡ Quem é que, fora de Portugal, vai pagar para ver jogos da nossa Liga?

TM – O problema é a escassez de informação sobre quem é que atualmente vê a liga portuguesa. Ao não termos um modelo centralizado, temos pouca informação sobre o maior ativo do nosso produto: quem é que vê, em que dias, como, em que países? Sabemos que há capas de jornais em países que têm jogadores na nossa liga, mas não sabemos como fazer essa monetização, como encontrar estratégias locais de ativação do produto. Estamos na indústria do entretenimento, que é alimentada por adeptos. Há muita gente pelo mundo que vê a liga portuguesa. Quem são? Nós devíamos saber e controlar o que temos que fazer em cada mercado para que, no final de cada ciclo, haja mais gente a ver. Como não temos o produto centralizado, não o conseguimos trabalhar de forma coletiva e isso impossibilita-nos de definir essa estratégia internacional.

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“TEMOS VÁRIOS ESTUDOS QUE APONTAM PARA UM VALOR A RONDAR OS 250 MILHÕES DE EUROS”

TIAGO MADUREIRA

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2022-01-21T08:00:00.0000000Z

2022-01-21T08:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281981790964011

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