Cofina

“Nunca mais ninguém quer ver 9 contra 11“

Diretor-executivo da Liga Portugal desde 2020, o dirigente de 40 anos fala sobre os planos para o futuro do futebol profissional, não fugindo a nenhum tema quente: do Belenenses SAD-Benfica aos atrasos na disciplina

SÉRGIO KRITHINAS

Estamos na 15ª edição da Allianz Cup e continua a ser uma prova questionada. Porque é que isso acontece?

TIAGO MADUREIRA – Acreditamos que isso hoje acontece muito menos do que acontecia há seis anos, quando fizemos uma intervenção profunda no posicionamento da competição, com a criação da final four, que é mais do que um mero modelo desportivo com três jogos e que estende por uma semana inteira uma festa do futebol. Desde essa intervenção que a Allianz Cup ganhou um peso e um prestígio que faz com que hoje todos os clubes assumam vontade de a vencer.

Ⓡ A prova foi criada numa altura em que a Liga era disputada por 16 clubes, em 30 jornadas. Agora, são 18 e 34 jornadas. Faz sentido mantê-la no calendário?

TM – Para nós, faz todo o sentido. É verdade que as coisas mudaram, passou a haver mais jogos e uma sobrecarga para as equipas que jogam competições europeias. Mas a prova foi criada numa lógica de distribuir verbas para os clubes mais pequenos, entre ligas, e para lançar jogadores jovens. A vertente económica é extremamente importante para um conjunto de clubes. E, sendo verdade que há clubes que têm uma condensação de calendário muito grande, que chegam a fazer 50 e muitos jogos numa época, mas há um conjunto de clubes que têm uma carga competitiva muito limitada – na época passada, 13 das 18 equipas da jogaram 38 ou menos jogos. Há uma assimetria muito grande. Temos tentado encontrar modelos de equilíbrio, porque é necessário que as equipas que jogam provas europeias estejam em jogo, com pequenos ajustes à competição. Este ano, por exemplo, reduzimos a fase de grupos a três equipas, de forma a retirar um jogo às equipas que estavam apuradas para a fase de grupos das competições europeias.

Ⓡ Há muita gente, até dos clubes, que acusa a Liga de ter criado um formato que protege os grandes. É uma competição feita para os grandes?

“ESTAMOS A TRABALHAR COM OS CLUBES E A SOLUÇÃO PASSARÁ POR SOBREPOR A TAÇA DA LIGA COM O MUNDIAL DO QATAR”

TM – Isso é dito de forma recorrente, mas se formos ver os dados percebemos que não é bem assim. Este conceito de final four, que sempre foi usado noutras modalidades, começa a ser replicado noutras competições de futebol. Este modelo aumenta o valor para as marcas, para os patrocinadores, para os detentores de direitos audiovisuais – na edição da época passada, os três jogos tiveram uma audiência acima dos 2 milhões de espectadores, e o Sp. Braga-Benfica foi o jogo mais visto nas competições nacionais desde 2015. Sobre a questão da democraticidade da competição, fazemos comparativos com outros modelos e competições. Nos 15 anos de Taça da Liga, tivemos 19 semifinalistas e 10 finalistas diferentes; na Taça de Portugal, nos mesmos 15 anos, teve 23 semifinalistas e 10 finalistas. Não é muito diferente. E desde que existe Taça de Portugal com meias-finais a duas mãos, em 2008/09, a única vez em que uma equipa não grande eliminou uma grande nessa fase foi na época passada, quando o Sp. Braga derrotou o FC Porto.

Ⓡ Com o próximo Mundial a ser disputado no inverno, o modelo vai ter que ser repensado…

TM – Estamos sempre à volta da mesma questão. O calendário da próxima temporada é um desafio que nunca existiu: os campeonatos terão uma interrupção que vai desde a segunda semana de novembro até dia 18 de dezembro, sendo que depois as duas semanas seguintes metem Natal e Passagem de Ano, o que dá uma pausa de quase mês e meio, sendo que o início e o fim do calendário não oscilam assim tanto do que é o normal. Isso colocava uma pressão muito grande, sobretudo às equipas que jogam competições europeias, que têm de ser protegidas.

Acreditamos que as ameaças podem ser oportunidades.

Ⓡ Qual a solução que tem na cabeça?

“O NOSSO OBJETIVO É QUE O VALOR SEJA DA TAÇA DA LIGA SEJA MANIFESTAMENTE ACIMA DO ATUAL. QUANTO? DUPLICAR”

TM – Temos campeonato parado um mês e meio e o volume de jogadores que vamos ter no Mundial não é assim tão considerável, pelo que a maior parte deles estariam inativos nesse período. Falámos informalmente com alguns treinadores e estamos a trabalhar com os clubes e a solução passará por sobrepor a Taça da Liga com o Mundial do Qatar. Isto resolve o problema o problema da inatividade dos plantéis. Vamos ter que criar um modelo transitório que garanta um número mínimo de jogos para todas as equipas, even

tualmente com 8 grupos, depois quartos de final e a final four a manter-se no mesmo período de janeiro. No ano seguinte voltará ao modelo normal.

Não haverá problema com a sobreposição de jogos com os do Mundial?

TM – Irá haver necessidade de ajustes de horários, sobretudo na fase inicial do Mundial. Mas acho que é uma grande oportunidade para operadores, que vão ficar sem ligas nacionais ou provas europeias nesse período e que de repente têm aqui uma solução.

E o nome vai manter-se?

TM – Estamos no final de um ciclo, que teve muito valor acrescentado. A Taça da Liga também foi durante muito tempo colocada em causa porque nem uma data para a final conseguíamos encontrar. Houve anos em que foi jogada a meio da semana, noutros já no final da época – aliás, na última época antes do modelo da final four, foi jogada na antevéspera da final da Taça de Portugal e isso só foi possível porque os finalistas eram diferentes. Este reposicionamento de marca, que também puxou a Taça da Liga para janeiro, permitiu acrescentar muito valor em todas as áreas. A final four é um evento singular no país.

Acredita que, no próximo ciclo, vai ser possível aumentar a receita global da Taça da Liga?

TM – Tenho a certeza. A Taça da Liga foi feita para, a cada ciclo, ser capaz de gerar mais valor.

Vai continuar em Leiria?

TM – Sim, temos um acordo que foi fechado por três anos e o ano passado foi considerado um ano zero. Este novo modelo é muito rentável para as autarquias que o recebem. E quem sabe se, no final deste ciclo de Leiria, não estaremos a pensar em fazer a final four noutro território que não seja o português.

Qual é o bolo de receitas total da Allianz Cup?

TM – É um dado privilegiado. O nosso objetivo é que o valor seja manifestamente acima do que acontece atualmente. Quanto? Duplicar.*

PRIMEIRA PÁGINA

pt-pt

2022-01-21T08:00:00.0000000Z

2022-01-21T08:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281973201029419

Cofina