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VIEIRA QUERIA COMISSÕES A DOBRAR

Moreira alertou Vieira que não podia fazê-lo e Paulo Alves lembrou outras intermediações

RAFAEL SOARES

Paulo Alves, gestor financeiro do Benfica, lembrou as contratações de Zivkovic e Yony González como casos em que os encarnados pagaram comissões a mais do que um intermediário, que agiram em representação do clube, revelam as escutas do processo ‘Cartão Vermelho’. Trata-se, tal como recorda a Autoridade Tributária (AT), de um procedimento que não é aceite em termos de custos fiscais. A conversa deu-se, segundo o Fisco, após Luís Filipe Vieira ter questionado Miguel Moreira precisamente sobre a possibilidade de existir num contrato dois intermediários a representar o clube de modo a proceder ao pagamento de duas comissões num negócio. O então diretor-financeiro encarnado contrariou o presidente dessa altura. Miguel Moreira não terá ficado convencido com a reação do líder das águias e pediu a Paulo Alves para avisar Vieira no mesmo sentido, caso o dirigente estabelecesse um contacto para abordar o assunto. O administrador lembrou que já não havia casos destes nos últimos dois ou três anos, sendo que a conversa decorreu em agosto de 2020. Já Paulo Alves afirmou ter visto “de tudo nesta casa”, mas acedeu ao apelo de Moreira. Pedrinho, de resto, foi outro caso, mas Miguel Moreira salientou que foi colocado um intermediário no contrato de transferência e outro no de trabalho. Tal não poderia acontecer com a contratação de um jogador livre. Neste capítulo, os investigadores intercetaram várias chamadas sobre as negociações com Edinson Cavani, alvo das águias no verão de 2020. Perante as conversas com vista à contratação do avançado, Miguel Moreira lembrou Vieira que só poderia ser incluído um intermediário e questionou o presidente se iria haver comissões à margem da que já estava inserida dentro dos 18 milhões de euros líquidos previstos para a totalidade do contrato do uruguaio e que seriam pagos em seis anos.

“Vai haver para pagarem ao outro gajo que tem andado a tratar disto”, disse Vieira, que depois esclareceu que dentro desse ‘bolo’ só estava previsto o valor referente ao “outro lado”, numa alusão, possivelmente, ao empresário do jogador. “Mas deste lado, a pessoa que está a tratar disso... nós temos que pagar às pessoas”, acrescentou Vieira, apontando o nome de Vicente Montes. Miguel Moreira, por sua vez, explicou que esse valor teria de ser incluído “dentro” do tal ‘bolo’ correspondente a 18 milhões de euros.

Nesta medida, naturalmente, o valor a pagar pelo Benfica tornou-se mais alto, sendo que as exigências dos representantes de Cavani também não seriam exatamente aquelas que Vieira projetava. Numa outra chamada telefónica, Tiago Pinto, diretor para o futebol profissional das águias nessa altura, e Miguel Moreira disseram que pagar 24 M€ líquidos poderia criar um problema no plantel e sublinharam que, com as comissões, a quantia chegaria aos 30 M€. Assim, Miguel Moreira sugeriu a Tiago Pinto para dizer ao presidente que o negócio não poderia

“NÓS TEMOS QUE PAGAR ÀS PESSOAS”, DISSE O ENTÃO LÍDER DAS ÁGUIAS AO DIRETOR-FINANCEIRO SOBRE CAVANI

passar dos 18 M€. Como é sabido, as negociações caíram por terra e o uruguaio rumou ao Manchester United, por quem ainda atua.

Utilização de agentes

De acordo com as escutas, os empresários Giuliano Bertolucci e Bruno Macedo foram pagos pelo Benfica na contratação de Everton ao Grémio, no verão de 2020. No entanto, Tiago Pinto sentiu que ambos os agentes trabalharam para defender os interesses do jogador e não o das águias, como seria expectável. Miguel Moreira entendia que a opção de Vieira em enviar empresários para contratar jogadores representava um custo acrescido com pouca lógica, quando Tiago Pinto ou Rui Costa, a título de exemplo, poderiam exercer essas funções.

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AROUCA BENFICA

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2022-01-21T08:00:00.0000000Z

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http://quiosque.medialivre.pt/article/281638193580331

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