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JOÃO BARROSO SOARES Editor literário e dirigente do PS

Honra-me o Jornal de Negócios com um convite para escrever um artigo sobre as “crises políticas” com que temos tido de lidar nos últimos tempos. Agradeço o convite, mas opto por seguir outro caminho. Um caminho pela positiva, para além da espuma mediática das ditas “crises”. Apresento seis propostas que considero factíveis eventualmente ainda neste mandato legislativo. E que podem e devem ser executadas com os recursos de que dispomos, e poderemos dispor também no quadro da UE, mas não só. São propostas que pessoalmente considero de relevância para o nosso país. Sei que algumas delas terão dificuldade em encontrar a coragem de decidir e querer executá-las.

1

Remodelação completa da rede ferroviária nacional. A realizar com um acordo bem balizado com a China. Que é neste momento um dos líderes mundiais em matéria ferroviária. Acordo com o compromisso da desejável integração, dentro do possível, da indústria e inteligência portuguesa no projeto e na sua execução. Mas com um calendário que deve ser ditado pela mais-valia que também nessa matéria os chineses nos podem trazer. Três meses para definição de percursos das linhas, novas. No essencial, ligações a todas as capitais de distrito, e às redes ferroviárias espanholas que asseguram a ligação às redes europeias. Alta velocidade no eixo Norte- Sul, Porto, Lisboa, Faro e num dos eixos de ligação a Espanha. Três anos para execução da obra. Estes timings resultam do estudo que fiz das últimas obras da mesma natureza realizadas na China nos últimos anos em matéria ferroviária. A totalidade da nova rede ferroviária nacional deverá ser inteiramente com bitola europeia e via dupla. 2

Abandono definitivo do logro de um novo aeroporto internacional de Lisboa com que ciclicamente nos atormentam há mais de cinquenta anos. Remodelação profunda com relocalização da aerogare do Aeroporto Humberto Delgado na Portela de Sacavém. Construção de “táxi-ways” que acompanhem as pistas 03/21. A existente e uma paralela a construir. Obra que é possível realizar e concluir em três anos, e sem bloquear o funcionamento do aeroporto. Integração na área do aeroporto do espaço contíguo ocupado pela Força Aérea e pela CML. Relocalização em Beja de todas as grandes operações e hangares de trabalhos de reparação de aviões. 3

Aposta no mar em vários eixos fundamentais e imediatos. Marinha Portuguesa, investimento na construção nos Estaleiros de Viana do Castelo de cinco novos navios-patrulha oceânicos classe Viana do Castelo, e também do navio-projeto da Marinha (e da Universidade). Um novo navio de maiores dimensões, de acordo com o já esboçado pela Marinha Portuguesa. Compra no mercado internacional em segunda mão, mas em bom estado para poder durar pelo menos mais vinte anos, de um navio reabastecedor que colmate a falta do NRP Berrio que não deveria ter sido abatido pela nossa Marinha.

Apoio em linhas de crédito ágeis aos armadores da Marinha Mercante, os poucos que existem e os que venham a aparecer, para triplicarmos em três anos o efetivo da nossa Marinha Mercante e também da frota pesqueira.

Incentivo sólido às universidades que se ocupam do mar, recursos e biologia marítima, para que se articulem entre si e sobretudo com os armadores, as empresas pesqueiras e conserveiras, e produtores de aquacultura. Programas que devem ser estimulados pelo Estado português de cooperação com universidades e entidades estrangeiras algumas mesmo de fora da União Europeia.

4

Desenvolvimento dos centros de excelência que existem e venham a ser criados nas áreas da saúde, educação, e formação empresarial do nosso país. Financiamento claro e suficiente de espaços de startups para empresas já existentes, ou a criar no interior do país. Nomeadamente em áreas próximas da fronteira com a Espanha. Com terrenos a ceder em condições quase graciosas pelo próprio Estado português. Que deverá usar o seu vasto património, ou mesmo adquirir e/ou expropriar. Estabelecimento de cobertura integral do território nacional por redes 5G de utilização geral e gratuita. A rede 5G deve começar do interior para o litoral, privilegiando, portanto, o interior. Pode e deve transformar-se Portugal em três anos, ou mesmo menos, num país “wi-fi free”.

5

Construção pelo Estado português sempre que possível em parceria com as autarquias de uma vasta bolsa de habitação social com qualidade, com o nível que têm a preços proibitivos e especulativos, a habitação disponível no mercado para a chamada classe média. Qualidade também no plano urbanístico com foco territorial prioritário no interior do país. Reforçando novas centralidades nas zonas do interior, algumas próximas mesmo da fronteira com Espanha. Ter em atenção neste plano a rede de universidades e institutos politécnicos que já existem. Podendo até nalguns casos considerar a relocalização de outros. Nomeadamente, os sediados em Lisboa e Porto.

6

Apoio claro à recuperação do património histórico construído. Numa grande frente nacional de obras públicas que mobilize as escolas técnicas existentes em matéria de recuperação e conservação de património. Edificação ou adaptação de edifícios e espaços existentes para cedência a preço simbólico de espaços de ateliers e pequenas oficinas a jovens e mesmo menos jovens, autores, criadores, artífices e/ou produtores que deles precisem. Privilegiando sempre as soluções no interior do nosso país, e obviamente contemplando em condições de igualdade a emigração que nos procura, ou possa desejavelmente vir a procurar. Portugal pode e deve fervilhar ainda mais em termos de criação nas mais variadas áreas.

Abandono definitivo do logro de um novo aeroporto internacional de Lisboa.

A totalidade da nova rede ferroviária nacional deverá ser inteiramente com bitola europeia e via dupla.

OPINIÃO

pt-pt

2023-02-07T08:00:00.0000000Z

2023-02-07T08:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281831467887608

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