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A ironia do poder

Maovisivel@gmail.com JOAQUIM AGUIAR ÁLVARO NASCIMENTO ANTÓNIO NOGUEIRA LEITE JOAQUIM AGUIAR PAULO CARMONA

Ailusão do poder acontece quando ao poder conquistado não corresponde o poder exercido. O eleitorado decidiu atribuir o poder a quem não tinha capacidade para o utilizar de modo adequado, que o aplique numa estratégia de desenvolvimento e de modernização. A democracia não garante que nas eleições sejam escolhidos os melhores, aqueles que não se resignam a ficar presos na ilusão do poder. Mas a democracia tem os instrumentos adequados para afastar do poder aqueles que fracassam no seu exercício do poder e sem que seja necessário recorrer à violência, bastando explorar a ironia do poder para que esta torne evidente a distância entre as promessas apresentadas em campanha eleitoral e as realizações efectivas quando já estão nos lugares do poder.

É uma ironia do poder que os bons números na economia, que confirmam a qualidade do programa de ajustamento elaborado pelos técnicos da troika de credores em 2011 e que foi

“No período actual, os bons números fazem ricochete: um brilharete no défice ou na dívida não é compreendido por quem pede mais do Estado. É um ciclo novo e perigoso.”

EXPRESSO entregue a Passos Coelho para que este o concretizasse, apareçam quando estão no poder, e até com maioria absoluta, aqueles que não só substituíram Passos Coelho na chefia do governo, ainda que sem o terem derrotado em eleições, como justificaram a sua rejeição do governo minoritário do PSD com a sua oposição radical ao programa de ajustamento proposto pelas instituições credoras.

O poder que António Costa apropriou ao estabelecer uma coligação tácita para impedir a formação de um novo governo de Passos Coelho revelou-se uma ilusão que conduziu ao fracasso dessa coligação informal, mas que também evoluiu para a formação de um Governo de maioria absoluta do PS, que pode agora governar sem pedir autorização a ninguém. Tendo chegado ao poder opondo-se ao programa de ajustamento, mas tendo exercido o poder respeitando as coordenadas desse programa e assim obtendo bons resultados na economia e uma maioria absoluta na política, o PS soube aproveitar a ironia da política, mas pode estar agora a enfrentar uma última ironia: se os resultados obtidos são tão positivos, porque não os distribuir já para compensar os sacrifícios impostos para obter esses resultados positivos?

Quem beneficia da ironia do poder e não o quer reconhecer e explicar acabará por ser vítima dessa mesma ironia do poder.

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

RICARDO COSTA

3 DE FEVEREIRO DE 2023

OPINIÃO

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2023-02-07T08:00:00.0000000Z

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