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Alívio, só em 2024

Apesar de as previsões apontarem para um abrandamento do aumento dos preços neste ano e no próximo, ainda reina a incerteza sobre a subida das taxas de juro e uma recessão.

Aforte deterioração do poder de compra em 2022 é um facto consumado. Para a maioria dos portugueses, a subida de rendimentos que, eventualmente, obtiveram no ano passado foi dizimada por uma taxa de inflação de 8,1 por cento. Feitas as contas, o poder de compra das famílias sofreu um revés significativo.

Ao mesmo tempo, a subida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu fez crescer as despesas com créditos, reduzindo ainda mais os orçamentos familiares. Neste momento, são várias as questões que se colocam.

Quão mau será 2023? No próximo ano, haverá melhorias? A inflação permanecerá elevada, forçando os bancos centrais a manter a política de juros altos? Ou uma acentuada recessão económica obrigará a refrear os preços e a baixar as taxas de juro? Os mais otimistas apostam num recuo sustentado da inflação sem se cair numa crise económica, mas a história não é um bom indicador. Com efeito, nenhum cenário é agradável. A médio prazo, o cidadão será sempre penalizado, com um misto de perda de poder de compra, nível de juros e taxa de desemprego.

Otimismo q.b.

As grandes instituições internacionais não anteveem uma recessão económica global, mas estimam uma inflação bastante elevada em 2023 face aos valores que se registavam antes de 2022. Na Europa, os preços deverão crescer entre 6% e 7 por cento. A previsão para Portugal é de 6,6 por cento. Nos EUA, o otimismo é maior. Aestimativa aponta para 3,9 por cento. China e Japão destoam com valores próximos de 2%, mas são economias onde a inflação não disparou.

A OCDE previa que a China fosse vítima dos efeitos da política de covid-zero, mas a recente viragem de 180 graus de Pequim muda essa premissa. No Japão, a deflação é crónica devido ao débil consumo interno. Só a subida dos preços da energia impulsionou a inflação.

Entre os grandes emergentes, México, Índia, Brasil e Indonésia terão taxas de inflação relativamente contidas. No passado, a subida dos juros pelo Fedconduziu a fortes depreciações das moedas emergentes, o que gerou mais inflação por via das importações.

Desta vez, os bancos centrais anteciparam-se e puseram o pé no travão bem antes do Ocidente. Destaque para o Brasil, que contornou, com sucesso, esse fenómeno.

Salvo um imprevisto, o panorama para as economias emergentes é relativamente risonho, embora, alguns países estejam em melhor posição do que outros. México e Indonésia são os nossos preferidos, para o investimento através de fundos de ações, e o Brasil via fundos de obrigações.

Em 2024, é expectável que a situação dos preços melhore. Não obstante, a inflação ficará bem acima das metas dos principais bancos centrais: 2% ambicionado pela Reserva Federal norte-americana e pelo Banco Central Europeu. Teremos um retorno à “normalidade”, em 2025?

Um novo futuro

A médio prazo, é incontestável que as taxas de inflação recuarão. Todavia, não há consenso sobre a dimensão dos danos sofridos pelas economias nos próximos trimestres devido à subida dos juros: abrandamento, recessão, aumento do desemprego. Várias empresas norte-americanas já anunciaram cortes de pessoal. É o caso da Google, da Cisco e da Amazon.

A longo prazo há uma dúvida que permanece e que será crucial para o dia-a-dia dos cidadãos, das empresas, dos Estados e dos investimentos: voltaremos aos valores de inflação e de juros anteriores a 2022, ou ficaremos permanentemente num patamar mais elevado? O primeiro cenário seria o desejável, pois, como se comprovou, criou condições para uma boa valorização dos ativos, e taxas de crescimento económico razoáveis. O segundo cenário levanta sérios desafios.

Todos os agentes terão de se adaptar a uma nova realidade, e até os bancos centrais serão forçados a rever em alta as suas metas de inflação, algo considerado sacrossanto para manter a credibilidade.

Essas mudanças teriam, inevitavelmente, consequências nos ativos, favorecendo, por exemplo, mais as obrigações do que as ações. Neste momento, é impossível prever com exatidão, dado o número de incertezas, nomeadamente o desfecho da guerra na Ucrânia e dos mercados da energia, embora o cenário aponte para uma descida da inflação.

GUIA FINANCEIRO

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2023-02-07T08:00:00.0000000Z

2023-02-07T08:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281762748410872

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