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Petróleo está de novo a caminho dos 100 dólares

Já há analistas a antecipar que o Brent regresse ao patamar dos três dígitos ainda este ano. Há vários fatores em jogo no tabuleiro geopolítico e estratégico, além dos normais imponderáveis.

CARLA PEDRO

O setor petrolífero russo continua a centrar as atenções em todo o mundo. Depois de, a 5 de dezembro, a União Europeia ter cortado – com algumas exceções – as importações via marítima de crude russo, no passado domingo implementou a segunda fase do boicote, ao fazer o mesmo com os produtos refinados, como gasolina, gasóleo, jet fuel e querosene. Há analistas que apontam para o Brent de novo nos 100 dólares por barril – e muito em breve.

O mercado olha para este xadrez energético com um foco mais afunilado, numa altura em que vários fatores entram em jogo: onde vai a Europa comprar esses produtos? Por onde irá a Rússia escoar, além das tradicionais fontes chinesa e indiana? E como irão os preços comportar-se?

A ideia da Europa é parar de alimentar o orçamento russo para a guerra que o Kremlin trava na Ucrânia. No entanto, os custos dos combustíveis, que já subiram bastante desde o início da guerra, poderão aumentar ainda mais – o que também penalizará o Velho Continente. Agora, a UE terá de procurar outros fornecedores de produtos refinados.

E de onde virá, por exemplo, o gasóleo? No ano passado, o bloco dos 27 importou perto de 700.000 barris por dia de diesel russo, volume que correspondeu a cerca de metade das suas necessidades deste produto. Agora, os fornecedores mais lógicos são países do Médio Oriente, como a Arábia Saudita, e Koweit, e talvez também a Índia e os EUA”, comentou à rádio NPR o diretor de análise de comercialização e refinação da S&P Global Commodity Insights, Hédi Grati.

Também a Rússia precisará de escoar os seus produtos, pois a China e a Índia não conseguirão absorver todo o excedente. Esses novos compradores poderão estar no Leste de África, Ásia e América Latina, considera Grati. Mas poderá não ser simples. “Com o boicote da UE, será mais desafiante para a Rússia encontrar compradores suficientes para compensar a procura europeia que vai deixar de existir”, sublinha Giovanni Staunovo, analista de “commodities” do UBS, num relatório a que o Negócios teve acesso.

E há mais variáveis no horizonte. É que, tal como sucedeu com os preços do crude em dezembro, a UE, o G7 e outros aliados, como a Austrália, definiram um tecto global para o preço a que compram os produtos petrolíferos refinados oriundos da Rússia – o que significa que esse “price cap” vai funcionar não só para as seguradoras europeias (que validam contratos de fornecimento e transporte), mas também para as empresas do Velho Continente que têm negócios neste setor fora da UE –, que deixam então de poder celebrar novos acordos que envolvam preços acima do estipulado.

O preço máximo acordado foi de 100 dólares por barril nos produtos petrolíferos premium, como a gasolina, e 45 dólares nos produtos como o fuelóleo. Já em relação ao crude, esse “cap” mantém-se nos 60 dólares por barril.

E como irão os mercados comportar-se? Perante estes cenários, a convicção mais ou menos generalizada é a de que o Brent do Mar do Norte – crude de referência para as importações europeias – irá superar de novo o patamar dos três dígitos. E não parece ser uma realidade longínqua. Giovanni Staunovo sublinha que a oferta irá ficar mais apertada nos próximos meses, também à conta da reabertura da China – que fará aumentar a procura. “Prevemos que o preço do Brent supere os 100 dólares por barril nos próximos meses”, refere o analista do banco suíço.

Também o Goldman Sachs aponta na mesma direção. O principal analista de matérias-primas do banco norte-americano, Jeffrey Currie, afirmou no domingo, à margem de um evento na Arábia Saudita, que a indústria petrolífera não está a investir o suficiente para garantir a produção futura – isto numa altura em que a capacidade disponível a nível mundial está a diminuir. Para Currie, citado pela Bloomberg, isto poderá mergulhar o mercado petrolífero num sério problema de falta de oferta no próximo ano. O analista antecipa mesmo que o Brent possa regressar aos 100 dólares ainda em 2023, quando a procura superar a oferta.

GIOVANNI STAUNOVO Analista de matérias-primas do UBS

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2023-02-07T08:00:00.0000000Z

2023-02-07T08:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281745568541688

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