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“Analisamos oportunidades de aquisição em Portugal”

Líder da unidade global de gestão de património, banca privada e seguros do Santander – que gere 395 mil milhões de euros de ativos – não afasta crescimento através de compras em Portugal, onde o negócio cresceu 30% desde 2019.

HUGO NEUTEL hugoneutel@negocios.pt

Víctor Matarranz lidera uma unidade que resultou do agrupamento, em 2017, das 10 gestoras de ativos do Santander que operavam de forma independente e desconectada nos vários países onde o gigante financeiro está presente. Em entrevista ao Negócios, afirma que Portugal é um exemplo para o grupo.

Há uma concentração no sistema financeiro. O contexto de inflação e abrandamento económico pode ter consequências neste movimento?

Essa tendência é um dos motivos pelos quais criámos a Santander Wealth Management & Insurance. Em vez de 10 unidades [nacionais] a gerir em média 300 milhões de euros cada uma, temos uma unidade que tem quase 400 mil milhões de volume. Na banca privada e na gestão de património a escala ajuda muito. Numa crise, os concorrentes de pequena dimensão têm mais dificuldade.

Portanto, há oportunidades para aquisições?

Exatamente, mas com concorrentes mais pequenos. Na banca em geral já sobram poucos assim, mas na banca privada e na gestão de património ainda existem pequenos concorrentes e pode haver oportunidades. Estamos sempre a olhar para oportunidades nas áreas onde queremos crescer.

Se uma oportunidade surgir em Portugal, o Santander vai analisá-la ou não está interessado em crescer dessa forma?

Analisamos oportunidades em todos os países, incluindo Portugal.

Qual é a contribuição de Portugal para o Santander Wealth Management & Insurance?

Portugal é um caso interessante, porque nos três negócios [ banca privada, gestão de património e seguros] temos conseguido fazer muita coisa. A banca privada de Portugal – e de todo o Santander – estava muito focada em dar um bom serviço aos maiores clientes. Evoluímos para um modelo no qual queremos trazer um grande valor acrescentado na gestão dos investimentos, e uma conectividade quando os clientes querem fazer investimentos globais, nas diferentes geografias do grupo. Portugal passou a ser muito focado em valor acrescentado, com a oferta de produtos internacionais e oportunidades de investimento. Mudámos a equipa, o Lourenço Vieira de Campos lidera a banca privada em Portugal e foi um artífice desta evolução. Desde 2019 o crescimento da banca privada do Santander em Portugal foi de 30%. É um país pequeno, mas tem um modelo muito interessante que pode ser exportado para países do grupo que ainda não passaram por esse processo. É um país que, como se diz em inglês, “punches above it’s weight”.

Como se explica este crescimento em Portugal?

Começámos a ocupar um espaço onde ao princípio não nos viam. Por exemplo, em 2017 não tínhamos produtos alternativos, nem de “private equity” nem outros. Não fazíamos uma gestão adaptada de forma específica aos grandes grupos familiares, e agora fazemos. Não tínhamos praticamente gestão individual dos investimentos, agora temos. Fomos ganhando a nossa posição.

E nos fundos?

Aconteceu algo semelhante. Tínhamos o Santander Asset Management Portugal, que trabalhava como uma ilha, ligámos a unidade a toda a operação europeia e conseguimos ter muito mais variedade e produtos internacionais. E assim fomos capturando o espaço que nos faltava. Os seguros são uma operação muito forte em Portugal. Quando olhamos para o grupo, Portugal é o quarto nos seguros. É uma contribuição maior, em termos relativos, do que a de outros países. Nos seguros, Portugal é um dos melhores exemplos do grupo.

Das três áreas, qual é aquela em que vê o maior desafio nos próximos anos?

A área dos fundos de investimentos vai ser mais complicada. Partimos de uma base pequena e ainda temos muita volatilidade e incerteza. Penso que em 2023 essa será a área mais complicada em geral e em Portugal também. 2022 foi um ano único, temos uma base de clientes relativamente conservadora, e neste ano pela primeira vez desde a década de setenta, tivemos uma situação em que o mercado estava a cair na taxa variável e na taxa fixa ao mesmo tempo. Foi muito difícil explicar isso a clientes conservadores, que esperam um rendimento fixo e de repente, havia quedas de 10% no mercado, não apenas connosco. Foi uma situação difícil que põe os clientes numa atitude muito defensiva. E essa incerteza ainda está aí. Na banca privada há mais ferramentas. E nos seguros é diferente, ainda estamos a contratar seguros de forma normal.

Qual é o perfil dos clientes portugueses? Poucos de grande dimensão, muitos de pequena?

Há uma mistura. Portugal não é muito diferente de outros países, em termos relativos. Não operamos nos países onde estão as grandes fortunas da banca privada. Temos uma banca privada mais fragmentada do que alguns concorrentes, com clientes mais pequenos, mas em maior número, ainda que em todos os países existam os grandes grupos familiares.

“A escala ajuda muito. Numa crise, os concorrentes de pequena dimensão têm mais dificuldade.”

“Portugal é um país que, como se diz em inglês, ‘punches above it’s weight.’”

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2022-10-07T07:00:00.0000000Z

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