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O ciclo das vacas magras

ARMANDO ESTEVES PEREIRA

OOrçamento do Estado para 2023 que no início da próxima semana irá ser apresentado na Assembleia da República é a verdadeira prova de fogo para o ministro das Finanças, mas é também a confirmação de mais um ciclo de vacas magras.

O ano de 2022 fica marcado por um histórico ataque ao rendimento das famílias provocado pela espiral de inflação, que começou nos constrangimentos provocados pelo apagão económico verificado na pandemia e foi acelerado com a guerra na Ucrânia e as sanções à Rússia, que ainda podem ter consequências maiores se a crise energética europeia se agravar no próximo inverno.

Em termos orçamentais, 2022 é um ano bom para o ministro, uma vez que a onda inflacionista associada ao crescimento económico causa um encaixe recorde de receitas e permitiu um histórico brilharete de um excedente robusto nos primeiros seis meses. Mas o efeito de aumento da receita vai esbater-se no próximo ano, até porque a economia vai sofrer uma aterragem brusca, havendo o perigo de a Europa cair em recessão.

Por outro lado, as despesas vão aumentar, quer por força da voragem inflacionista que vai continuar a sentir-se, quer por causa dos aumentos de salários e pelo aumento significativo das taxas de juro.

O Estado vai gastar mais e vai também aumentar o descontentamento social. Os aumentos de salários e de pensões significam um grande acréscimo na despesa, mas as famílias notam uma enorme perda de rendimentos.

Também com os juros a apertarem o rendimento de centenas de milhares de famílias com crédito à habitação, muita gente da classe média vai ter ainda mais dificuldade em esticar o rendimento até ao fim do mês.

Espera-se que parte deste aperto seja conjuntural. Há fatores externos que não dependem do Governo português, a começar pela guerra da Ucrânia, que enquanto não acabar será sempre um garrote económico para a Europa. Mas há outros fatores que dependem do Governo português e que têm se ser feitos, sendo o mais importante a necessidade de criar condições para um crescimento económico robusto, que livre o país e as famílias de quedas sistemáticas em crises profundas sempre que a conjuntura económica arrefece.

PRIMEIRA LINHA

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2022-10-07T07:00:00.0000000Z

2022-10-07T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281642489065688

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